A ILHA
Aportamos, enfim, na Ilha Tupinanbarana. É como chamam
aquela ilha em homenagem aos índios tupinambás que habitaram ali. A agitação
ainda rolava no barco. Aquela gente não parava nunca. Dançavam ao ritmo das
toadas. Da proa, debaixo de uns óculos escuros que escondiam minha cara batida
de ressaca, meus olhos fitavam preguiçosamente a cidade nos receber com fogos.
Duas enormes cabeças de bois – uma vermelha e a outra azul – saudavam os
visitantes na entrada da ilha. Pessoas desciam e subiam a rampa do barco. A lua
bruxuleante, ainda permanecia no céu daquela manhã acizentada e eufórica. O
Índio apareceu em seguida acompanhado do casal de paulistas. Chelsea também
usava uns óculos escuros e parecia mais fria, atraente e gostosa com aqueles
raibãs. O cara dela tinha um aspecto saudável e disposto. Nada parecia
derrubá-lo. Usava uma camisa havaiana reluzente e tirava algumas fotos da
frente da cidade.
“Como passou a noite, Mário Augusto?” Perguntou o
Índio sorridente e feliz. Disse-lhe que mais ou menos. Uma leve ressaquinha,
apenas. Descemos a rampa os quatro e ganhamos a rua agitada com as nossas
mochilas nas costas. O Índio que conhecia a cidade melhor do que eu, falou ao
casal que sabia de uma pousada que ficava algumas quadras dali. Fomos até lá.
Ainda havia vagas. Deixamos o casal na tal pousada. Não tínhamos como ficar ali
porque éramos pobres e o lugar extrapolava o nosso orçamento. Combinamos mais
tarde – após o almoço – voltar lá e pegar o casal para conhecer a cidade. Fomos
atrás de um lugar mais em conta. Encontramos um hotelzinho pulguento chamado
ordinariamente de Hotel Parintins. Ficava frente ao porto. Trinta a diária.
Subimos uns lances de escadas porque os quartos ficavam nos altos. Quarto
pequeno. A cama dura com molas. Uma janela apenas que se abria para a paisagem
do rio. Barcos chegavam ás pencas. Uma saraivada de fogos a cada embarcação que
chegava. A cidade em festa. Me estirei na cama dura e o Índio preferiu armar
sua rede. Depois ele deixou o quarto com elasticidade e eu aproveitei para ler
um pouco. Horas depois, ele me voltava gingando com uma garrafa de vodika
vagabunda e umas batatinhas da marca pringles. Deixei o livro de lado, fumamos
um preto e matamos aquela garrafa ali
mesmo, naquele quarto pequeno e vagabundo.
“Passei um fio para a ruiva. Ela tem uma voz rouca e linda,
cara! Vamos nos encontrar as seis na Bodega do Negão, atrás da Igreja Nossa
Senhora do Carmo.” Disse ele tomando um gole legal da vodika e passando a
garrafa para mim. Ficou ali falando dela. Entre uma golada e outra me peguei
pensando: o que uma ruiva daquelas vira
num cara idiota como aquele índio, OU MELHOR DIZENDO, o que um cara desses pode oferecer a uma
ruiva? Ou a qualquer mulher que seja. O cara era um idiota, mas eu também
era um idiota. O que nos diferenciava é que ele estava com mais sorte que eu.
Havia uma buceta esperando por ele, enquanto que eu não tinha absolutamente
nada. Havia a Chelsea, é bem verdade, mas eu não tinha alguma esperança de
meter o meu pau ali. Havia muita frieza embaixo daqueles raibãs que eu vira
pela manhã. Seguimos bebendo e fumando. Ás onze bateu a larica e saímos para a rua atrás de comida. Olhava a multidão
enquanto caminhava ao lado do Índio. Batia uma brisa morna. Parintins era uma
festa. Transpirava alegria. Logo aquele lugar ficaria intransitável. Um
inferno! As ruas planas, as avenidas tomadas de bicicletas, motos e triciclos
que me lembravam verdadeiras charretes modernas, me remetiama Bangladesh ou
algum outro país da índia. Algumas poucas arquiteturas antigas pareciam
resistir à modernidade. Coisa estranha é Parintins. Estranha e aparentemente
doce. Mais estranho ainda era o que iriámos encontrar lá. Vejamos. Forramos a
nossa barriga em um pequeno restaurante onde comemos um delicioso peixe. Depois
fomos ao encontro do casal na tal pousada. Animados, eles já nos aguardavam na
recepção. Passeamos de triciclos pela cidade. O sol queimava com todo seu
entusiasmo. Visitamos museus, bibliotecas, lojas de artesanatos. Na Igreja
Nossa Senhora do Carmo, ao menor descuido de Marcos, dei em cima de Chelsea
outra vez, mas ela fugia às minhas investidas, deixando sempre escapar um
sorriso malicioso naquele seu rosto lindo que dizia, avança, seu escroto! Um jogo. Ela fazia seu jogo. Uma espécie de
masturbação mental. Chelsea era o tipo de mulher que gostava de ver você
sofrendo. Numa enforcação de Judas. Pois bem. Prosseguimos?
VI – FODA DE BANHEIRO
As cinco sugeri que
parássemos para beber algo. O calor era por demais. Encontramos a tal da Bodega
do Negão. Sentamos e esperamos o Negão nos servir. Tocava uma toada alegre.
Marcos tirou fotos do lugar. Não perdia nenhum detalhe. A garota dele tinha um
rosto vermelho por causa do sol. Um narizinho de rena. Os óculos escuros
estavam sobre a cabeça e ela parecia mais elegante e sensual com aqueles óculos
escuros sobre a cabeça que prendiam seus cabelos castanhos claros. Esperamos o
Negão aparecer. Dali há instantes, um figura escuro, baixo, atarracado – fortes
traços indígenas - veio com as cervejas depois que eu fiz o sinal com os dedos.
Nos serviu a cerveja. Tudo era calmo. Eu ainda não via o Negão.
“Cadê o Negão?” Perguntei ao figura.
“Sou eu mesmo, chefia.” Respondeu o figura atarracado.
Eu esperava encontrar um negão imenso. A placa de madeira dizia muito
claramente em letras garrafais e bem entalhada: Bodega do Negão.O figura foi
servindo as cervejas. Ela chiava alegre caindo nos nossos copos. Brindamos.
Mais tarde, foi que percebi que o cara era fã do Chico. Não o Buarque, mas o da
Silva. Todo o interior da bodega era enfeitado por posters, fotografias e cds
pendurados do tal cantor e eu não havia notado isso logo que chegamos ali.
Quando ele veio nos trazer a outra cerveja, disse a ele:
“Poxa, você é fã mesmo do Chico, hein?”
“Chico é Deus, moço!”
“Ah, então eu entendi. O Negão é o Chico.”
“Não, moço, o Negão sou eu mesmo.” Disse ele. Colocou
uma canção antiga do Chico. Uma que dizia: “Você
amigo pandeiro, parece absurdo, apanha por tudo, ninguém canta samba sem ele
apanhar...” Foram chegando mais gente na Bodega.Turistas de todas as
partes. Seguimos alegres virando os nossos copos. Marcos falava com
desenvoltura. Havia se informado que não precisaríamos mais pegar um barco ou
uma voadeira rio abaixo para entrarmos em contato com os índios, pois que havia
uma comunidade deles na zona leste, em um bairro chamado Mocambo - além da
linha imaginária que corta a cidade. “Mas cuidado com eles, disse o Negão
ouvindo um fiapo da conversa, não são confiáveis. São índios arredios, costumam
aprontar e podem causar mal a vocês.” Foi o que o Negão nos falou. Botei fé no
Negão, mas Marcos pareceu não crer muito, não. Não podia ser. Defendeu-os
dizendo que os índios tinham uma natureza pacífica, os homens é que os tornam
maus. Não tirei sua razão rousseauniana, mas o momento era outro, a história
era outra e eu não queria arriscar o meu rabo. Teimou. Queria porque queria ir
lá. Tirar fotos da tribo. Falar com o grande Tuxaua. Falava agora como um
antropólogo de verdade querendo explicar os quinhentos anos de escravidão
indígena. As pernas brancas de Chelsea enroscaram-se nas minhas. Aquilo era um
sinal ou quê? Fui gostando daquilo. De sentir o calor do seu toque malicioso.
Respondi ao toque dela. Ela soltou um risinho. Flertávamos. O meu pau ficou
duríssimo. Senti-o querendo furar minhas calças. O celular do Índio vibrou. Era
Virna, a ruiva:
“Vai vir para cá. Está de preto, um piercing na língua
e uma tatuagem de serpente nas costas. Não é estranho tudo isso? - ÍNDIO
PENSANDO COÇANDO AGORA SEU QUEIXO LONGO E ASSIMÉTRICO.
“O que é estranho?” Perguntei.
“Ela não me falou desses detalhes, digo, o piercing e
a tatuagem...”
“E daí?”
“Achei que ela fosse, saca, tipo... não tão, saca,
digo, avançadinha... um tipo mais, moderada de mulher...”
“E porque ela usa esses adereços não quer dizer que
ela não seja um tipo moderada de mulher?” Indagou Chelsea já a par do dilema do
Índio. “E o que é um tipo moderada de mulher? Vocês homens, francamente...”
Depois, sorrindo, voltou a enroscar suas pernocas nas minhas. Aí então ela se
levantou e foi ao banheiro. Usava saia jeans justíssima – já ia quase
esquecendo esse detalhe importante. Marcos seguia tentando explicar agora ao
falso negão que a escravidão no Brasil não fora abolida. E isso incluía Índios
e negros. O falso negão prestava agora muita atenção nele. O Índio esfregava
suas mãos. Na terceira vez que Chelsea se encaminhou ao banheiro, não resisti e
a segui. Não podia ser. Aquilo era um sinal. Respirei fundo. Já estava ficando
mais animado e corajoso com o álcool. Abri a porta daquele banheiro feminino e
entrei. Banheiro feminino me dá tesão. Dei com ela dando suas cafungadas de
praxe. Não perdia a oportunidade. Era uma cocainômana nata. Dessa vez eu a
agarrei. Encostei ela na parede. Ela pegou minhas bolas. Apertou meu pau e me
beijou a boca. Tinha uns lábios bem vermelhos. O narizinho de rena. Senti que
podia foder ela ali mesmo naquele banheiro. O que há de errado com o sexo? Não
me importava o seu cara. Não me importava o mundo. Foda-se Platão, Aristóteles,
Deus. Foda-se a Ética a Nicômaco. Todo prazer é um bem e a vida é uma buceta
bem quente. Jovem. Carnuda!“ Vamos, não temos a tarde toda, Mário!” Ela disse.
Levantei sua saia. Ficou com uma das pernocas suspensa, apoiada nas bordas do
vaso sanitário. Eu vi suas pequenas veinhas azuis aparecerem querendo saltar de
suas imensas coxas brancas. Meti naquela posição. Meti bem fundo. Ela me beijou
o pescoço. Mordeu-me a orelha. Era linda. Gostosa. Um hálito bom. Meu pau
inflou duas vezes mais que o habitual. Parecia um demoniozinho feliz e peralta
entrando e saindo daquela gruta branca e suculenta. “Enfia! Enfia!” Dizia ela
me puxando mais para dentro dela. Começou a gemer alto. Tapei-lhe a boca. Podia
ferrar com nós dois. Minhas pernas tremeram. Cederam um pouco, sim. Quando
sentia que ia gozar, recuava as estocadas. Ela dizia pra não parar. “Não pare
seu puto!” Ela dizia. Tinha que ser rápido. Por mim, ficaria ali dentro o resto
da tarde, só metendo. Mas tinha que ser rápido. Vivemos uma época apressada.
Fui metendo nela com heroísmo. Ela aguentava com bravura. No seco. Na tora. O
pau escapulia. Cuidava de metê-lo de volta. Ela era um pouco mais alta que eu.
Corpulenta. Apertadinha. Aquilo dificultava um pouco. Foda de banheiro.
Enquanto metia nela, tive uma recaída proustiana. Chamava-se Dolores e
desfilava seu corpo ardente e tesudo naquele finalzinho de tarde frente ao
Relógio da Igreja Matriz - não me recordo o ano, mais faz tempo. Mulata. Usava
um vestido curto, florido. As coxas bem á amostra. Uma flor amarela no cabelo.
Um perfume ordinário de puta. Não era uma visão normal. Não podia ser. Parecia
ter saído de um romance de Jorge Amado na sua melhor pegada. Paguei a cerveja e
a segui de pau duro. Ela parou numa barraca de camelô e checou algumas
calcinhas de lacinhos. Aquilo fez bater forte o coração do meu pau. Parei ao
lado dela. “Essa aí com certeza ficará uma gracinha em você.” Disse aquilo sem
muita esperança. Ela me olhou e sorriu. Escolheu a que eu falei: vermelha, cor
de sangue. Paixão. Desejo. Guardou-a num saquinho e o atirou nos ombros e saiu
rebolando provocativa como uma Deusa Exu. Emparelhei-me a ela. Ouvimos uns
assobios dos vendedores ambulantes. Ela ia na direção do porto. Ah, aquela rosa
amarela no cabelo, aquele cheiro de puta...Passou pelo prédio da alfândega e
seguiu na direção do Bar Castanhola, bem ao lado do Mercado Municipal. Eu ia
atrás dela feito um cachorro guiado pelo seu feromônio. “Posso te pagar uma
cerveja?” Ela apontou com o beiço para uma mesa. Sentamos. Eu disse, “ahhhh...”
As pessoas no bar olharam porque ela era uma morena muito gostosa e eu era todo
orgulho. Aquela flor no cabelo. Aquele seu perfume ordinário. Bebemos cerveja.
Ela falava muito pouco. Mas prestava uma atenção. PERGUNTEI-LHE O NOME: DO-LO-RES. A língua
dela deu uma volta no céu da boca desenhando o nome, lembrando-me Lo-li-ta, do
Nabucov. A noite veio luxuriante feito uma buceta de fogo, então ela me disse:
“Vem comigo!” Ela entrou no banheiro feminino e eu entrei atrás. Um banheiro
sujo. Fedido. Ela me apertou o pau e levantou o vestidinho florido. Tinha uns
peitos grandes e não usava nada por baixo daquele seu vestidinho de tecido
fino. A porta de madeira não fechava direito. Forcei a porta com a perna
direita, me apoiando ao chão com a esquerda, de modo que fiquei numa posição
bastante esdrúxula, imaginem – E NUM ESFORÇO QUASE SOBRE-HUMANO, me enfiei
dentro daquela buceta mulata. Foi a foda mais estranha da minha vida. Gozamos.
Custamos a nos desenganchar porque tenho priapismo, e ás vezes ele me fode a
vida. Mais falo disso mais tarde. Dessa vez não houve nada. Ela apenas me
beijou a boca e saiu na frente. Trocamos telefone e ela me pediu emprestado R$
50 reais até amanhã, quando me prometeu um novo encontro. Dei-lhe os cinquenta.
Eu estava bem. Empregado. Ela não demorou muito ali e se foi rebolando com a
rosa amarela no cabelo. O seu cheiro ficando com a promessa de um novo
encontro. Na manhã do dia seguinte, me senti bastante mal. Senti um ardume
escroto enquanto urinava. Quase gritei. Era como se houvesse formigas de fogo
preparando um grande motim dentro do meu canal urinário. Corri à farmácia e o
farmacêutico me aplicou dois benzetacils no braço. Uma parte do meu corpo
tombou para o lado. Medicação forte. “Mato essa filha da puta!” Nunca me ligou.
Nunca mais a vi. Banheiro outra vez. Chelsea sussurrava: “Quero que esse pau
more aí dentro pra sempre, seu cachorro!” Aí então chegamos lá juntos. Como se
houvéssemos cronometrado aquela foda fantástica. Foda de banheiro.
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