A VIAGEM
Ao meio dia da manhã seguinte, já estávamos á bordo do
San Marino com destino á Parintins. Um barco enorme de três andares, abarrotado
de gente em razão da festa do boi. Atámos ás nossas redes em meio a um
emaranhado de outras redes que ficavam umas por sobre as outras formando uma
grande teia colorida de casulo humano. O Índio armou a sua rede bem ao lado da
minha. Encostadinho. Olhei o barco se afastando do Rodway e depois fui me
deitar em minha rede. Saquei Emile Zola do fundo da bolsa. Revisitava um velho
ensaio seu sobre o naturalismo. Aquela altura eu me sentia um autentico
naturalista e andava atrás da minha expressão pessoal. Todo escritor precisa
encontrar sua expressão pessoal, e eu achava que Zola podia abrir caminhos. O
Índio sacou uma garrafinha de corote me
oferecendo um trago, depois ele me deu um `prensadinho’ para fumar mais tarde e
desandou a tagarelar novamente sobre as expectativas do tal encontro com a
ruiva. Aquilo já começava a inflar meus colhões. Começou a chover e as lonas
laterais do barco foram baixadas. Mergulhei numa tristeza chata: uma espécie de
solidão com gosto de fruta azeda. Afastei toda aquela melancolia besta e tirei
um cochilo. Á noitinha, durante a janta esbarrei sem querer em uma bela jovem,
branquinha, suculenta: ares do sul. Pedi desculpas e ela sorriu maliciosa e se
afastou com seu prato de comida. Aquela imagem ficou um tempão na minha cabeça.
Depois, subi para a parte superior do barco atraído que fui pela enorme
agitação que rolava lá em cima, saquei o ‘prensado’ do bolso e me pus a fumar
de leve na amurada do barco contemplando o negrume do rio. Sentia seu cheiro. A
brisa leve e doce me lambendo o rosto. O barco singrando o lado esquerdo do rio
beirando as margens. As árvores, bem ao alcance dos olhos, assemelhavam-se às
formas de enormes pássaros e quelônios gigantes copulando. Me tocava para essas
formas lúdicas da natureza. Dei um tapa em minha alma simbolista, matei o
‘prensadinho’ e fui ao bar comprar uma latinha de cerveja que botei na conta do
Índio. Sentei, e mais relaxado agora, pensei enquanto bebia: “O quê que eu tô
fazendo aqui, afinal? Atrás de um pouco de aventura, ora. Não era isso que
buscavas?” Respondeu o meu duplo. Este outro cara que habita em mim. Eram quase
oito da noite. O Índio apareceu todo encasacado por causa do frio. Sentou ao
meu lado com os braços cruzados:
“Pensando em que, escritor?”
“Em nada, cara. Só imaginando o porquê que estou aqui,
e para onde eu estou indo, só isso.” Ele esfregou as mãos e me disse:
“Relaxa e goza! Amanhã bem cedo estaremos chegando.
Ligarei para a ruiva avisando que estamos em terra. Quero fazer uma surpresa,
cara!”
Nesse instante ouvimos um clic de uma máquina
fotográfica profissional.Um casal batia fotos da gente. A garota eu conhecia.
Eraa mesma que havia esbarrado em mim lá embaixo durante a janta. Fiquei mais
alegre. Se aproximaram:
“Boa noite! Meu nome é Marcos e esta é Chelsea, minha
noiva. Sou estudante de antropologia e Chelsea de cinema. Estamos produzindo um
curta sobre os índios da Amazônia. Com todo respeito, mas não pude deixar de
observar as têtas do seu amigo. A que etnia ele pertence?”
“Ele é um Baniwa. Mas fica muito zangado quando alguém
pergunta sobre suas têtas.” Eu disse. Pediu desculpas e sentou com a gente
explicando tudo. Não vou descrever todo o diálogo. Vamos pulando. O fato é que
pareciam uns tipos legais. Estavam entusiasmados com a ideia do curta e
encantados com a Amazônia. Havia um certo brilho no rosto redondo de Chelsea. O
corpo dela, o sorriso, a bunda; tudo nela me provocava uma ereção boa. Começava
a gostar da viagem. O casal nos pagou cervejas e nos serviu umas paradinhas de
pó. Curtiam uma rainha branca. Queriam
saber um pouco mais do lugar que iriam conhecer. Eram de São Paulo. Jovens. Da
USP. Tipinhos legais. Estavam ali para estudar os índios Parintintins. Acreditavam
tolamente que iriam encontrar índios vivendo harmoniosamente em paz em suas
comunidades ou aldeias. Homens ocupados na feitura do guaraná e as mulheres no
preparo da farinha de mandioca. Tudo na mais perfeita comunhão indígena. É o
que todos esperam encontrar quando vem para a Amazônia: UMA VITRINE DO PARAÍSO
VERDE. Pura utopia, eu lhes digo. Os índios estavam saindo de seu habitat
natural para morrerem fodidos na capital; esquecendo quem eles eram. Eu
convivia com isso diariamente. Via pela televisão. Lia nos jornais. Via pelas
ruas de Manaus, índios esquizofrênicos sucumbirem em pleno calor da zona
franca, despejados, levando bordoadas dos canas e vivendo às margens das
rodovias em abrigos de lona. Esta é a cena real. Mas não quis cortar o barato
deles. O barco seguia viagem pelas entranhas do rio. A gente ali bebendo e
cheirando sem parar no meio de toda aquela zorra. Aproveitava o descuido do
carinha para impressionar a sua garota. Ela já estava bem animadinha com as
cervejas e com o pozinho. Cheirava mais que ele. Pelas tantas, disse que era
escritor e expliquei o real motivo de nossa viagem, inventando a história de
que aproveitaria a ocasião para escrever um livro. Queria impressioná-la. Ela
engoliu. Íamos no embalo do álcool e do pó. A certa altura, ou minha visão
estava ficando distorcida por causa da cerveja e da poeira ou ela me dava um tremendo mole. Presumindo a veracidade dos
fatos (que ela estava mesmo me dando mole)
arriscava a pegar na sua mão enquanto seu carinha ia pegar mais cervejas.
Constatei a verdade. A sacana me dava bola, sim. Dizia com os olhos pra eu
seguir. Cogitei que havia algo de errado com o seu carinha. Marcos tinha boa
pinta. Houve um momento em que ela cruzou as pernas brancas e grossas bem alto
segurando a latinha de cerveja com extrema elegância, e eu pude ver uma nesga
de sua calcinha vermelha aparecer. A lua, as estrelas, o rio... No cu! Vou dar é em cima dessa garota. Decidi.
O cara dela era distraído demais, e o Índio só tinha cabeça para o encontro com
atal da ruiva. Mas naquela noite não deu em nada minhas investidas. Ela
sentiu-se enjoada com o balanço do barco e foi ao banheiro vomitar. Fui no seu
rastro:
“Ei, você não pode entrar aqui, tá maluco?” Disse
aquilo doidona, rindo. Fechei a porta do banheiro feminino e tentei agarrá-la:
“Se eu não transar, enlouqueço.” Ela soltou um jato de
vomito em cima de mim. Levou as mãos na cabeça desesperada e começou a rir da
situação. Pediu-me mil desculpas rindo sem parar. Era linda e muito cruel
rindo.
Esquenta, não! Esquenta, não!” Broxei. Voltei para
minha rede. Dormi com pau na mão pensando em Chelsea. Associava o nome dela com
a buceta. Sempre há uma combinação infalível do nome com a buceta. Tipo, Vivi,
Marcinha, Danizinha, Karolzinha... Mas o nome dela era Chelsea. Chelsea, Chelsea, nome de buceta. Buceta
Chelsea! Quanta magnitude! Chelsea, Chelsinha, que bonitinha. Aproximei o
nomezinho dela para junto da sua caverninha. Ficaram ali bem juntinhas, nome e
pessoa combinando. “Mostra a Chelsinha,
mostra, mostra, amor, mostra!!”
Não deu outra. No sonho molhado que tive naquela mesma
noite, ela me exibia sua bucetinha rosadinha. Chamava-me com o indicador
lembrando Pamela Andrews no “Quanto Mais Duro Melhor I, II e III. No sonho, eu
rastejava até lá pondo meu nariz bem na entrada da sua gruta. Ficava ali
cheirando. Tinha um cheiro gostoso. Santificado. Quando me preparava para
morder a fruta, a buceta ganhava uma forma viva e pulava ao chão escondendo-se
debaixo da cama; pelos cantos do quarto. “Vem cá amorzinho, vem!” Procurava a
bucetinha fujona pelos quatros cantos do quarto. Ela se escondia. Ouvia seus
risinhos. Aquilo me deixava louco. Quando eu a pegava, ela gritava e
esperneava, protestando:
“Você vai apanhar de chinelo, Mário Augusto!” Dizia.
Sabia que eu era um sujeito doente e pervertido. Todas as bucetas sabem. Apertava-a
com tanta força que acabava asfixiando-lhe. Merda! Atirava a buceta morta
dentro de um saco no banheiro, batia uma punheta e ia dormir. Over! Fim do
sonho. Nunca consegui entender meus sonhos jungianos. Eram todos assim:
doentios, absurdos. E nunca davam certos. Nunca.
este foi um capítulo junkie... muita cerveja, o prensadinho e a rainha branca. tá ficando legal mário augusto
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