domingo, 9 de junho de 2013

A RUIVA - PARTE V





           A VIAGEM

Ao meio dia da manhã seguinte, já estávamos á bordo do San Marino com destino á Parintins. Um barco enorme de três andares, abarrotado de gente em razão da festa do boi. Atámos ás nossas redes em meio a um emaranhado de outras redes que ficavam umas por sobre as outras formando uma grande teia colorida de casulo humano. O Índio armou a sua rede bem ao lado da minha. Encostadinho. Olhei o barco se afastando do Rodway e depois fui me deitar em minha rede. Saquei Emile Zola do fundo da bolsa. Revisitava um velho ensaio seu sobre o naturalismo. Aquela altura eu me sentia um autentico naturalista e andava atrás da minha expressão pessoal. Todo escritor precisa encontrar sua expressão pessoal, e eu achava que Zola podia abrir caminhos. O Índio sacou uma garrafinha de corote me oferecendo um trago, depois ele me deu um `prensadinho’ para fumar mais tarde e desandou a tagarelar novamente sobre as expectativas do tal encontro com a ruiva. Aquilo já começava a inflar meus colhões. Começou a chover e as lonas laterais do barco foram baixadas. Mergulhei numa tristeza chata: uma espécie de solidão com gosto de fruta azeda. Afastei toda aquela melancolia besta e tirei um cochilo. Á noitinha, durante a janta esbarrei sem querer em uma bela jovem, branquinha, suculenta: ares do sul. Pedi desculpas e ela sorriu maliciosa e se afastou com seu prato de comida. Aquela imagem ficou um tempão na minha cabeça. Depois, subi para a parte superior do barco atraído que fui pela enorme agitação que rolava lá em cima, saquei o ‘prensado’ do bolso e me pus a fumar de leve na amurada do barco contemplando o negrume do rio. Sentia seu cheiro. A brisa leve e doce me lambendo o rosto. O barco singrando o lado esquerdo do rio beirando as margens. As árvores, bem ao alcance dos olhos, assemelhavam-se às formas de enormes pássaros e quelônios gigantes copulando. Me tocava para essas formas lúdicas da natureza. Dei um tapa em minha alma simbolista, matei o ‘prensadinho’ e fui ao bar comprar uma latinha de cerveja que botei na conta do Índio. Sentei, e mais relaxado agora, pensei enquanto bebia: “O quê que eu tô fazendo aqui, afinal? Atrás de um pouco de aventura, ora. Não era isso que buscavas?” Respondeu o meu duplo. Este outro cara que habita em mim. Eram quase oito da noite. O Índio apareceu todo encasacado por causa do frio. Sentou ao meu lado com os braços cruzados:
“Pensando em que, escritor?”
“Em nada, cara. Só imaginando o porquê que estou aqui, e para onde eu estou indo, só isso.” Ele esfregou as mãos e me disse:
“Relaxa e goza! Amanhã bem cedo estaremos chegando. Ligarei para a ruiva avisando que estamos em terra. Quero fazer uma surpresa, cara!”
Nesse instante ouvimos um clic de uma máquina fotográfica profissional.Um casal batia fotos da gente. A garota eu conhecia. Eraa mesma que havia esbarrado em mim lá embaixo durante a janta. Fiquei mais alegre. Se aproximaram:
“Boa noite! Meu nome é Marcos e esta é Chelsea, minha noiva. Sou estudante de antropologia e Chelsea de cinema. Estamos produzindo um curta sobre os índios da Amazônia. Com todo respeito, mas não pude deixar de observar as têtas do seu amigo. A que etnia ele pertence?”
“Ele é um Baniwa. Mas fica muito zangado quando alguém pergunta sobre suas têtas.” Eu disse. Pediu desculpas e sentou com a gente explicando tudo. Não vou descrever todo o diálogo. Vamos pulando. O fato é que pareciam uns tipos legais. Estavam entusiasmados com a ideia do curta e encantados com a Amazônia. Havia um certo brilho no rosto redondo de Chelsea. O corpo dela, o sorriso, a bunda; tudo nela me provocava uma ereção boa. Começava a gostar da viagem. O casal nos pagou cervejas e nos serviu umas paradinhas de pó. Curtiam uma rainha branca.  Queriam saber um pouco mais do lugar que iriam conhecer. Eram de São Paulo. Jovens. Da USP. Tipinhos legais. Estavam ali para estudar os índios Parintintins. Acreditavam tolamente que iriam encontrar índios vivendo harmoniosamente em paz em suas comunidades ou aldeias. Homens ocupados na feitura do guaraná e as mulheres no preparo da farinha de mandioca. Tudo na mais perfeita comunhão indígena. É o que todos esperam encontrar quando vem para a Amazônia: UMA VITRINE DO PARAÍSO VERDE. Pura utopia, eu lhes digo. Os índios estavam saindo de seu habitat natural para morrerem fodidos na capital; esquecendo quem eles eram. Eu convivia com isso diariamente. Via pela televisão. Lia nos jornais. Via pelas ruas de Manaus, índios esquizofrênicos sucumbirem em pleno calor da zona franca, despejados, levando bordoadas dos canas e vivendo às margens das rodovias em abrigos de lona. Esta é a cena real. Mas não quis cortar o barato deles. O barco seguia viagem pelas entranhas do rio. A gente ali bebendo e cheirando sem parar no meio de toda aquela zorra. Aproveitava o descuido do carinha para impressionar a sua garota. Ela já estava bem animadinha com as cervejas e com o pozinho. Cheirava mais que ele. Pelas tantas, disse que era escritor e expliquei o real motivo de nossa viagem, inventando a história de que aproveitaria a ocasião para escrever um livro. Queria impressioná-la. Ela engoliu. Íamos no embalo do álcool e do pó. A certa altura, ou minha visão estava ficando distorcida por causa da cerveja e da poeira ou ela me dava um tremendo mole. Presumindo a veracidade dos fatos (que ela estava mesmo me dando mole) arriscava a pegar na sua mão enquanto seu carinha ia pegar mais cervejas. Constatei a verdade. A sacana me dava bola, sim. Dizia com os olhos pra eu seguir. Cogitei que havia algo de errado com o seu carinha. Marcos tinha boa pinta. Houve um momento em que ela cruzou as pernas brancas e grossas bem alto segurando a latinha de cerveja com extrema elegância, e eu pude ver uma nesga de sua calcinha vermelha aparecer. A lua, as estrelas, o rio... No cu! Vou dar é em cima dessa garota. Decidi. O cara dela era distraído demais, e o Índio só tinha cabeça para o encontro com atal da ruiva. Mas naquela noite não deu em nada minhas investidas. Ela sentiu-se enjoada com o balanço do barco e foi ao banheiro vomitar. Fui no seu rastro:
“Ei, você não pode entrar aqui, tá maluco?” Disse aquilo doidona, rindo. Fechei a porta do banheiro feminino e tentei agarrá-la:
“Se eu não transar, enlouqueço.” Ela soltou um jato de vomito em cima de mim. Levou as mãos na cabeça desesperada e começou a rir da situação. Pediu-me mil desculpas rindo sem parar. Era linda e muito cruel rindo.
Esquenta, não! Esquenta, não!” Broxei. Voltei para minha rede. Dormi com pau na mão pensando em Chelsea. Associava o nome dela com a buceta. Sempre há uma combinação infalível do nome com a buceta. Tipo, Vivi, Marcinha, Danizinha, Karolzinha... Mas o nome dela era Chelsea. Chelsea, Chelsea, nome de buceta. Buceta Chelsea! Quanta magnitude! Chelsea, Chelsinha, que bonitinha. Aproximei o nomezinho dela para junto da sua caverninha. Ficaram ali bem juntinhas, nome e pessoa combinando. “Mostra a Chelsinha, mostra, mostra, amor, mostra!!”
Não deu outra. No sonho molhado que tive naquela mesma noite, ela me exibia sua bucetinha rosadinha. Chamava-me com o indicador lembrando Pamela Andrews no “Quanto Mais Duro Melhor I, II e III. No sonho, eu rastejava até lá pondo meu nariz bem na entrada da sua gruta. Ficava ali cheirando. Tinha um cheiro gostoso. Santificado. Quando me preparava para morder a fruta, a buceta ganhava uma forma viva e pulava ao chão escondendo-se debaixo da cama; pelos cantos do quarto. “Vem cá amorzinho, vem!” Procurava a bucetinha fujona pelos quatros cantos do quarto. Ela se escondia. Ouvia seus risinhos. Aquilo me deixava louco. Quando eu a pegava, ela gritava e esperneava, protestando:
“Você vai apanhar de chinelo, Mário Augusto!” Dizia. Sabia que eu era um sujeito doente e pervertido. Todas as bucetas sabem. Apertava-a com tanta força que acabava asfixiando-lhe. Merda! Atirava a buceta morta dentro de um saco no banheiro, batia uma punheta e ia dormir. Over! Fim do sonho. Nunca consegui entender meus sonhos jungianos. Eram todos assim: doentios, absurdos. E nunca davam certos. Nunca.

Um comentário:

  1. este foi um capítulo junkie... muita cerveja, o prensadinho e a rainha branca. tá ficando legal mário augusto

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