Eu sei. Sou um espírito porco bebendo nesse chiqueirinho de
merda. Mas tenho lá minhas razões que são óbvias e francas. A garçonete sem
calcinha. É ela a causa de todo meu sofrimento e torpor. Deste meu eczema. Imaginem
que ela tem um rosto infantil e uma nádega boa. E a impressão que me dá é que
ela nunca usa calcinha. Faça frio ou calor. Sol ou chuva. Tenho quase a certeza
disso. A garçonete está nua! E se porventura, ela assim o faz, é somente para
me provocar porque é evidente que ela sabe que sou um homem ordinário e doente.
É natural que o senhor estranhe este meu comportamento. Este meu desvario. Mas
devo prosseguir. Reparem agora que levo o copo devagar à boca que até sinto
meus dentes trincarem na borda de vidro. Como se o mordesse, o que na verdade o
faço. Tenho esse costume de morder as bordas do copo. Mas é impressão minha ou
as bordas desse copo me ferem os lábios? Sinto-os sangrar. Pedirei pra
garçonete trocar. Assim eu a sinto mais próxima de mim. O seu cheiro. Ela se
diverte com minha presença nesse chiqueirinho insalubre. É natural que o senhor
estranhe. Mas é que a feiúra destes outros velhos em minha volta é que me dói.
(Tusso). Todavia, eles tem o direito de vir aqui e sonhar com a garçonete sem
calcinha. Masturbam-se. Desejam-na. Há em tudo isto, um mistério insondável. A
do desejo platônico das paixões que dominam as nossas almas passivas. Se
prestarem bem atenção, o velho a minha esquerda pressiona devagar seu músculo
morto enquanto bebe sua cerveja. Vive no mundo da fé. Nos ensinaram a ter fé. A velhice é imoral. É uma
besta de canino careado e esquecida em um bar sórdido. Levo novamente o meu
copo à boca. Assim, bem devagar. Apreciem. Sempre que faço isso, um novo desejo
me aflora. Como uma margaridinha sem anáguas. Vou me perdendo em meus devaneios
líquidos. Mas a gente se perde que é pra se encontrar. Eu me encontro no fundo
do que sou. Esta superfície lisa e plana. Ela agora sorri pro flanelinha que
tem um membro rijo e uns peszinhos tortos. Mas não é disso que quero falar. Mas
do seu cheiro. Byron chamaria isto de instinto leviano da nobreza. Seja o que
for, da pele emana o cheiro. Um cheiro que entorpece. Que alucina. Cheiro sujo.
A garçonete não tem cor. Desço levemente o copo sobre a mesa. Nada do que somos
é uma verdade inteira. A nossa mentira é que são os nossos valores mais nobres.
Mentira! Mas por que isso agora? Voltamos ao cheiro que emana de sua pele. Um
azedume bom. (Tusso outra vez, que raios!) Um azedume bom, eu disse. Venho só
para ver o seu corpo moreno suado no calor destas tardes febris de agosto infindável e sonhar.
Suas omoplatas ondulantes que saltam sobre a pele reluzente. O sal das axilas. O corpo
transpirante de prazer. O azedume de tudo. Penso que se ela se inclinasse mais
um pouquinho só que seja enquanto limpa as mesas com seu paninho fedido, daria
certamente para ver se neste dia, ela estaria ou não usando calcinha. Mas é
certo que não está. A garçonete está nua! Faça chuva ou sol. Calor ou frio. Ela
vai estar sempre nua. Vem trabalhar sem calcinha. Engulo a prece. A vida passa
devagar como a sombra de um boi. Espero um dia ela inclinar-se para ver melhor.
Mas enquanto isso, ela me sorri de lá. Abaixem a cortina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário