sexta-feira, 31 de maio de 2013

ÚLTIMA CENA



UMA VELA PARA MINHA NOVELA

- três dessa manhã longa-interminável com você escondidinho debaixo do edredon socando uma punhetinha bem legal ao lado de sua esposa que dorme enquanto você constrói imagens loucas na sua cabeça que não deve revelar a ninguém de tão sagradas que são enquanto suas mãos fecham-se pra valer em volta de seu membro super duro que sente crescer dentro cada vez mais das suas mãos bem fechadas - uma punheta avançada para seu cérebro acompanhar e seja como for o sangue circula sem parar bombeando os músculos do primitivismo funcional onde você implementa uma política saudável para o corpo e mente e o ritmo frenético que imprimes agora COMO TODA A PUNHETA SAGRADA DO MUNDO – AH, A MASTURBAÇÃO, e você todo esse tempo com preguiça demais para tocar uma punhetinha pensando em coisas adequadas demais e que portanto acaba privando-se yourself do delicioso auge de deixar a porra jorrar tranquilamente de dentro de seu tubogã de couro, VIRGULA? E NÃO SE ENVERGONHE AGORA DIANTE DE MIM, POR ISSO PUXE NESSE INSTANTE O SEU PAU PRA FORA E MASTURBE-SE COM SUAVEMÊNCIA, aham, isso, mas-tur-be-semas-tur-be-se – mas-tur-be-semas-tur-be-semasturbe-se masturbe-se MASTURBE-SEMASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTUBE-SE, <UMA PÁGINA INTEIRA DE MASTURBAÇÕES GLORIOSAS COMO UM TREM DESCARRILADO SEM PASSAGEIROS> - e a medida que você sente se aproximando uma grande onda elétrica DE SÊMEN DOURADO COM OS ANJOS DO SENHOR SURFANDO NELA e é só relaxar e mirar agora na direção da parede mais próxima do seu quarto e, AHHHH CARALHO!!! SINTA TODO ESTE JORRO SAGRADO SAINDO DE DENTRO DE MIM E DE VOCÊ QUE SOMOS AGORA UMA UNIDADE, e shhhhhhhhhhhh... vá fechando seus olhos bem lentamente devagar assim e pronto, volte a dormir bem lentamente devagar assim e shhhhhhhhhh...
 >e este capítulo ficou maneiro comigo dentro de você que me permitiu penetrá-lo com suavemência, pois nâo?<
UMA VELA PARA MINHA NOVELA – e agora sim, meu Deus, me sinto bem disposto nessa manhã de quarta-feira com minha mente desperta e com esta frase de neon piscante ainda acessa piscando FRIAS VELAS DE NEON ACESSAS DA MENTE e meus dedos fibrosos incontrolável mente sobre estas teclas nesta viagem louca e incansável mente em que os semáforos mudam a toda hora de tom na minha cabeça LETREIROS DE NEON SUJOS como os de um bar portuário sempre aberto no final de uma rua esmaecida da Tamandaré como num sonho em que caminho até lá macio quando todos desistem da noite e fazem o caminho de volta para suas casas, e eu então subo as escadas desse bar portuário e me sento com meu copo de conhaque Nero negro nas mãos e olho as gônadas e sei que não estou sozinho com você dando voltas comigo no quarteirão da mente seguindo-me às cegas-cambaleante mente o cheiro menstrual que deixo das minhas palavras feromonais que vou deixando no caminho com estes meus seis milhões e meios de fins inundando minha cabeça  - um emaranhado de fios neuronais na casa de máquinas de meu pequeno cérebro doente com um hamster Nero negro pedalando fazendo ele funcionar e no fundo tenho medo de levar você comigo minha pequena de bucetinha depilada e suculenta metida a escritora porque sou esquizofrênico e este é o século da esquizofrenia  E É O QUE HÁ DE BOM NESTE SÉCULO MOLE E SEM PROEZAS (mas não era bem essa palavra MOLE, era uma outra palavra que acabei esquecendo enquanto cortava cebolas que tomo com café todas as manhãs quando ouço a Sinfonia no.09, Scherzo,m de Bethoven ela é engraçadinha sim que chega a me provocar cocegazinhas na medula óssea, mais ainda prefiro Tocata e Fuga  de Bach que qualquer outra coisa que venha apimentar a minha tragédia ínfima e pessoal & na noite fria passada com neons vermelhos do centro, caminhei em meio aos escombros dos prédios da minha cidade fantasma que nunca verei edificada e ali sentado com meu copo de conhaque Nero negro ( e  todas ás vezes quando digito “n” de negro, reparem, me aparece a palavra “n” de Nero e que raios, quem envenenou estes teclados, porra?!) olhando as gônadas - FRIAS GÔNADAS PENDURADAS SUSPENSAS NO CÉU DO DELIRIUM DRINKS que pouco dou importância para as meninas que dançam no palco e para o telão que passa um pornô caseiro, e em um outro, o final do campeonato de UFC enquanto um anão bêbado do Shop do Pé se masturba ao meu lado) e o que me importa agora enquanto a imagem de meu pai me vem á cabeça me dizendo naquele salão de Bacará da Tamandaré naquele verão de 78 –  “Está certo, meu filho, mais tarde eu o levarei para olhar os navios num domingo desses depois da missa da Matriz, eu prometo – e num domingo desses de mãos dadas fomos ao Rodway para ver um enorme NAVIO GIGANTE  INGLÊS  aportando no pier e eu nunca mais vou esquecer daquele navio enorme gigante encostando no pier e meus olhos e meu coração se acenderam de uma esperança estranha e arrebatadora que desde cedo já sabia que minha vida seria ordinariazinha nesta cidade ordinária onde tento me tornar um escritor e trabalhar decentemente mas para isso eu teria que evadir-me em algum navio qualquer e quando será? - Então apertei as mãos enrugadas de meu pai agradecendo pela extraordinária visão naquele domingo e ele vendo minha alegria saltitante me prometeu que iríamos ver como funcionava a caldeira daquele glorioso navio e que iríamos visitar todos os camarotes um a um e que o Queen Elizabeth (este era o nome daquele portentoso navio) não o Petroleiro Amazônia - banheira velha em que ele trabalhava e que viria se aposentar - onde ele conheceu minha mãe durante uma viagem á Belém e se encantou com ela e esperto como era a convidou para jantar com ele e ele então lhe dera uma cantada certeira daquelas enquanto jantavam descendo o Rio Amazonas – COMANDANTE BRAZ, SENHOR DOS RIOS – Todo empavonado Á CABECEIRA DA MESA PARA IMPRESSIONAR MINHA MÃE  COM SEU LENÇO COLORIDO E TODA RADIANTE COM SEU CIGARRO GAIVOTA QUE LHE TREMIA NAS MÃOS que quando eu cheguei de seu sepultamento naquele ano de 2009, tomei coragem e abri seu pequeno diário e ali escrito a lápis eu li com meus olhos chorando e com uma pedra enorme esmagando meu coração - 30.04.1963 - meu pequeno diário, tu sabes que as horas me fogem e o vento que sopra meu rosto fere meus olhos enchendo de lágrimas e de medo - estou neste vapor com o coração repleto de saudades e estranhamentos quando me vejo desprevenida neste convés com o comandante me olhando o tempo todo sempre com seus olhos pretos da cor desse rio - finjo não saber o que ele quer - as 12 e meia foi servido o nosso almoço que constava de arroz, feijão, carne de gado e toicinho, por sinal muito gostoso - Minerva lambe os beiços - só mais tarde, um café simples que provo enquanto aprecio a chuva cair - prossigo triste durante a viagem inteira assim como o resto da tripulação - mas viajo em paz com este homem de terno branco e elegante me olhando - as sete da noite, sou acordada em meu camarote pelo taifeiro que me traz uma xícara de café com torradas e um recadinho do comandante que deseja urgente me ver na sala de comando - hoje fico sabendo o nome desse comandante – depois deste encontro passo o resto da viagem distraída olhando o rio que até Minerva desconfia - tu sabes, meu diário, eu não tenho costume de viajar, as ondas são enormes e eu começo a me apavorar, mas lembro de uma frase que minha mãe disse antes de partirmos  – confia em Deus que tudo dá certo - e continuamos a viagem...”
- um milhão de dedos teclando todos de uma só vez sem parar dentro da grande máquina explosiva escondida dentro da minha cabeça sputinik- beatinik, a coisa a fazer é seguir em frente neste tráfego intenso de acontecimentos da mente com este fluxo intenso de imagens oníricas indecifráveis na cabeça da gente que decido é ficar aqui com meus dedos fibrosos e dispenso a humanidade das pessoas lá fora e fico sozinho com os meus hieróglifos porque a grande revolução deste século virá dos coveiros que acordarão os seus mortos – e por que será que é tão complicado amar o presente e o próximo, foi assim para Rimbaud, para Dostô, para todos os gênios desgraçados e apocalípticos e visionários, esperto mesmo foi Melville que zarpou em um navio pesqueiro ainda bem jovem e ajudou a capturar aquela baleia - E outro dia conversando com Félix em particular quando ele passava apressado para ir trabalhar e eu então o parei e ele sempre para para me ouvir, pede imediatamente um copo, enche seu copo até a borda, empena seu olhar frio de gangster falido, acende seu cigarro, salta sua fumaça e espera qualquer coisa minha de utilidade pública e quem sabe eu não serei o grande duplicador de sonhos como profetizou o Mosca só para passar aquela noite em meu banheiro porque nunca tem um canto para passar suas noites longas e frias e este foi o destino que o Mosca escolheu para ele, ele ata sua rede no vão do banheiro e soh, (e o quê mesmo ia dizendo? cadê a porra do meu bloquinho de notas?) – eu agora me preparando para dizer a Félix, “tudo é fantástico, cara, se não houver imagem na poesia, nada é, cara, como Ecumênicus estuprando a idosa, ânsia de amar, é como um fogo que acende as palavras e queima o papel da alma – desenhos psíquicos da alma, tudo é como se fosse uma fragmentação máxima de sentidos contrários – tipo fios pifados interligados, já tenho tomado umas tantas eu sei, mas preste muita atenção no que digo, são as direções tomadas do fluxo numa profundidade atemporal quase indefinida da mente, mas como saberíamos, não é?” E ele agora me sorrindo me dizendo:
 ‘”e os seus remedinhos;
 cê tem tomado direitinho
 seus remedinhos?”      
- e foi para Félix que revelei minha doença – “reagente positivo, meu chapa, cê tá com aids, mas relaxa, não é o fim do mundo, os remédios avançaram, só maneirar mais com as dosagens de álcool na veia, nada é mais ou menos como era antes, mas o sol ainda brilha até para os que já desistiram de suas luvas de boxe e não bombeiam mais as tintas para suas canetas mágicas – saibas que continuarei indo á sua casa para ouvir suas estórias, acordá-lo – e se quiseres, estarei contigo  no almoço quando revelares a doença a tua mãe, talvez ela se engasgue com a espinha do jaraqui porque sei que não é nada fácil, mas também não é  o fim de todos nós, vamos ali tomar umas cervejas, vamos?
<e sou grato a Félix, por suas palavras frias e encorajantes...>
- mas estranho mesmo é caminhar com aids pelas ruas do centro da tua cidade cantarolando aquele refrão engraçadinho do The Doors LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ/ LÁ LÁ, LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ  e nem adianta que você talvez nem se lembre e deixe pra lá!
,e quando deixamos finalmente aquela delegacia eu parecia ainda ouvir o xerife assobiando a merda do Wando só para nos deixar mais arruinados por dentro e não nos devolveram os nossos materiais e estávamos fracos demais para reivindicá-los  (nos veríamos mais tarde em uma audiência no Ministério Público) é que só queríamos morder alguma coisa e nos encaminhamos para o final da rua onde havia uma adorável vitrine de padaria frutas cristalizadas com nozes de maçã – não não não não não capturei isto de uma página de Virginia Wolf descuidada enquanto planejava seu suicídio, mas tudo bem, como disse, só queríamos algo para mastigar mesmo - e chovia bem fino e meu Deus, que derrota os cinco ali com fome mastigando nossos sanduíches invisíveis porque os caras ainda confiscaram todas as nossas moedas e não tínhamos nada mesmo, o jeito era voltar para casa vitoriosos de nossas derrotas e o Boca nos dizendo agora – “ah, que se foda, vou para casa e para os meus boomerangues!” – “Boa sorte, Boca, com os seus Boomerangues!” – E ele vai cambaleando com seus cabelos sujos assobiando o Choro da Bia pelas ruas que já foram bastante molhadas pela chuva eu suponho que nem ouvimos ela cair porque passamos o dia todo naquela delegacia trancafiados, mas ainda há o cheiro do asfalto molhado e da noite triste vestida de fome e com lábios pintados de derrota como meretriz valiosa e decadente e é assim as noites pela orla da minha cidade - Mais tarde é a vez do Garoto e do Betânia nos dizer adeus e pegarem o beco de suas vidas, e eu então olho para Ecumênicus e decidimos seguir para o centro e quando lá chegamos – tem mais – nos sentamos na mesa do Macintosh que fervilhava e (e minha doce safadinha do Platinados estava na boca de todos) e sentamos ali para olhar o movimento e foi quando ouvi Ecumênicus dizer – “Ah, estou cheio dessa noite cavernosa, triste e acabada, por isso, Mário Augusto, me deixe agora aqui  sozinho no meu canto escuro pra escrever” – E eu o deixo ali sozinho escrevendo inclinado sobre um guardanapo com sua calvície triste e me aproximo do imenso quadro do Dom Quixote que ainda está exposto, e meus olhos de fome investigam a essência daquela pintura gigante aprisionado naquela moldura do tempo – E meus braços virados para trás e as cores que me saltam aos olhos investigativos – e todos cantam a canção safadinha do Platinados – sabem de cor aquela canção - E o Robert se aproximando de mim me dando uns tapinhas nas costas, dizendo com sua voz calma:
 < E onde foi que vocês se meteram, cara?>
<Estávamos presos, cara. Eu e o resto da corja. Tudo que quero agora é um prato de sopa.>        
<Só que não tenho grana, véio. Ainda não vendi meus quadros.>
<Mas vai vender. Fique certo disso.>
- Queria mesmo era ficar mais um pouco na companhia de Ecumênicus, mas ele já se foi - Me alimento da arte que faço, saca? - Sigo por onde ninguém segue - Pulo de poça em poça me livrando dos abismos que se abrem sob meus pés – É como estar sob efeito da papoula – Volto ao ponto de onde parti olhando o sonho de Cervantes – Estou quase certo de minha missão na terra – Este é o ofício que me coube – Foi o de Cervantes também quando lutou com seus moinhos de ventos - Desço sozinho a Avenida dos meus sonhos rumo ao puteiro mais próximo – Não tenho grana, eu sei, e ainda estou com muita fome, mas nada me impede de entrar e sentar e ver tudo em minha volta girando – Enquanto desço vejo minha cidade com seus edifícios médios, seus casarões antigos e abandonados, seus automóveis, suas pessoas, seus fantasmas - A vida é portanto um laboratório vasto e único onde nós fazemos os nossos próprios experimentos para nós mesmos experimentarmos, e depois, quem sabe, você e o mundo - Toco meu instrumento no escuro do vazio dos meus delírios - Um blues amazônico esquecido - Mas toco - Sinto um formigamento que me impele a seguir tocando minha música - Palavras são como bolas de sinuca que nunca erram o buraco – Mesmo que você ainda jogue com seus olhos vendados – Sensação de estar vivo – Escrever é como um milagre de estarmos vivos – É como morder um pedaço de frango bom – Uma vagina aberta e iluminada lhe sorrindo - Há bilhões de sonhos explodindo dentro de nós – A fábrica dos sonhos estarão sempre abertas com suas máquinas em funcionamento à todo vapor – Sou um operário da palavra – Um duende das larvas do seu quintal encantado - Neste puteiro vazio de pernas abertas e axilas suadas eu vejo um bilhão de sóis brilhando – O sol nasce certo, nós é que somos tortos – Já nem sei mais o que digo, mas digo – Sei que esperavam algo mais deste fim triunfal que eu tinha planejado pra nós dois, mas calma, nada acaba por aqui, acaba?
 – e agora licença que este cavalheiro vai ao toalete...
               

para Flávia Abtibol que através de sua lente, me inspirou a escrever este primeiro capítulo de nossas vidas enquanto comíamos papel no Bar Caldeira...
                                                          
Manaus, quinta-feira, 01 de junho de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário