sexta-feira, 17 de maio de 2013

CENA NOVE




Sigo encantado sobre estas teclas encantadas como um taquígrafo emitindo sinais taquigráficos para o mundo ler enquanto lembro dos companheiros  com muita disposição para seguirem bebendo madrugada à dentro todos ali numa espécie de celebração fraterna e esta é a celebração MAIOR DA VIDA que ainda podemos crer <anotações que faço  enquanto ouvindovou Joe Williams e seu trompete ensandecido> e não foi dessa vez que Selminha me deixou pra valer, pois que ela já está de volta do quarto ao lado com a TV e o DVD e suas coisinhas mínimas e tristes que fariam morrer de rir alguém muito sério como você e ela já até me deixa beijá-la levemente seus lábios <Você acha que merece o meu amor de volta, Mário Augusto, han?> ela me dizendo essas coisas quando a deixo na esquina e ela vai trabalhar se equilibrando em seus saltos afiadíssimos e o amor é assim mesmo como uma toalha que molha mais depois seca – OU EU SOU MESMO UM ENCANTADOR DE PORCOS CONDUZINDO MEU REBANHO AO PRECIPÍCIO (E esta frase não faz sentido algum, mas pela falta de uma outra mais ajuizada, deixem ela aí mesmo) - E vou esquecendo quem realmente sou neste palco louco que é a vida e o meu pulôver manchado de chá e minha duloxetina bem ao meu alcance porque eu tenho uma vida bem ordinariazinha e ela só ganha sentido quando luto com minhas palavras todas as manhãs logo que acordo com as latidas do Horácio no quintal e também com os pombos enlouquecidos copulando no telhado, mas estou parcialmente feliz vendo tudo no lugar, a tv, o dvd, as calcinhas de Selminha penduradas no varal do quarto - E eu francamente acho que Joe William compôs This Can´t be Love antes daquele concerto de 1962 com Count Basie e Charles Thompson – Ah, se vocês pudessem ouvir o que eu estou ouvindo agora This can´t be Love, mas fico mais alegrizinho nos teclados quando ouço Come back baby E EU SOU BEM FRESCO SIM, UM LADRÃO DE ALMA DE PALAVRAS, UM MOLEQUE ESCROTO E OPORTUNISTA COMO ALGUÉM AFIRMOU NA REDE SOCIAL OUTRO DIA, MAS NUNCA, NUNCA ME CHAMES DE PLAGIADOR OU QUE EU FALO VERDADES EM MEUS ESCRITOS PORQUE EU ACREDITO É NA MENTIRA E ELA É UM BEM PRECIOSO BEM MAIS QUE A PRÓPRIA VERDADE QUE É DISSUMULADA E TRIUNFA NESTES TEMPOS DE HOJE CONSTRUINDO IGREJAS E ARMAS NO CORAÇÃO DOS HOMENS E OS TEMPLOS E AS IGREJAS E AS MESQUITAS ESTÃO CHEIAS DA VERDADE E OS HOMENS ESTÃO CHEIOS DA VERDADE E O PREFEITO E A LEI E OS PRESÍDIOS E OS BANCOS E AS REDES SOCIAIS ESTÃO CHEIOS DA VERDADE E OS PROFESSORES ESTÃO CHEIOS DA VERDADE E OS REMÉDIOS PARA A CURA DOS MALES DA ALMA E A MEDICINA E A CIÊNCIA E AS TABERNAS E BUDA E JESUS CRISTO E ALÁ ESTÃO CHEIOS DA VERDADE E OS SINDICATOS PATRONAIS ESTÃO CHEIOS DA VERDADE E O SAPATEIRO DA MINHA ESQUINA ESTÁ CHEIO DA VERDADE EU ESTOU DE COLHÃO CANSADO DAS VERDADES E Á MERDA COM A VERDADE PORQUE EU QUERO A MENTIRA SUPREMA QUE NOS LIBERTA E PORTANT0, META NO SEU CUZINHO TODA A VERDADE ADQUIRIDA!
& porra, acho que filosofei além do necessário – E sabe - eu preciso voltar urgentemente é que é para o gramado e continuar com minha estória agora que estou bem esperto e lembram onde foi que paramos? Ah, sim, o filho de Dona Gregária, eu ia falar que aquela senhora tinha um filho que recebeu um induto POR BOM COMPORTAMENTO para passar o aniversário com a mãe e naquele dia já havia aprontado uma confusão tremenda ganhando um corte de canivete profundo na testa e agora Dona Gregária que é a sua mãe cuida bem dele trocando-lhe o curativo sujo manchado de sangue e eles bebem juntos, MÃE E FILHO – UM SACO DE OSSOS FRATERNO - E eu vejo uma cena comovente diante de mim que reino escrever um dia quem sabe como agora eu o faço e COMO TODA MÃE QUE CUIDA DE UM FILHO DE ASA QUEBRADA DONA GREGÁRIA CUIDA DO SEU lambendo-lhe o ferimento enquanto tenta me explicar que ele não teve culpa alguma em matar o próprio pai com a faca, que só fez isso para defender a mãe do espancamento e que tudo foi acidental naquele domingo trágico E TODO DOMINGO É TRÁGICO e eu tento prestar bastante atenção e apoiar aquela senhora em seu momento de dor suprema de mãe e deixar que sua lágrima escorra sossegada de seu rosto ossudo e sofrido de mãe e quando Jordana não ligou a mínima quando eu revelei a ela na Casa do Sol Nascente que eu havia conhecido minha mãe biológica, aquilo doeu demais e eu apressei em tomar minha cerveja de um só gole e lembro que Félix disse a ela, deixa o cara, e Jordana ás vezes é cruel, mas logo passa e ela vai me afagar como uma felina quando me vê sozinho pelos cantos da casa do Sol Nascente e me pede desculpas e me pergunta se eu quero uma cheiradinha do seu pó sagrado que é uma forma dela se desculpar de mim e me leva para a sala azul da casa e tudo acaba ficando como deveria ser – E agora eu vejo um dos camaradas sair para pegar mais cachaça e tudo é tão doloroso, frio e profético nesta praça do Mercado Municipal que sugiro avançarmos esta cena e adentrarmos logo o capítulo do cárcere porque  não temos a solução para a dor humana, temos?

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