O LADO NEGRO DA LUA
O AMANHECER DESSE DIA TEM UM TOM CINZENTO-ÁRIDO
ENQUANTO AVANÇAMOS PELAS RUAS DO MERCADO E DESEMBOCAMOS NA RUA DAS PUTAS
CERCADA DE BARES AINDA COM SUAS PERNAS ABERTAS DE ONDE EXALA URINA E O CHEIRO
INCONFUNDÍVEL DE SUOR DE PUTAS E OUTRAS VISÕES SANTIFICADAS E OS TRAFICANTES
VENDENDO BARATOS LEGAIS NAS ESQUINAS DA FREI JOSÉ PORQUE AINDA SE PODIA COMPRAR
UM BARATO LEGAL QUE FIZESSE UM EFEITO LEGAL NA TUA MENTE PORQUE NÃO HAVIA TANTA
PORCARIA MISTURADA ASSIM E PODÍAMOS CONFIAR NOS NOSSOS HOMENS SÓ QUE ESTÁVAMOS
DUROS DE VERDADE E POR ISSO SÓ PASSAMOS COMO UMA PROCISSÃO TRISTE E CABISBAIXA OLHANDO
COM UMA VONTADE MEDONHA DE FICAR POR ALI MESMO JOGADOS E TODO TEMPO TENHO A
IMPRESSÃO DE ESTAR VIVENDO UM SONHO ENTORPECIDO E BOM - UMA ESPÉCIE DE MENTIRA
DURADOURA DE VAZIO TRANSCENDENTAL - E o Boca nos dizendo agora que estamos na
frente da Igreja dos Remédios:
< a
gente só precisa plugar esse violão e tocar dentro da igreja, não é isso, Mário?>
CARCAMANO: < é ruim que vou entrar numa
Igreja, entrar em uma igreja é de imenso mau gosto pra mim, eu sou Cileno,
professor de Dionísio, por isso, estou fora! – É o que nos diz covardemente o Carcamano
virando as suas costelas e tratando de cair fora daquele ardil o quanto antes
naquele amanhecer com a corja parada frente á Igreja dos Remédios de portas
abertas e aí então resolvemos entrar todos naquela Igreja e ela estava
imensamente vazia e Ecumênicus ajoelhou-se à entrada e fez o sinal da cruz e
cada um de nós sentamos e ficamos olhando para o altar sem saber exatamente o
que faríamos ali sentados olhando um para a cara do outro e o Boca sussurrando
em meu ouvido:
<esse
silencio inventado me incomoda, saca? viemos aqui para plugar este violão e
tocar nesta igreja, não foi isso que viemos fazer aqui, professor, não foi isso?
Por que se não for isso posso ainda alcançar o Carcamano e voltar para minha casa
e para os meus Bommerangues que é mais futuro e podem me render algum sustento...
< moedas são como chocolates para os ratos.>
nos diz o Garoto sentado na outra ponta e o Betânia concorda com ele abrindo um
sorriso côncavo naquele seu rosto assimétrico e aqueles seus olhos esbugalhados
como os de um Charles Manson e,
<< tá massa, mas ô, o que vamos fazer
exatamente aqui sentados? Rezar? Nivelar nossa mente? Ah, vão para a puta que os
pariu – E ele caminha até o altar como uma besta enfurecida como se o piso
daquela nave fosse propriedade dele e eu estou quase certo de que foi o Boca mesmo
que arrancou aquele microfone do pedestal e o escondeu em sua mochila – QUE
CENA, PULO DE ALEGRIA – Só que tivemos que dar o fora dali imediatamente para
não sermos apanhados e partimos para algum outro lugar e continuamos caminhando
pelo centro da cidade sem rumos como uma releitura da geração perdida de vagabundos
submersos em oceanidades de uma névoa alcóolica impenetrável de um alvorecer amargodoce
amazônida e UI, QUASE CONSIGO - As pessoas começando a passar a caminho do
trabalho muito sérias que elas são essa gente daqui e nós ali sentados nos
bancos de concreto ao pé do Relógio da Matriz ouvindo as portas de ferro das
lojas sírias de tecidos levantarem-se e as crianças cheiradores de cola sendo
varridas das calçadas e marquises como animaiszinhos peçonhentos e eu tenho
quase a certeza absoluta que os ponteiros desse simulacro escroto e pobre de
relógio estão parados como todo o organismo dessa cidade parasitória está parada
e nada funciona mesmo nesse simulacro de cidade e de pessoas e o que faremos
mesmo aqui sentados eu me pergunto agora e Ecumênicus também deve estar
pensando em uma solução nova porque ele sempre estuda uma solução nova com seu
caráter e sabedoria de monge e passam alguns carros já, só que em certo momento
também, EM UM GRANDE RESPLENDOR DE NIRVANA vemos atravessar a rua uma mulher
gorda e completamente nua caminhando e xingando seus demônios depositados
dentro de sua cabeça com seu cabelo todo negro e escorrido e cheirando mal e
aqui sob os céus imponderáveis dos trópicos os loucos caminham livres e
nus e meus olhos agora tremem, morrer é
enlouquecer, o que mais se pode fazer por aqui – Vivo neste sonho vazio e
espetacular e em certos momentos desejamos desesperadamente voltar
redimidos para o ventre morno de nossas
mães e ficarmos lá encolhidinhos e nunca mais sairmos de lá de tão tirânico e injusto e desajustado e
podre que é o mundo e as pessoas aqui fora no frio com seus corações gelados –
E eu juro que conheço esta louca que me atravessa agora as retinas e o que eu vou contar
sobre ela é bem sinistro por isso não sei se devo mesmo contar mais algo me
impele a contar e foi portanto em uma dessas noites violentas regadas a
cigarros e conhaques logo que deixei oscilante a Tamandaré e caminhei para a
parada de ônibus porque minhas pernas não agüentariam me levar de volta para casa e
mesmo que quisesse eu não poderia e minha mente estava embaçada demais então eu sentei e esperei e então eu vi a
louca sentada e nua num dos bancos de concreto sob a guarita e havia um cara
ali bolinando seus enormes seios e houve um momento em que ele conseguiu
fazê-la virar-se de frente para ele e eles começaram a transar sob as minhas
vistas e a de um pastor que gritava palavras horríveis sobre o céu e o inferno
que faria uma criança se encolher de tanto medo e eu então acendi o meu último
cigarro e é tudo tão escroto e sombrio e doente quando não nos resta mais nada,
apenas um cigarro de marca vagabunda e todo machucado no seu bolso E QUE
DOIDERA ESSA, CARA, aqueles dois ali transando a olhos nus como dois cães
hormonalmente livres e um único cara ali além de mim e do pastor para para
apreciar a cena e se masturbar alucinadamente e a louca então avança sobre seu
amante e agora ela senta sobre ele e começa a subir e descer e subir e descer e ela parece
gostar muito porque ela gargalha como uma entidade exu as quatro daquela manhã sob
a lua negra e envergonhada e se beijam loucamente e acho que preciso voltar para as gônadas que
deixei suspensas no teto do Delirium Drinks que é meu inferno particular da
Tamandaré e prosseguir com minhas dosagens
de conhaque negro e foi Ecumênicus mesmo com seu chapéu estranho de
panamenho que me explicou que aquilo eram as gônadas suspensas no céu do
Delirium e ele passou a noite toda viajando nas gônadas sem ligar para as putas
que dançavam nuas no palco expondo heroicamente suas cesarianas e tudo foi
depois de uma tarde relativamente calma e alegre que passamos na companhia de
Salomé no Bar Holandas – neste dia ele estava com aquele seu chapéu engraçado
de Panamenho e todo feliz porque Salomé massageou-lhe demoradamente o pênis com
os pés dela antes de partirmos para o quarto no motel ao lado e foi uma tarde
razoavelmente boa, sim, porque curtimos à beça com Salomé e ela nos contou sua
vida dura e nos cobrou um preço bem razoável e ainda tenho tanta coisa para
falar de Ecumênicus que não caberia em meu papiro secreto e sigo bebendo doces
goladas de minha cerveja <e será que alguém vem ao meu Sarau?> e eu nunca
mais vou esquecer desta cena da mocinha e do carinha dela trepando livres e sem
aporrinhações e se Ecumênicus por alguma razão estivesse ali ao meu lado ele me
diria com sua serenidade patológica de monge, que lindo, cara! e isso ele me
diria mesmo porque eu o conheço bem, e você deve estar louco para saber do
final desta cena não é mesmo, já não agüenta mais, pois lhe conto como tudo
acaba – Ao término da copulação, o carinha dela levanta-se e caminha trôpego
achando que estaria tudo terminado, mas a louca o segue pela rua principal chorando
querendo mais e o seu choro é horrível que me dói o peito, e um certo momento
na curva, ele a ameaça com uma pedra e a louca chora mais alta ainda como um
bebê gigante e fica ali parada na esquina sob a lua negra vendo o seu amante
partir subindo a avenida principal, e a vontade que tive era me aproximar da
louca e colocar um dos meus braços sobre o seu ombro e dizer-lhe qualquer coisa
paternal para confortar-lhe a dor, quem sabe, mas exatamente o quê eu diria àquela louca, então eu
chequei que ainda haviam alguns trocados no fundo dos bolsos e deixei a louca
lá sentada na esquina e voltei para o Delirum para as gônadas e para as
putas...
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