quarta-feira, 15 de maio de 2013

CENA VIII




Porra malandro, começa a cair uma chuvinha triste e amiudada e o garçom do Macin  já começa a empilhar mesas e cadeiras e descer as portas de ferro, e eu olhando tudo isso acabar me parte o coração, era hora de migrarmos para outro Bar, só que estávamos ficando duros e a idéia  pra intera da cachaça foi mesmo do Boca com a aprovação de todos - E aquela noite era o dia do batismo de Jordana e do Veleiro e eles estavam bastante excitados, e foi aí então que descemos os sete em procissão a Eduardo Ribeiro rumo ao Mercado Adolfo Lisboa e lá ao chegar, descemos a rampa e caminhamos até  a margem do rio á uma hora da manhã sob um leve chuvisco e só podíamos estar mesmo chapadões e não esqueço mais Jorda e Veleiro lindamente nus e tentadores recebendo o batismo das mãos do Garoto, e as palavras dele não me saem da cabeça, “Eu os batizo, filhos da natureza das palavras, do aborto e da vitória da continuidade de vossas existências, e não tínhamos mesmo mais o que fazer da vida, CONTUDO, NÃO ME ARREPENDO DE NADA, não mesmo, e eu vendo agora o Veleiro e Jordana caminhando nus pelas margens até encontrarem um lugar tranqüilo  debaixo da rampa do mercado municipal para treparem  sossegados como duas crianças travessas e puras - Ela abrindo suas lindas pernas de zebra deixando o Veleiro entrar e velejar, eu olhando tudo de longe e acho mesmo o caráter e a coragem de Jordana impressionantes que nenhuma mulher consegue sentir o imenso prazer da vida como ela sente esse risco e essa entrega prazerosa de fogo queimando dentro dela e sua sede implacável de viver custasse o que custasse, eu queria ser o único poro de Jordana para habitar nela e transpirar por ela e saber o que ela estava sentindo agora com o Veleiro a velejar naquele corpo branco e frágil de porcelana e sua beleza única e soluçante - Seu caminhar elegante e sedutor de uma zebra no cio quando caminhas nos meus sonhos mais pegajosos, Ah, Jordana, outra vez habita estas páginas febris de desejo das palavras tresloucadas e tudo que escrevo é uma verdade imperfeita e infinita cheia de luz, e eu daqui da margem do Negro sentado em uma pedra surda olhando o amor de vocês que nem sinto os pingos de chuva que molham meu rosto de silencio e mistério - Começo a tremer descontroladamente por causa do frio que faz e tomo grandes goladas daquela cachaça que é pra esquentar mlhor por dentro e sugiro que subimos agora a rampa para nos aquecer na parte lá de cima onde há um belo gramado bem defronte ao Mercado, UMA PRAÇA e VAMONOS?
 <O senhor teria uma caneta para me emprestar?> Diz o moço ao meu lado no balcão do Caldeira e eu confesso que estou mesmo no Bar Caldeira as três da tarde de um sábado de 2013 com as palhetas da memória funcionando à todo vapor  porque houve essa necessidade de deslocamento atemporal necessária o que não me leva a crer que perdi minha linha lógica de raciocínio – relaxem - E o perfume inebriante que exala da garçonete do Caldeira, sua sainha curtinha de xadrez e seu andar de zebra dissimulada - Ela me serve com certa estranheza ao me ver sempre a tarde inteira ali em pé no balcão tomando essas notas e sempre aos sábados, este moço aqui se planta a escrever sabe-se lá o quê e o porquê, por que afinal de contas escrevemos? Essa pergunta eu me faço todo santo dia logo ao acordar e tomar minhas dosagens de Lexotan e um barato novo que descobri e que me deixa em profundo relaxamento da alma que é o Rizotril O GRANDE SOMA DESTE SÉCULO PROFETIZADO POR HUXLEY e depois sentar e escrever minhas crônicas compulsivamente ouvindo Rosmanikof ou “As Minhas coisas favoritas”, do John Coltrane - Ah, são tantas coisas que me mantém vivo escrevendo nesta cidade sombria e fanhosa que não me dá vontade de desistir nunca – Mas voltamos ao Caldeira só um instante para eu registrar um episódio hilariante com um delegado de polícia no balcão ao lado o qual tento agora vender um livreto meu para ele afim de garantir mais alguns trocados para eu seguir bebendo tarde à dentro mas ele não compra não porque e eu sei porque, por que ele acha talvez  que eu esteja dando em cima de sua mina estalando de nova com suas pernas longas e sedutoras e de fato eu estou, mas mantenho respeito e certa distancia, não quero confusão, só que senhores, a natureza da mulher é ardilosa demais e cada vez que o delegado se ausenta para ir ao banheiro, a mina dele abre suas pernas discretamente e me mostra sua vagina azul sob a calcinha branca transparente e sorri como um demoniozinho malicioso e AS COXAS DELA E A CARNE DELA  e cara, acho que vou ter um treco ou vou para minha casa mais cedo me masturbar em paz ou devo ficar aqui quieto no meu canto sossegado só olhando? Mas se esse delegado me encostar a mão ele vai ver só porque eu não tenho culpa do pecado se expor em um balcão de bar as três da tarde de um sábado, e eu acho que já basta, voltamos aonde paramos com a corja subindo a rampa do mercado e sem a presença de Jorda e do Veleiro agora que ficaram lá embaixo trepando <e eu francamente acho  o verbo   TREPAR um verbo maravilhoso tão menos dissimulado quanto o verbo AMAR ou mesmo TRANSAR> E eles trepariam a madrugada inteira e ninguém os impediria disso – E EU AGORA DEITADO NA GRAMA ENQUANTO OLHO AS ESTRELAS TRAVESSAS FEITO CRIANÇAS DEPILADINHAS NO CÉU MMMM ENQUANTO O BOCA AFINA SEU VIOLÃO E O CARCAMANO CONFABULANDO UMA NOVA INTERA PARA A CACHAÇA COM O RESTO DA CORJA, e aí sim, todos nós reunidos ali na grama com o Boca tocando o Choro da Bia e a garrafa passando de mão em mão então eu vejo um grupo de estivadores bêbados se arrastarem devagar até nós com outra garrafa de cachaça querendo fazer parte do grupo e o que há de errado com a cena? Afinal, invadimos o espaço deles e eles são uma família também no frio da madrugada e eu observo curioso que há entre eles uma senhora de certa idade de braços fortes e olhar fundo e sofrido que faz você chorar e ela dá grandes goladas heróicas em sua garrafa de cachaça e solta grandes gargalhadas que ecoam na madrugada fria e esta viria ser a Dona Gregária que Ecumênicus trataria com humanidade em uma das páginas de seu livro o Sindicato dos Inválidos que ele escreveu desesperadamente em uma noite no meu quarto enquanto eu rolava com a minha gastrite estourada e depois de passarmos uma tarde toda juntos bebendo pelo centro da cidade após participarmos de uma reunião dos ALCÓOLICOS Anônimos que funcionava na Praça da Matriz - E eu não esqueço mais este dia em que eu o reencontrei pela manhã durante uma passeata inflamada dos Professores do estado na Avenida Sete de Setembro e meus pés descalços ardiam no asfalto porque eu havia perdido minhas sandálias na madrugada, na verdade não foi bem assim não, foi bem pior e eu não tenho pudor algum em contar - Um cara roubou minhas sandálias enquanto eu dormia nas portas do Teatro Amazonas e ele me disse que eu deveria chupá-lo se não quisesse morrer e ele na verdade apontava uma Lâmina afiada para o meu pescoço e ele então abriu sua braguilha e me fez chupar o seu grande pau negro e brilhoso, bem ali às portas do Teatro Amazonas e eu então o chupei sem pudor em troca da minha vida  (e quanto isso parece ser tão trágico, não é mesmo - e você agora portanto sorrindo ou estranhando tudo isso sem querer acreditar muito, fazer o quê) e como se não bastasse o malandro depois de gozar em meu rosto e me dá uns tapas na cara, queria minha sandália também, cara doido - e quando ele partiu na madrugada, eu mirei  meu olhos cheios de lágrimas pra lua  e voltei a dormir sossegado e acordei com os raios do sol lambendo meus rosto e os sinos da São Sebastião tocando logo cedo pela manhã e eu vi que não tinha mais sandálias e então comecei a caminhar pelas ruas do centro da cidade as sete da manhã feito um ÉDIPO DE OLHOS FURADOS entrando e saindo das lojas sentindo o cheiro  dos sapatos nas vitrines com tanta naturalidade que não era importunado por ninguém e foi nesse dia  que andando a esmo reencontrei Ecumênicus em uma passeata inflamada dos professores do estado que se dirigia ao Palácio da Sete e eu me juntei e segui com eles, e os meus pés descalços e inchados de Édipo queimavam no asfalto super quente e Ecumênicus então me disse pra ter paciência que mais tarde ele me compraria sandálias novas só que os meus pés queimavam e eu então emprestei os tamancos de uma militante linda que estava ao meu lado e ela me emprestou seus tamancos e quando o aparelho do estado chegou para reprimir a manifestação, Ecumênicus me pegou pelo braço e sumimos na multidão que nem sentimos os coturnos e os cassetetes dos milicos estourarem em nossas costas e  demos o fora dali e fomos comprar as minhas sandálias que eram mais importantes, mas eu achei que eu deveria ficar com aqueles saltos e andar pelo centro da cidade ao seu lado que era pra provocar as pessoas e fazê-las acordar de sua sonolência e estupidez & dessa vez fomos expulsos de lojas, e um restaurante na Marechal Deodoro nos cobrou um preço altíssimo por dois pratos de comida – Na verdade, o gerente adulterou a balança e queria que pagássemos um preço exorbitante pelo almoço, mas sabíamos que era por causa dos saltos, pela afronta, pela palhaçada, seja lá a merda que fosse e então Ecumênicus com diplamacia disse que não pagaríamos e que iríamos acionar o MPE, e aí então, o cara abriu um sorriso largo e disse que checaria melhor a balança e no final pagamos um preço razoável e saímos daquele restaurante satisfeitos – E ao passarmos em frente á Igreja Matriz, resolvemos fazer uma visita ao Alcóolicos Anônimos e eu não sei de quem foi aquela idéia louca, sei que adentramos ao prédio que ficava nos fundos da antiga Aviaquário onde na minha infância, após a missa das oito, eu brincava nos balanços e escorregadores sob os olhos vigilantes do meu pai e depois ele me levava ao Rodway para ver os navios – e chegamos bem na hora dos testemunhos, e um cara comprido nos saudou e pediu que os visitantes ocupassem as cadeiras da frente e ele então iniciou o cerimonial agradecendo a presença de todos – e aquilo durou longos minutos, e assim que ele abriu para os testemunhos, eu cochichei no ouvido de Ecumênicus para que ele, ao invés de mim, ocupasse o púlpito  e ele assim então o fez, não sem antes ouvirmos um testemunho dramático e assustador de um policial abstêmio que havia estourado a cabeça da esposa com uma .45, amargando uns anos na Jobim e agora estava na condicional, mas continuava a beber e queria largar, e ele agora falando sem parar e sua cabeça enorme e vermelha e as veias saltando do pescoço e as lágrimas descendo torrencialmente dos olhos que eu senti pavor e frio nos pés que se equilibravam nos tamancos – e aí então uma luz vermelha foi acessa e ele parou de falar senão certamente ele ficaria a tarde inteira tagarelando sua tragédia alcóolica, e foi a vez de Ecumênicus subir no púlpito e uma luz azul foi acionada e ele juntando as mãos como um bom orador começou sua fala agradecendo pelo milagre do álcool na vida daquelas pessoas, porque graças ao álcool não seria possível compartilhar da humanidade, do crescimento  e da experiência de cada alma ali presente e blá blá blá blá blá blá, e foi nesse momento que eu olhei preocupado para trás e vi muito ódio explodindo em formas de veias dilatadas  nos rostos vermelhos de cada uma daquelas pessoas ali presentes e enquanto Ecumênicus falava ouvia-se um burburinho de vozes e alguns deles se levantando enfurecido e o arrastar de cadeiras e o cara que havia dado um balaço na cabeça da esposa desferiu sua mão poderosa no extintor de incêndio e uma luz vermelha acendeu imediatamente e o cerimonialista precisou urgentemente retirar Ecumênicus do púlpito, e quando ele voltou a sentar, eu disse a ele que deveríamos dar o fora dali porque se não seríamos linchados e depois meus pés já não agüentava mais sobre aqueles tamancos e que eu precisava mesmo das sandálias e então caímos fora dali – E finalmente após ele ter me comprado as sandálias, fomos encher a cara no Mercadão, e olhar o entardecer do Rio Negro mmmmm
                                   & onde foi que paramos mesmo?

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