Porra malandro, começa a cair uma chuvinha triste e amiudada
e o garçom do Macin já começa a empilhar
mesas e cadeiras e descer as portas de ferro, e eu olhando tudo isso acabar me
parte o coração, era hora de migrarmos para outro Bar, só que estávamos ficando
duros e a idéia pra intera da cachaça
foi mesmo do Boca com a aprovação de todos - E aquela noite era o dia do
batismo de Jordana e do Veleiro e eles estavam bastante excitados, e foi aí
então que descemos os sete em procissão a Eduardo Ribeiro rumo ao Mercado
Adolfo Lisboa e lá ao chegar, descemos a rampa e caminhamos até a margem do rio á uma hora da manhã sob um
leve chuvisco e só podíamos estar mesmo chapadões e não esqueço mais Jorda e
Veleiro lindamente nus e tentadores recebendo o batismo das mãos do Garoto, e
as palavras dele não me saem da cabeça, “Eu
os batizo, filhos da natureza das palavras, do aborto e da vitória da
continuidade de vossas existências, e não tínhamos mesmo mais o que fazer
da vida, CONTUDO, NÃO ME ARREPENDO DE NADA, não mesmo, e eu vendo agora o
Veleiro e Jordana caminhando nus pelas margens até encontrarem um lugar
tranqüilo debaixo da rampa do mercado
municipal para treparem sossegados como
duas crianças travessas e puras - Ela abrindo suas lindas pernas de zebra deixando
o Veleiro entrar e velejar, eu olhando tudo de longe e acho mesmo o caráter e a
coragem de Jordana impressionantes que nenhuma mulher consegue sentir o imenso
prazer da vida como ela sente esse risco e essa entrega prazerosa de fogo queimando
dentro dela e sua sede implacável de viver custasse o que custasse, eu queria
ser o único poro de Jordana para habitar nela e transpirar por ela e saber o
que ela estava sentindo agora com o Veleiro a velejar naquele corpo branco e
frágil de porcelana e sua beleza única e soluçante - Seu caminhar elegante e
sedutor de uma zebra no cio quando caminhas nos meus sonhos mais pegajosos, Ah,
Jordana, outra vez habita estas páginas febris de desejo das palavras
tresloucadas e tudo que escrevo é uma verdade imperfeita e infinita cheia de
luz, e eu daqui da margem do Negro sentado em uma pedra surda olhando o amor de
vocês que nem sinto os pingos de chuva que molham meu rosto de silencio e
mistério - Começo a tremer descontroladamente por causa do frio que faz e tomo
grandes goladas daquela cachaça que é pra esquentar mlhor por dentro e sugiro
que subimos agora a rampa para nos aquecer na parte lá de cima onde há um belo
gramado bem defronte ao Mercado, UMA PRAÇA e VAMONOS?
<O senhor teria uma
caneta para me emprestar?> Diz o moço ao meu lado no balcão do Caldeira e eu
confesso que estou mesmo no Bar Caldeira as três da tarde de um sábado de 2013
com as palhetas da memória funcionando à todo vapor porque houve essa necessidade de deslocamento
atemporal necessária o que não me leva a crer que perdi minha linha lógica de
raciocínio – relaxem - E o perfume inebriante que exala da garçonete do
Caldeira, sua sainha curtinha de xadrez e seu andar de zebra dissimulada - Ela
me serve com certa estranheza ao me ver sempre a tarde inteira ali em pé no
balcão tomando essas notas e sempre aos sábados, este moço aqui se planta a escrever sabe-se lá o quê e o porquê,
por que afinal de contas escrevemos? Essa pergunta eu me faço todo santo dia
logo ao acordar e tomar minhas dosagens de Lexotan e um barato novo que
descobri e que me deixa em profundo relaxamento da alma que é o Rizotril O
GRANDE SOMA DESTE SÉCULO PROFETIZADO POR HUXLEY e depois sentar e escrever minhas
crônicas compulsivamente ouvindo Rosmanikof ou “As Minhas coisas favoritas”, do
John Coltrane - Ah, são tantas coisas que me mantém vivo escrevendo nesta
cidade sombria e fanhosa que não me dá vontade de desistir nunca – Mas voltamos
ao Caldeira só um instante para eu registrar um episódio hilariante com um delegado
de polícia no balcão ao lado o qual tento agora vender um livreto meu para ele
afim de garantir mais alguns trocados para eu seguir bebendo tarde à dentro mas
ele não compra não porque e eu sei porque, por que ele acha talvez que eu esteja dando em cima de sua mina
estalando de nova com suas pernas longas e sedutoras e de fato eu estou, mas
mantenho respeito e certa distancia, não quero confusão, só que senhores, a
natureza da mulher é ardilosa demais e cada vez que o delegado se ausenta para
ir ao banheiro, a mina dele abre suas pernas discretamente e me mostra sua
vagina azul sob a calcinha branca transparente e sorri como um demoniozinho malicioso
e AS COXAS DELA E A CARNE DELA e cara,
acho que vou ter um treco ou vou para minha casa mais cedo me masturbar em paz ou
devo ficar aqui quieto no meu canto sossegado só olhando? Mas se esse delegado
me encostar a mão ele vai ver só porque eu não tenho culpa do pecado se expor
em um balcão de bar as três da tarde de um sábado, e eu acho que já basta,
voltamos aonde paramos com a corja subindo a rampa do mercado e sem a presença
de Jorda e do Veleiro agora que ficaram lá embaixo trepando <e eu
francamente acho o verbo TREPAR um verbo maravilhoso tão menos
dissimulado quanto o verbo AMAR ou mesmo TRANSAR> E eles trepariam a
madrugada inteira e ninguém os impediria disso – E EU AGORA DEITADO NA GRAMA
ENQUANTO OLHO AS ESTRELAS TRAVESSAS FEITO CRIANÇAS DEPILADINHAS NO CÉU MMMM
ENQUANTO O BOCA AFINA SEU VIOLÃO E O CARCAMANO CONFABULANDO UMA NOVA INTERA PARA
A CACHAÇA COM O RESTO DA CORJA, e aí sim, todos nós reunidos ali na grama com o
Boca tocando o Choro da Bia e a garrafa passando de mão em mão então eu vejo um
grupo de estivadores bêbados se arrastarem devagar até nós com outra garrafa de
cachaça querendo fazer parte do grupo e o que há de errado com a cena? Afinal,
invadimos o espaço deles e eles são uma família também no frio da madrugada e eu
observo curioso que há entre eles uma senhora de certa idade de braços fortes e
olhar fundo e sofrido que faz você chorar e ela dá grandes goladas heróicas em
sua garrafa de cachaça e solta grandes gargalhadas que ecoam na madrugada fria e
esta viria ser a Dona Gregária que Ecumênicus trataria com humanidade em uma
das páginas de seu livro o Sindicato dos Inválidos que ele escreveu desesperadamente
em uma noite no meu quarto enquanto eu rolava com a minha gastrite estourada e
depois de passarmos uma tarde toda juntos bebendo pelo centro da cidade após participarmos
de uma reunião dos ALCÓOLICOS Anônimos que funcionava na Praça da Matriz - E eu
não esqueço mais este dia em que eu o reencontrei pela manhã durante uma
passeata inflamada dos Professores do estado na Avenida Sete de Setembro e meus
pés descalços ardiam no asfalto porque eu havia perdido minhas sandálias na
madrugada, na verdade não foi bem assim não, foi bem pior e eu não tenho pudor
algum em contar - Um cara roubou minhas sandálias enquanto eu dormia nas portas
do Teatro Amazonas e ele me disse que eu deveria chupá-lo se não quisesse
morrer e ele na verdade apontava uma Lâmina afiada para o meu pescoço e ele
então abriu sua braguilha e me fez chupar o seu grande pau negro e brilhoso,
bem ali às portas do Teatro Amazonas e eu então o chupei sem pudor em troca da
minha vida (e quanto isso parece ser tão
trágico, não é mesmo - e você agora portanto sorrindo ou estranhando tudo isso
sem querer acreditar muito, fazer o quê) e como se não bastasse o malandro
depois de gozar em meu rosto e me dá uns tapas na cara, queria minha sandália
também, cara doido - e quando ele partiu na madrugada, eu mirei meu olhos cheios de lágrimas pra lua e voltei a dormir sossegado e acordei com os
raios do sol lambendo meus rosto e os sinos da São Sebastião tocando logo cedo pela
manhã e eu vi que não tinha mais sandálias e então comecei a caminhar pelas
ruas do centro da cidade as sete da manhã feito um ÉDIPO DE OLHOS FURADOS entrando
e saindo das lojas sentindo o cheiro dos
sapatos nas vitrines com tanta naturalidade que não era importunado por ninguém
e foi nesse dia que andando a esmo
reencontrei Ecumênicus em uma passeata inflamada dos professores do estado que
se dirigia ao Palácio da Sete e eu me juntei e segui com eles, e os meus pés
descalços e inchados de Édipo queimavam no asfalto super quente e Ecumênicus
então me disse pra ter paciência que mais tarde ele me compraria sandálias
novas só que os meus pés queimavam e eu então emprestei os tamancos de uma
militante linda que estava ao meu lado e ela me emprestou seus tamancos e
quando o aparelho do estado chegou para reprimir a manifestação, Ecumênicus me pegou
pelo braço e sumimos na multidão que nem sentimos os coturnos e os cassetetes
dos milicos estourarem em nossas costas e
demos o fora dali e fomos comprar as minhas sandálias que eram mais
importantes, mas eu achei que eu deveria ficar com aqueles saltos e andar pelo
centro da cidade ao seu lado que era pra provocar as pessoas e fazê-las acordar
de sua sonolência e estupidez & dessa vez fomos expulsos de lojas, e um
restaurante na Marechal Deodoro nos cobrou um preço altíssimo por dois pratos
de comida – Na verdade, o gerente adulterou a balança e queria que pagássemos
um preço exorbitante pelo almoço, mas sabíamos que era por causa dos saltos,
pela afronta, pela palhaçada, seja lá a merda que fosse e então Ecumênicus com
diplamacia disse que não pagaríamos e que iríamos acionar o MPE, e aí então, o
cara abriu um sorriso largo e disse que checaria melhor a balança e no final
pagamos um preço razoável e saímos daquele restaurante satisfeitos – E ao
passarmos em frente á Igreja Matriz, resolvemos fazer uma visita ao Alcóolicos
Anônimos e eu não sei de quem foi aquela idéia louca, sei que adentramos ao
prédio que ficava nos fundos da antiga Aviaquário onde na minha infância, após
a missa das oito, eu brincava nos balanços e escorregadores sob os olhos
vigilantes do meu pai e depois ele me levava ao Rodway para ver os navios – e
chegamos bem na hora dos testemunhos, e um cara comprido nos saudou e pediu que
os visitantes ocupassem as cadeiras da frente e ele então iniciou o cerimonial
agradecendo a presença de todos – e aquilo durou longos minutos, e assim que
ele abriu para os testemunhos, eu cochichei no ouvido de Ecumênicus para que
ele, ao invés de mim, ocupasse o púlpito e ele assim então o fez, não sem antes
ouvirmos um testemunho dramático e assustador de um policial abstêmio que havia
estourado a cabeça da esposa com uma .45, amargando uns anos na Jobim e agora
estava na condicional, mas continuava a beber e queria largar, e ele agora falando
sem parar e sua cabeça enorme e vermelha e as veias saltando do pescoço e as
lágrimas descendo torrencialmente dos olhos que eu senti pavor e frio nos pés
que se equilibravam nos tamancos – e aí então uma luz vermelha foi acessa e ele
parou de falar senão certamente ele ficaria a tarde inteira tagarelando sua
tragédia alcóolica, e foi a vez de Ecumênicus subir no púlpito e uma luz azul
foi acionada e ele juntando as mãos como um bom orador começou sua fala
agradecendo pelo milagre do álcool na vida daquelas pessoas, porque graças ao
álcool não seria possível compartilhar da humanidade, do crescimento e da experiência de cada alma ali presente e
blá blá blá blá blá blá, e foi nesse momento que eu olhei preocupado para trás
e vi muito ódio explodindo em formas de veias dilatadas nos rostos vermelhos de cada uma daquelas
pessoas ali presentes e enquanto Ecumênicus falava ouvia-se um burburinho de
vozes e alguns deles se levantando enfurecido e o arrastar de cadeiras e o cara
que havia dado um balaço na cabeça da esposa desferiu sua mão poderosa no extintor
de incêndio e uma luz vermelha acendeu imediatamente e o cerimonialista
precisou urgentemente retirar Ecumênicus do púlpito, e quando ele voltou a
sentar, eu disse a ele que deveríamos dar o fora dali porque se não seríamos linchados
e depois meus pés já não agüentava mais sobre aqueles tamancos e que eu
precisava mesmo das sandálias e então caímos fora dali – E finalmente após ele
ter me comprado as sandálias, fomos encher a cara no Mercadão, e olhar o
entardecer do Rio Negro mmmmm
& onde foi que paramos mesmo?
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