PARTE II .
Bom, não vou entrar em detalhes, mas era um botecozinho
desses bem chinfrin, bem nojentinho mesmo. O Cu arredou sua cadeira para mais
junto de FraNZ, olhou bem dentro de seus olhos e disse:
_Você é Hilda, o autor de O LIVRO DOS DESEJOS ANAIS, não
é mesmo?” FraNZ não disse nada, apenas que sorriu desconsertadamente como um
dos sinos desafinados da Igreja dos Remédios.
“Não adianta me esconder nada, querrido, eu sinto essas
coisas exteriores.” Disse o Cu. Franz TRIS-TO-NHA-MEN-TE DOIS PONTOS “Se não
convenci um Cu de minha representação, não convencerei nem mesmo a própria
academia”.
“Você não precisa convencer ninguém. E eu não sou um cu.
Eu sou o Cu. E ao contrário do que se imagina, todo Cu tem um nome. O meu é
Barros. Barros de Alencar.e Silva. Muito prazer!”
“FraNZ, prazer!!”
FraNZ ficara mesmo meio sem jeito ao cumprimentá-lo. A
moça com uma verruga enorme no nariz e que trazia a cerveja, fingiu cinicamente
que aquilo não estava acontecendo, assim como também fingira sua vida inteira
que aquela verruga enorme e feia em seu nariz nunca existiu. Moscas azuis
sobrevoavam curiosamente o Cu. Mas ele parecia não se importar. Era ficha
limpa.
AGORA DÊEM-ME SÓ UM SEGUNDINHO PARA PENSAR NA FRASE
SEGUINTE RETICENCIAS
Bom, é isso. Olhando ao redor, O Cu que se chamava Barros
de Alencar. e Silva, falou com nostalgia:
“Vínhamos sempre aqui, o velhinho e eu, discutir literatura
clássica. Ahh, um saco, todo aquele papo helênico. Você me libertou e agora
devo tudo a você, FraNZ, querrido.”
PORRA, O CU COMO OS OUTROS TAMBÉM ARRANHAVA O “N” E O “Z”
E AINDA POR CIMA HAVIA AQUELE ERRE DOBRADO E AFRANCESSADO E FRANZ OBVIAMENTE COMEÇARIA
A DETESTAR AQUILO.
Franz desfilou aquele gestozinho clássico com a mão
direita porque FraNZ era destro, tipo TRAVESSÃO Ora quê isso, esquece – “Sério
mesmo, o velhinho era um saco, e digo-lhe mais, vivi todo esse tempo na bosta
daquela academia servindo aquele velho escroto no meio de toda aquela gente
escrota, e portanto chata; uma vida toda desperdiçada, vivendo na mais absoluta
escuridão pueril e enferma de ideias e palavras reinantes naquela merda de
academia.”
“Bom – FraNZ ia dizer – “Fico contente em ajudar” OU
então “Mas eu não fiz nada”, mas Barros de Alencar. e Silva o interrompeu
dizendo:
“Não, você não entende querrido, sua alma é livre e você
me libertou, e agora me sinto culpado por não ter dinheiro para pagar nem esta
cerveja, é que o velho era misarento e não me deixou um único centavo
RETICENCIAS TRISTES
E MAIS: SE O CU TIVESSE MÃOZINHAS TERIA ENFIADO ELAS EM
SEUS BOLSOS IMAGINÁRIOS SIMULANDO DUREZA E TAMBÉM TERIA FEITO AQUELA CARA DE
MUXOXO, MAS FRANZ ENTENDEU PERFEITAMENTE PORQUE FRANZ JÁ PASSARA POR ISSO,
ANTES DE SE TORNAR UM PROFESSORZINHO DE ENSINO MÉDIO COM UMA ÚNICA CADEIRA E
MAL PAGO (...) IDEM A MAIS
“Esquenta não! Deixa que eu pago.” FraNZ disse.
FIIIIIUUUUU O Cu assobiou animadinho pedindo outra:
“FraNZ meu querrido, quero ouvir mais de você... e não me venha com teorias, á
merda com teorias.
O Cu parecia mesmo excitado.
“Não tenho muito o que falar de mim, apenas que escrevo
para poder suportar o fardo da vida.” Os olhos do Cu brilharam. Um ventilador
de teto ordinário de marca paraguaia girava sobre suas cabeças. Algumas poucas
pessoas incomodadas pelo odor que se espalhava pelo botecozinho retiravam-se
dali em silenciosos protestos. FraNZ olhou pela ultima vez a verruga enorme e
feia no nariz da garçonete e jurou que nunca mais olharia aquilo outra vez enquanto
ele permanecesse naquele lugar nojento e fedido. Aí o Cu desandou a falar
ES-PAS-MO-DI-CA-MENTE: “FraNZ, meu querrido, anote bem isso: “A VIDA É UMA TELA VANGOGHIANA MAL FEITA E
MAL COMPREENDIDA”, você tem brilho, talento, meu rapaz, não precisa mais se
esconder atrás dessa máscara de Carlitos, seja você mesmo, deixe o seu cu falar
por si, FraNZ, vivemos a época do esvaziamento criativo, da falta da
compreensão anal, veja o Joyce, por exemplo, ele ainda é o que é hoje porque
deixou seu cu falar, deixe o seu cu falar FraNZ, temos muito o que dizer e o
que ensinar, é preciso dosar as coisas, amar e perverter, você está anotando
isso, querrido, não está? o amor sem a perversão não existe, e você está no
caminho certo, OS ESCRITORES DE HOJE PRECISAM ABRIR SEUS CUS E VIVER A PLENITUDE DO AMOR E DA PERVERSÃO, o amor não está somente na penetração, não é
apenas quando se mete, mas quando se tira também, a palavra é um grande esporão
do amor, deixe que ela repouse dentro de você depois de gozar, por que a pressa?
a pressa não existe para os amantes, não é mesmo? ela não nos permite chegar a
nenhum lugar, FraNZ meu querrido, você me libertou e eu não posso nem pagar-lhe
uma cerveja, mas veja bem, estamos bebendo nessa espeluncazinha minúscula e
fedida, mas podemos ainda beber em outro lugar mais amplo, que tal, só que não
tenho dinheiro, o velhinho era misarento, não me deixou nada, eu catei seus
bolsos, você viu, mas ele não tinha mais nada, ele se foi para sempre devendo
as pessoas e o mundo, tentei ajudá-lo direcionando-o a uma escrita mais livre,
mas ele era teimoso, nunca me ouvia, é um problema dos escritores hoje, não
ouvem seus próprios cus, nos subestimam, para eles somos apenas uma pequena
peça do mecanismo fisiológico que faz a máquina humana funcionar, mas nós
pensamos e jogamos também de forma diversificada, escrever não é só uma questão
racional, é ter a carta certa nas mãos certas, é saber girar a roleta, é dar um
novo corpo ao mundo, lembra-se de Dosto, ah, o nosso velho Dostoieviski, este
sim sabia jogar e ouvir o próprio cu, quanto mais se perde mais se ganha, GRIFO
MEU, NÃO, DE FRANZ, NÃO, DO CU, OKEI OKEY, MEU MESMO AH, QUE DIFERENÇA FAZ. AH,
FraNZ, vamos aos puteiros, o velhinho não era apreciador desses lugares,
tratava-se de uma alma ranzinza e
bastante recatada, e acredite, ia à Igreja aos domingos e me fazia ouvir My Way
do Frank Sinatra, um beato, agora imagine FraNZ, todos esses longos e torturantes anos
levando uma vida chata e ouvindo Sinatra, A ESCRITA É LIVRE, imploda mesmo as fibras
arquitetônicas do dizer velho, as hierarquias morais, o homem é uma pequena
amostra da infelicidade, e daí? foda-se, se um dia você acabar sozinho e cego,
não acredite na escuridão, as palavras seguem a voz de dentro.
E ELE ENCERROU DIZENDO
a vida não é uma novelinha barata, FraNZ
querrido, a vida é um romance puro, este século não vai nos cheirar, esqueça a
academia, vamos aos puteiros!
E CAÍMOS FORA DALI
sim, esqueça a academia e vamos aos puteiros.
ResponderExcluirAdorei márcio, muito bom, estou encantada da leitura, a partir de hoje, ouvirei meu próprio cu.