quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

UM COLÓQUIO COM O CU NUM BOTECO SUJO ANTES DE DESCEREM AO PUTEIRO



PARTE II .

Bom, não vou entrar em detalhes, mas era um botecozinho desses bem chinfrin, bem nojentinho mesmo. O Cu arredou sua cadeira para mais junto de FraNZ, olhou bem dentro de seus olhos e disse:
_Você é Hilda, o autor de O LIVRO DOS DESEJOS ANAIS, não é mesmo?” FraNZ não disse nada, apenas que sorriu desconsertadamente como um dos sinos desafinados da Igreja dos Remédios.
“Não adianta me esconder nada, querrido, eu sinto essas coisas exteriores.” Disse o Cu. Franz TRIS-TO-NHA-MEN-TE DOIS PONTOS “Se não convenci um Cu de minha representação, não convencerei nem mesmo a própria academia”.
“Você não precisa convencer ninguém. E eu não sou um cu. Eu sou o Cu. E ao contrário do que se imagina, todo Cu tem um nome. O meu é Barros. Barros de Alencar.e Silva. Muito prazer!”
“FraNZ, prazer!!”
FraNZ ficara mesmo meio sem jeito ao cumprimentá-lo. A moça com uma verruga enorme no nariz e que trazia a cerveja, fingiu cinicamente que aquilo não estava acontecendo, assim como também fingira sua vida inteira que aquela verruga enorme e feia em seu nariz nunca existiu. Moscas azuis sobrevoavam curiosamente o Cu. Mas ele parecia não se importar. Era ficha limpa.
AGORA DÊEM-ME SÓ UM SEGUNDINHO PARA PENSAR NA FRASE SEGUINTE RETICENCIAS
Bom, é isso. Olhando ao redor, O Cu que se chamava Barros de Alencar. e Silva, falou com nostalgia:
“Vínhamos sempre aqui, o velhinho e eu, discutir literatura clássica. Ahh, um saco, todo aquele papo helênico. Você me libertou e agora devo tudo a você, FraNZ, querrido.”

PORRA, O CU COMO OS OUTROS TAMBÉM ARRANHAVA O “N” E O “Z” E AINDA POR CIMA HAVIA AQUELE ERRE DOBRADO E AFRANCESSADO E FRANZ OBVIAMENTE COMEÇARIA A DETESTAR AQUILO.

Franz desfilou aquele gestozinho clássico com a mão direita porque FraNZ era destro, tipo TRAVESSÃO Ora quê isso, esquece – “Sério mesmo, o velhinho era um saco, e digo-lhe mais, vivi todo esse tempo na bosta daquela academia servindo aquele velho escroto no meio de toda aquela gente escrota, e portanto chata; uma vida toda desperdiçada, vivendo na mais absoluta escuridão pueril e enferma de ideias e palavras reinantes naquela merda de academia.”
“Bom – FraNZ ia dizer – “Fico contente em ajudar” OU então “Mas eu não fiz nada”, mas Barros de Alencar. e Silva o interrompeu dizendo:
“Não, você não entende querrido, sua alma é livre e você me libertou, e agora me sinto culpado por não ter dinheiro para pagar nem esta cerveja, é que o velho era misarento e não me deixou um único centavo RETICENCIAS TRISTES 

E MAIS: SE O CU TIVESSE MÃOZINHAS TERIA ENFIADO ELAS EM SEUS BOLSOS IMAGINÁRIOS SIMULANDO DUREZA E TAMBÉM TERIA FEITO AQUELA CARA DE MUXOXO, MAS FRANZ ENTENDEU PERFEITAMENTE PORQUE FRANZ JÁ PASSARA POR ISSO, ANTES DE SE TORNAR UM PROFESSORZINHO DE ENSINO MÉDIO COM UMA ÚNICA CADEIRA E MAL PAGO (...) IDEM A MAIS

“Esquenta não! Deixa que eu pago.” FraNZ disse.
FIIIIIUUUUU O Cu assobiou animadinho pedindo outra: “FraNZ meu querrido, quero ouvir mais de você... e não me venha com teorias, á merda com teorias.
O Cu parecia mesmo excitado.
“Não tenho muito o que falar de mim, apenas que escrevo para poder suportar o fardo da vida.” Os olhos do Cu brilharam. Um ventilador de teto ordinário de marca paraguaia girava sobre suas cabeças. Algumas poucas pessoas incomodadas pelo odor que se espalhava pelo botecozinho retiravam-se dali em silenciosos protestos. FraNZ olhou pela ultima vez a verruga enorme e feia no nariz da garçonete e jurou que nunca mais olharia aquilo outra vez enquanto ele permanecesse naquele lugar nojento e fedido. Aí o Cu desandou a falar ES-PAS-MO-DI-CA-MENTE: “FraNZ, meu querrido, anote bem isso: “A VIDA É UMA TELA VANGOGHIANA MAL FEITA E MAL COMPREENDIDA”, você tem brilho, talento, meu rapaz, não precisa mais se esconder atrás dessa máscara de Carlitos, seja você mesmo, deixe o seu cu falar por si, FraNZ, vivemos a época do esvaziamento criativo, da falta da compreensão anal, veja o Joyce, por exemplo, ele ainda é o que é hoje porque deixou seu cu falar, deixe o seu cu falar FraNZ, temos muito o que dizer e o que ensinar, é preciso dosar as coisas, amar e perverter, você está anotando isso, querrido, não está? o amor sem a perversão não existe, e você está no caminho certo, OS ESCRITORES DE HOJE PRECISAM  ABRIR SEUS CUS E VIVER A PLENITUDE DO AMOR E DA PERVERSÃO, o amor não está somente na penetração, não é apenas quando se mete, mas quando se tira também, a palavra é um grande esporão do amor, deixe que ela repouse dentro de você depois de gozar, por que a pressa? a pressa não existe para os amantes, não é mesmo? ela não nos permite chegar a nenhum lugar, FraNZ meu querrido, você me libertou e eu não posso nem pagar-lhe uma cerveja, mas veja bem, estamos bebendo nessa espeluncazinha minúscula e fedida, mas podemos ainda beber em outro lugar mais amplo, que tal, só que não tenho dinheiro, o velhinho era misarento, não me deixou nada, eu catei seus bolsos, você viu, mas ele não tinha mais nada, ele se foi para sempre devendo as pessoas e o mundo, tentei ajudá-lo direcionando-o a uma escrita mais livre, mas ele era teimoso, nunca me ouvia, é um problema dos escritores hoje, não ouvem seus próprios cus, nos subestimam, para eles somos apenas uma pequena peça do mecanismo fisiológico que faz a máquina humana funcionar, mas nós pensamos e jogamos também de forma diversificada, escrever não é só uma questão racional, é ter a carta certa nas mãos certas, é saber girar a roleta, é dar um novo corpo ao mundo, lembra-se de Dosto, ah, o nosso velho Dostoieviski, este sim sabia jogar e ouvir o próprio cu, quanto mais se perde mais se ganha, GRIFO MEU, NÃO, DE FRANZ, NÃO, DO CU, OKEI OKEY, MEU MESMO AH, QUE DIFERENÇA FAZ. AH, FraNZ, vamos aos puteiros, o velhinho não era apreciador desses lugares, tratava-se  de uma alma ranzinza e bastante recatada, e acredite, ia à Igreja aos domingos e me fazia ouvir My Way do Frank Sinatra, um beato, agora imagine FraNZ, todos esses longos e torturantes anos levando uma vida chata e ouvindo Sinatra,  A ESCRITA É LIVRE, imploda mesmo as fibras arquitetônicas do dizer velho, as hierarquias morais, o homem é uma pequena amostra da infelicidade, e daí? foda-se, se um dia você acabar sozinho e cego, não acredite na escuridão, as palavras seguem a voz de dentro.

E ELE ENCERROU DIZENDO

 a vida não é uma novelinha barata, FraNZ querrido, a vida é um romance puro, este século não vai nos cheirar, esqueça a academia, vamos aos puteiros!

E CAÍMOS FORA DALI 

Um comentário:

  1. sim, esqueça a academia e vamos aos puteiros.
    Adorei márcio, muito bom, estou encantada da leitura, a partir de hoje, ouvirei meu próprio cu.

    ResponderExcluir