quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

DA ACADEMIA DOS BOLINHOS E CHAZINHOS OU UMA EPIFANIA ANAL



PARTE I
         Tudo corria na santa paz gloriosa os misericordiosos de Deus e benfeitores das letras, onde se discutia, além da forma e estética na obra de Ulisses, o projeto do governo para a reforma do prédio e também mais verba para a Academia Amazonense de Letras e para o bolso dos seus cátedras, QUANDO DE REPENTE um palhaço ( pois que tinha um rosto grossamente pintado de Carlitos – e não se sabe de onde surgiu a criatura) resolveu foder com tudo, atirando bocejadamente sobre a mesa, um livro borrado de desgostos, conhaques e café, intitulado: “O LIVRO DOS DESEJOS ANAIS”, causando, é lógico, reações adversas:
       “Mas o que significa isto?” - Berrou um velhinho cadeirante e ranzinza sentado á cabaceira.
        “É um livro, poetinha. O Livro dos desejos Anais." Explicou o infortúnio convidado. Os demais permaneceram em silencio como as pedras ornamentais do Largo.
         “Quem é você?”
        “Sou um escritor marginal”.
       “Como ele entrou aqui?” O velhinho cadeirante virou-se para o homem de jaquetinha verde profetizado por Karl Marx e que ocupava a cadeira de número 34.
      “Calma, poetinha, olhe sua pressão.” Falou o homem da jaquetinha verde. O velhinho cadeirante virando-se outra vez para o importuno convidado, falou: “Escuta aqui, meu camarada, aqui não servimos cachaça. Apenas biscoitos e chás, quando muito - e isso somente em ocasiões especiais - umas dosezinhas de whisky, ademais, isso aqui não é um circo ou um prostíbulo. Isso aqui é uma academia séria. Portanto, o que faz aqui?”
     “Propor a discussão desse livro, considerando que estamos falando sobre forma e estética.” Falou o escritor marginal que tinha o rosto grossamente pintado de Carlitos e que, sentado nos fundos e devido o disfarce, era impossível, portanto, saber de quem se tratava. Um outro membro da academia, de rosto redondo e ligeiramente calvo e que até então se mantinha petrificado como os demais colegas, mas que parecia saber do que tratava, manifestou sua curiosidade:
       “Quem é o autor deste livro? O homem ou o cão?”
      “O homem, é lógico. Assina como Hilda. O Cão apenas ladra e não há qualquer relevância no que diz ou escreve.”
     “Ahh, eu sabia, são aqueles jovens terroristas que adoram atacar a academia e querem a todo custo destruí-la.” Esbravejou o velhinho cadeirante já bastante nervoso.
    “Ran Ran (tosses) se me permitem o adendo, eu li este livro, e afirmo se tratar de um livro sem conteúdo e sem forma, embora a intenção fosse boa como todo livro o é – sem desmerecer também o fôlego das palavras juvenis, não mais, o livro em si, aqui presente, inviabilizaria qualquer discussão acerca do que nos propusemos a falar.” Falou este outro membro da academia que era jornalista e justificavelmente magro e que também usava óculos de lentes grossas que lhe davam um aspecto frio e a capacidade patológica e ameaçadora de matar. Mas o escritor marginal não se intimidou:
     “A forma e a estética proposta neste livro vão muito além de uma simples intenção de ardor juvenil deste escritor. Refiro-me ao objeto estético puro, como forma arquitetônica, mas que possível de implodir e reafirmar o novo.” 
    Os célebres cátedras ajeitaram-se todos de uma só vez em suas cadeiras numeradas, como se todos eles ­- num ato conspirativo - resolvessem peidar de uma vez só. Um deles falou:
    “Você está blefando meu rapaz.” Foi um dos senhores cujos cabelos brancos lembravam nuvens brancas paralíticas.
    “Calma senhores, olhem suas pressões! Seus chás vão esfriar." Insistia o homem da jaquetinha profetizado por Karl Marx e que ocupava a cadeira de número 34.  
     “O que você escreveu até aqui, meu rapaz?” Perguntou um outro que escondia um frasco de Jhonny Walker no bolso esquerdo de seu paletó e parecia o único ali bastante interessado.
    “O que já escrevi até aqui, é irrelevante diante de O Livro dos Desejos Anais. Mas que porventura, o mesmo levou-me ao esboço de A Morte da Sentença e o Cárcere das Aspas que pretendo publicar um dia, ou não.” Foi aí então que todos ouviram uma voz timbrosa falar:
     “O que seria de uma obra clássica se decretarmos a morte da sentença e abrirmos mãos das aspas que guardam em seus interiores, supostas citações uterinas? Muito interessante...” Não se sabe de onde veio a voz. Cogitaram que a voz viesse do homem da jaquetinha verde profetizado por Karl Marx. Mas ele tratou logo de esquivar-se da culpa encolhendo os ombros covardemente.
    “Um acontecimento possível.” Complementou o escritor marginal, tentando também adivinhar de onde vinha a voz.
      “Sem dúvida. Um acontecimento extraordinário”. Tornou a voz.
    “Também acho.” Disse o homem que escondia o frasco de Jhonny Walker no bolso esquerdo de seu paletó.
    “Estamos fugindo da pauta investigativa dessa reunião, senhores!” Falou o homem de cabelos brancos feito nuvens paralíticas.
    “Não! Ainda estamos dentro da análise do plano puramente estético da forma enquanto forma arquitetônica proposta pelo jovem que aqui se faz presente.” Falou a voz misteriosa.
    “MERDA!!” 
   Todos olharam dessa vez para o velhinho cadeirante que se contorcia todo. “O DESPERTAR DE FINERGAN NÃO É MAIS A SÍNTESE DO PENSAMENTO MODERNO. JOYCE É UM GÊNIO, MAS ESTÁ MORTO!! PROSSIGAM! PROSSIGAM” 
  “NÃO! NÃO! NÃO LIGUEM PARA O QUE ELE FALA”. Berrou o velhinho cadeirante. 
  “HÁ UMA SONORIDADE EM HILDA. UM DESESPERO ÚNICO E BELO. NADA MAIS SE ESGOTA. Insistia a voz enquanto a parte inferior que correspondia ao ânus do velhinho cadeirante, começou a inchar e a inchar, de maneira que formou-se uma bola gigante de inchaço e pus, até finalmente aquilo explodir cobrindo de merda todos os cátedras que ali se faziam presentes. No entanto, todo aquele espetáculo bizarro parecia não ter mais fim, pois que, do meio daquele escombro de merda e vísceras humanas, eis que surge um CU enorme tentando a todo custo, manter-se ereto. O escritor marginal que parecia já ter visto de tudo, era o único que assistia passível toda aquela cena. O Cu olhou fixamente para o escritor marginal e disse com belíssimo timbre e postagem de voz:
   “Me desculpa todo esse constrangimento, meu querrido, mas é que eu precisava cumprimentá-lo e agradecer por ter me libertado.” O escritor marginal não sabia o que dizer. “Vamos tomar uma cerveja e conversarmos longe dessa merda toda!” Propôs o cu.

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