sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

FELICIDADE É VER SUA MÃE MORRENDO COM CÂNCER NO CU



     a maior Felicidade que alguém pode alcançar é não se ver na posição de algum Desgraçado.

       Quer um cigarro?

     mas como eu ia dizendo, não tem prazer maior que esse. lembra da mulher do Plínio? pois é. quando fiquei sabendo que ela estava com o Câncer no estômago e que o tumor também espalhara-se pelo esôfago, eu delirei. fiz questão de ir ao hospital, de vê-la naquele estado terminal, tomando morfina para não se cagar de dor. naquele dia, ela estava consciente. ela era um simulacro do que fora antes. estava magra, um esqueleto. quando tinha saúde, era gorda, um ovo. naquele dia falei de carne, falei dos churrascos que eu organizava lá em casa. ela, provavelmente, se lembrou de como se deleitava com a carne, com carne que nunca mais ia poder comer. a carne dela estava, naquele momento, sendo devorada. uma sonda para comida, uma sonda para cagar, sondas viver. sondas enfiadas em todos os orifícios naturais e naqueles que os médicos abriram à força. quando saí do quarto, fiz questão de falar para ela: “você vai ficar boa”. ela sorriu.por dentro, eu Olhava aquele Resto de ser humano, Olhava para aquilo e me sentia feliz. imagine eu ali? não, eu não estava ali.  isto para mim, é felicidade.

    quer um cigarro?

   nas manhãs, eu sempre peço a Deus que Derrube um avião, na madrugada, ou pela manhã, mesmo. para falar a verdade, em qualquer hora do dia. peço a Ele um Acidente de avião que Mate vários de uma vez só. é uma delícia abrir o jornal e ver as primeiras notícias. o Desespero dos parentes (eu não queria ser um deles). ver filhos, mães e pais Chorando (eu não queria esta na pele deles, ser a carne deles). sinto-me mais feliz quando começam a divulgar as fotos das vítimas. fotos delas sorridentes. que Deleite depois imaginá-las no último instante de vida. imaginá-las Loucas, Desesperadas com o Medo da Morte iminente. depois imaginá-las sendo queimadas vivas. Ouço, em minha mente, seus gritos de dor. Ouço o grito do piloto gravado na caixa-preta, um grito pequeno diante da Grandeza da Morte. eu sentando em frente à televisão, enquanto as vítimas Carbonizadas estão sendo carregadas naqueles sacos verdes do exército. todas elas Despedaçadas. familiares reunidos de óculos escuros. eles, lá, Enterrando um Resto de ser humano. que Bom, isto me alivia, me faz Feliz. eu Não Sou eles. eu não estou na Pele deles.

    quer um cigarro?

    ao assistir esses meninos vendendo bala no sinal, fico Feliz. lembro da vida boa nas praias do litoral nordestino. lembro de mamãe comprando todos os brinquedos para mim. lembro de papai pagando os melhores colégios, satisfeitos pelo fato de eu não ser gay, ladrão, cheirador de cocaína, traficante, homicida e estuprador; enfim, a escória do mundo. lembro da minha família no melhor padrão burguês, pai e mãe austeros sentados à mesa com os filhos, todos heterossexuais. irmãs honestas, irmãs heterossexuais. burguesas de qualidade. não, elas não são aquelas prostitutas. a mãe desses meninos são todas Putas, Vagabundas, Piranhas. eles, os Projetos de seres humanos, têm um simulacro de casa, de família e de vida. são Somente Projetos, algo que ainda não evoluiu. a família desses meninos consiste num reprodutor viciado em crack ou em álcool que, por acidente, deixou umas gotas de esperma fecundarem umas Vadias. são como dois cachorros de rua, os pais desses garotos. sinto-me Feliz por não ser um deles. eu disse que me sinto Feliz. não tenho Dó deles. se eles não existissem, como eu me sentiria Feliz? que brotem da terra, sempre e continuem como indivíduos unicelulares.

  quer um cigarro?

  imagine o mundo sem professores Brasileiros Esfarrapados dando aulas em escolas públicas? eles usando Simulacro de roupas e de alunos. você acha que em escolas públicas existem seres pensantes? não, não existem! existem futuros professores esfarrapados, pedreiros, operadores de telemarketing, prostitutas, empregadas domésticas, dentre outros escravos do século XXI. o mundo sem eles? que Tédio. eu não seria feliz. não seria, pois não poderia observá-los reclamando por bons salários. salários que eles consideram bons. salários esses que ganho em meia hora de trabalho. não sou um deles, sou feliz.

   quer um cigarro?

  você não quer um cigarro. você quer bancar o moderninho. quer ser de vanguarda. quer bancar o cara sem preconceitos que preserva a natureza e sonha no dia em que as pessoas, para movimentarem seus próprios automóveis, peidarão no tanque destinado ao combustível. peidarão, peidarão não pelo prazer de peidar, mas, sim, peidarão em prol da natureza. você é uma escória. uma pessoa que não possui preconceitos jamais poderá ser feliz.

   vou te perguntar de novo:  quer um cigarro?

2 comentários:

  1. Que lindo, Márcio, me senti muito bem lendo isso aí,sabendo de verdade que esse pensamento não tem nada a ver contigo, Linda crítica a burguesia, que deslumbrante sua literatura, meu bem!

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  2. Acho que o sentido crítico se torna sublime quando se torna universalizado.
    "uma pessoa que não possui preconceitos jamais poderá ser feliz."

    Isso, isso, isso, calar-me-ei inebriado por tão singela sabedoria.

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