I
Talvez devesse falar agora de meu
priapismo. Tenho priapismo desde os quinze. Aos trinta tive um que quase me
custou a vida. É, foi. Vou lhes contar.
O nome dela era Madalena e ela na
ocasião devia ter seus cinquenta e poucos anos, sei lá, nunca quis saber, o
barato era sair metendo em qualquer buraco de mulher que me desse bola. Madá me
dava a maior bola. Apesar da idade, era uma negona enxutaça, baixa, corpão
maravilhoso! Tinha uns seios fartões que balançavam alegres quando ela ficava
ali batendo roupas sobre o tanque do seu quintal, a manhã inteirinha. Tinha
alma e língua de lavadeira quando entrava numas com o maridão, mas era só levar
umas bofetadas do cara que ela logo ficava mansinha, mansinha. Madalena gostava
de levar umas bordoadas do maridão. Caralho! Por que será que estou me
lembrando dessas coisas! Ah, sim, a minha crise de priapismo. Pois bem. O
cafofo da dona dava fundos para minha casa no bairro da Glória e todos os dias
eu abria a janela da cozinha do meu barraco só para ver aqueles enormes peitões
balançando naquele vestido sem alça: o volume do meu pênis apontado para cima,
rosnando pra lua feito um cão. Às vezes eu batia uma punheta ali mesmo olhando
ela lavar roupa e cantando. Gozava e lançava as sementinhas no quintal. Depois
guardava o pau e dizia a mim mesmo: um dia vou foder essa coroa! Era o meu
desejo.
II
Bom, a dona ficava sozinha o dia
inteiro batendo roupas, cuidando da casa e os cambal. Não havia filhos. Não se
ouvia choro de moleque algum. Melhor assim. O maridão – um brutamontes mal
encarado – dava o maior duro como motorista de ônibus na empresa Cascavel. Um
dia Madalena me viu punhetando e sorriu. Todos os dias ela sorria de lá para
mim. Um dia ela me chamou com um movimento da cabeça e eu varei as cercas do
quintal que separava os nossos mundos de luxúria e desejo e fui até lá.
Conversei um pouco com ela na porta da cozinha que era pra disfarçar, mas logo
ela me convidou pra entrar. Entrei. Ficamos frente a frente. Eram três da tarde
de um dia desses qualquer de muito calor. Ela tinha um cheiro forte. Acebolado.
A bunda era enorme. Maior do que imaginava. Eu avancei naquela mulher.
Abocanhei os peitões dela. Menino, ela disse. Encostei-a na parede e meti o
dedo em sua buceta. Ela abriu bem os seus olhos negros quando o dedo penetrou
lá fundo. Cheirei em
seguida. Tinha um cheiro azedo e gostoso. Um cheiro bom. Ela
me empurrou sobre o sofá da sala e foi se livrando do vestido e montando em mim. Não usava calcinha
por baixo. Melhor ainda. O pau encaixou direitinho. Parecia feito na medida
para aquela buceta toda negra e de lábios bem vermelhos. Ficamos ali, num
vai-e-vem gostoso. Pra cima e pra baixo. Putz! Madalena. Aquela mulher sabia
foder como ninguém. Valia por três de vinte. Ficamos ali horas. Pedi pra comer
o cu dela, mas ela se recusou. Prometeu que outro dia eu comeria o cu dela.
Continuamos metendo. Demoramos a gozar.
III
No dia seguinte, lá estava eu outra
vez batendo de novo na porta de Madá depois que ela me dava o sinal com a
cabeça. E mais sexo. Sempre tenho muito estoque. No alto dos meus quarenta. A
testosterona explodindo. Experimentei todas as posições e lugares com Madalena.
Fodia-a em pé ou de quatro ali mesmo no banheiro, ela de bruços sobre o fogão,
em pé atrás de um mamoeirozinho que havia no seu quintal enquanto ela estendia
roupas, na cozinha também enquanto ela cortava as cebolas com lágrimas nos
olhos - e aquilo me dava maior tesão. Meti muito em Madalena. Não
desgrudávamos. Experimentávamos tudo. Os dias mais felizes ao lado de Madalena.
Quando não estava com vontade de fodê-la – o tesão em baixa – ela se punha de
lá à beira do tanque vestindo um colant vermelho me provocando com seus peitões
e meu pau dava logo um sinal furioso. E lá estava eu de novo varando as cercas
do quintal, batendo na porta de sua casa, rosnando. Madalena tinha um fogo
dentro dela, aquela mulher. Algo diabolizante mesmo! Depois que transávamos, eu
ainda batia umas punhetas pensando nela. Mas um dia aconteceu. A minha crise de
priapismo.
IV
Bom, estávamos lá os dois a tarde
toda fodendo. Entramos pela noite. Ela não parava de esguinchar, e eu já estava
ficando cansado e preocupado com as horas. Eram quase onze da noite. Nunca
tinha ficado tanto tempo na companhia de Madalena. Mas ela me assegurou que
naquele dia o maridão chegaria bem tarde. E continuamos metendo. Até que
finalmente ela parou de esguinchar. Havia gozado, acho que pela enésima vez. Eu
contava pelas descargas elétricas do seu corpo quando orgasmava. Enquanto eu
tinha três orgasmos por foda, ela tinha o triplo. Eu saía de lá com o pau
esfolado e dolorido. Naquele dia, após gozarmos, tentei tirar imediatamente o
meu pau lá de dentro, mas não consegui. Era como se a buceta dela tivesse
criado garras não deixando o meu pau sair de dentro dela de jeito nenhum.
Caralho! Tentei me desenganchar dela e nada. Estávamos definitivamente grudados
como dois batráquios:
“Não sai!” Eu disse.
“Como não sai? Tira logo essa porra daí!”
“Não dá, Madalena! Tive um
priapismo!”
“Que porra é essa, caralho?”
“Estamos presos pelos órgãos!”
“Tá de sacanagem! Manel tá chegando
aí, cara!”
“Mas não consigo sair!”
Ela forçou o seu corpo pra trás.
Ossos estalaram. Quase gritei.
“Fodeu!”
“Fodeu mesmo! Só que não adianta
forçar. Pode quebrar o meu pau.”
“Quanto tempo essa porra demora?”
“Uma média de quatro horas ou mais. Às
vezes dias...”
“Não fode, caralho! Vamo pro médico!”
“Pirou? Como vamos sair os dois
daqui, grudados?”
“Porra, Mário, tu é chave de cadeia
mesmo, hein!”
Nunca a ouvi falar daquele jeito
comigo. Eu vi o desespero e a frieza nos olhos dela. Ficamos ali tentando nos
desgrudar. As horas passando. Já eram quase onze da noite. Ficamos ali pensando
numa solução. Suávamos à beça. Senti sede e ela também. Tentei levantar-me
sustentando Madalena, mas ela era muito pesada. Fizemos o contrário: por ser
leve, entrelacei minhas pernas envolta do seu quadril e fomos ate à cozinha,
comigo engatado na transversal. Parecia um filhote de canguru. Um troço
humilhante mesmo! Bebemos bastante água. Andamos um pouco pela casa como uma
aberração humana. Sentamos no sofá e assistimos os noticiários na TV. Um cara
havia tocado fogo no próprio corpo e iniciado uma revolução no Egito. “Quem é o
maluco desses que toca fogo no próprio corpo?” Perguntou ela. “Alguém que
chegou no seu limite.” Foi o que respondi. Nada daquilo me interessava. Todas
as revoluções fracassaram. Jogamos um pouco de velha que era pra relaxar.
Algumas vezes funcionava. Daquela vez, não. Conversamos sobre outras coisas.
Perguntei se tinha filhos, pois que ainda havia uma cota de humanidade em mim. Disse
que sim. Mas não morava com eles. Manel não gostava de crianças. Por isso ela
mandou pra casa da mãe, em
Tabatinga. Era de Tabatinga. Toda aquela conversa na verdade era
pra relaxar os músculos do meu pau. Estávamos bastante nervosos. A qualquer
hora tínhamos a impressão de ouvir Manel batendo na porta. Tentei forçar
novamente a retirada do pau, mas necas! Parecíamos destinados a ficar ali
grudados para sempre. Sentia o seu cheiro forte de negra. O azedume de seus
cabelos. O hálito quente que saia de sua boca grande. Comecei a enjoar
Madalena. Aí houve umas batidas de verdade na porta. Uma, duas, três vezes:
“ Puta que pariu, é o Manel!”
“ E agora?”
“ Agora fodeu!”
“ Abre a porta, Madalena!” O cara começou a gritar e
esmurrar a porta.
“Pro quintal, rápido!” Ela disse. Tentou correr comigo
grudado em seu ventre, mas perdemos o equilíbrio e desabamos no chão. O cara
arrombou a porta e entrou. Nos flagrou ali no chão. Sua sombra era imensa e o
seu rosto distorcido era uma configuração do ódio e da raiva:
“Manel, pelamordedeus!” Ela gritou.
“Seus filhos das putas!” E ele caiu matando pra cima da
gente com socos e pontapés. Senti umas costelas quebrando. Não satisfeito, foi
até a cozinha pegar um terçado. Um filme inteiro de minha vida fodida e sem
graça passou pela minha cabeça à prêmio. Foi nessa hora que sentimos medo. Um
medo tão imenso que nos colocou imediatamente em pé, obrigando-me a soltar os
braços que enlaçavam o pescoço de Madalena, para em seguida, projetar
violentamente todo o meu corpo para trás, desencaixando-me, finalmente. O som
foi seco como um desentupidor de pia, ou uma rolha de champanha. Ela caiu para
um lado e eu para o outro. Ainda senti o resvalar do terçado passar zunindo no
pé do ouvido antes de eu ganhar desesperado as portas do fundo da cozinha. Não
sei a que distância eu fui parar. Quando dei por mim, avançava nu e catatônico,
com o pau feito uma estaca, pelas ruas desertas do Bairro da Glória, como num
daqueles sonhos escrotos em que a gente sonha caminhando sem roupa e sem rumo,
por aí.
V
Como tudo acabou? Bem, depois de caminhar um bocado por uma rua deserta, a
uma e pouco da manhã, vi ganir as sirenes de uma viatura bem atrás de mim. O
carro foi parando devagar ao meu lado:
“Encosta aí!” Disse uma voz de mulher. Tinha os olhos
lindos.
“Que porra é essa?”
“Fui assaltado!”
“Que direção eles foram?”
Perguntou o do volante.
“Nessa direção mesmo.” Apontei bem pra lá. Passaram uma
mensagem no rádio. Fazia um frio desgraçado aliciando-me as bolas de baixo.
“Mora onde!” Pensei um pouco.
Lembrei que algumas quadras dali ficava a casa da mãe de Ecumênicus. Ele
poderia estar lá.
“Santo Antônio, rua tal.” Disse.
“Entra ai!” Entrei. Fui na frente ao
lado da sargenta. Ela olhava desconfiada para o meu membro duro. Me passou um
filmizinho sujo na cabeça. O do volante segurava a risada.
“Não baixa esse troço aí não,
cidadão?”
“É que tive priapismo, senhora!”
“E que porra é essa?”
“Obstrução nas veias que drenam o
pênis.”
O carro freou bem na porta da casa
de Ecumênicus. Me preparei para saltar.
“Não quer ir a um hospital e depois
fazer o B.O, camarada?” Perguntou a soldadinha com uma voz calma.
“Não, muito obrigado, é que estou
muito cansado.” Saltei e caminhei até o portão da casa. O carro partiu ganindo
sua sirene. Bati na porta da casa. Era quase uma da manhã. A porta se abriu e
para minha sorte, era Ecumênicus. Ele me viu ali parado de membro duro e
perguntou:
“Caralho, velho, o que aconteceu?”
Expliquei tudo a ele. Mandou que
entrasse. Pedi pra que ele preparasse uma compressa de gelo e eu envolvi o pau
com ela. Foi baixando devagar. O sangue circulando melhor. Um velho truque que
se aprende com o tempo. Macaco velho de muitas ondas. Fumamos unzinho pra
relaxar e depois fomos dormir.
VI
Fiquei ali um tempo intocado na casa
de Ecumênicus. Todos os dias pela manhã ele me comprava aqueles tabloidizinhos
nojentos e eu ia direto nas páginas policiais, temeroso em encontrar algo do
tipo: À TERÇADADAS.
Mas para o meu alívio, não havia
nada do tipo. Semanas se passaram. Um belo dia, quando a poeira enfim, sentou,
bebia na companhia desse meu amigo na feira de Santo Antônio, quando avistei o
casal, Manel e Madá, juntinhos, mãos dadas, próximo à banca dos peixes. Senti
um frio na barriga e meu coração quase parou. Fui baixando imediatamente os
óculos escuros e o quepe que me escondia o rosto e os vi passarem bem perto de
mim com a cumplicidade e a normalidade própria dos casais que saem às compras
numa manhã ensolarada de domingo. Foram aos poucos se afastando. O cheiro de
Madá ficando. Estava linda e provocativa num vestido vermelho, preso desesperadamente
ao imenso corpo. Requebrava como uma divindade Exu. Tomei uma talagada da minha
cerveja e respirei com saudades daquele seu corpo.
“Logo,
logo, por conta do teu priapismo, broxarás de vez e se tornarás finalmente um
homem de verdade, Mário Augusto.” Me disse Ecumênicus com seu humor filosófico. Ignorei aquilo. Ficar
impotente? Deus me livre e guarde! No fundo fiquei feliz em saber que Madá
continuava viva. Eu estava vivo. Outro dia eu voltaria a procurá-la. Ah, ia.
Brindamos.
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