sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

PRIAPISMO



I
Talvez devesse falar agora de meu priapismo. Tenho priapismo desde os quinze. Aos trinta tive um que quase me custou a vida. É, foi. Vou lhes contar.
O nome dela era Madalena e ela na ocasião devia ter seus cinquenta e poucos anos, sei lá, nunca quis saber, o barato era sair metendo em qualquer buraco de mulher que me desse bola. Madá me dava a maior bola. Apesar da idade, era uma negona enxutaça, baixa, corpão maravilhoso! Tinha uns seios fartões que balançavam alegres quando ela ficava ali batendo roupas sobre o tanque do seu quintal, a manhã inteirinha. Tinha alma e língua de lavadeira quando entrava numas com o maridão, mas era só levar umas bofetadas do cara que ela logo ficava mansinha, mansinha. Madalena gostava de levar umas bordoadas do maridão. Caralho! Por que será que estou me lembrando dessas coisas! Ah, sim, a minha crise de priapismo. Pois bem. O cafofo da dona dava fundos para minha casa no bairro da Glória e todos os dias eu abria a janela da cozinha do meu barraco só para ver aqueles enormes peitões balançando naquele vestido sem alça: o volume do meu pênis apontado para cima, rosnando pra lua feito um cão. Às vezes eu batia uma punheta ali mesmo olhando ela lavar roupa e cantando. Gozava e lançava as sementinhas no quintal. Depois guardava o pau e dizia a mim mesmo: um dia vou foder essa coroa! Era o meu desejo.
II
Bom, a dona ficava sozinha o dia inteiro batendo roupas, cuidando da casa e os cambal. Não havia filhos. Não se ouvia choro de moleque algum. Melhor assim. O maridão – um brutamontes mal encarado – dava o maior duro como motorista de ônibus na empresa Cascavel. Um dia Madalena me viu punhetando e sorriu. Todos os dias ela sorria de lá para mim. Um dia ela me chamou com um movimento da cabeça e eu varei as cercas do quintal que separava os nossos mundos de luxúria e desejo e fui até lá. Conversei um pouco com ela na porta da cozinha que era pra disfarçar, mas logo ela me convidou pra entrar. Entrei. Ficamos frente a frente. Eram três da tarde de um dia desses qualquer de muito calor. Ela tinha um cheiro forte. Acebolado. A bunda era enorme. Maior do que imaginava. Eu avancei naquela mulher. Abocanhei os peitões dela. Menino, ela disse. Encostei-a na parede e meti o dedo em sua buceta. Ela abriu bem os seus olhos negros quando o dedo penetrou lá fundo. Cheirei em seguida. Tinha um cheiro azedo e gostoso. Um cheiro bom. Ela me empurrou sobre o sofá da sala e foi se livrando do vestido e montando em mim. Não usava calcinha por baixo. Melhor ainda. O pau encaixou direitinho. Parecia feito na medida para aquela buceta toda negra e de lábios bem vermelhos. Ficamos ali, num vai-e-vem gostoso. Pra cima e pra baixo. Putz! Madalena. Aquela mulher sabia foder como ninguém. Valia por três de vinte. Ficamos ali horas. Pedi pra comer o cu dela, mas ela se recusou. Prometeu que outro dia eu comeria o cu dela. Continuamos metendo. Demoramos a gozar.
III
No dia seguinte, lá estava eu outra vez batendo de novo na porta de Madá depois que ela me dava o sinal com a cabeça. E mais sexo. Sempre tenho muito estoque. No alto dos meus quarenta. A testosterona explodindo. Experimentei todas as posições e lugares com Madalena. Fodia-a em pé ou de quatro ali mesmo no banheiro, ela de bruços sobre o fogão, em pé atrás de um mamoeirozinho que havia no seu quintal enquanto ela estendia roupas, na cozinha também enquanto ela cortava as cebolas com lágrimas nos olhos - e aquilo me dava maior tesão. Meti muito em Madalena. Não desgrudávamos. Experimentávamos tudo. Os dias mais felizes ao lado de Madalena. Quando não estava com vontade de fodê-la – o tesão em baixa – ela se punha de lá à beira do tanque vestindo um colant vermelho me provocando com seus peitões e meu pau dava logo um sinal furioso. E lá estava eu de novo varando as cercas do quintal, batendo na porta de sua casa, rosnando. Madalena tinha um fogo dentro dela, aquela mulher. Algo diabolizante mesmo! Depois que transávamos, eu ainda batia umas punhetas pensando nela. Mas um dia aconteceu. A minha crise de priapismo.


IV
Bom, estávamos lá os dois a tarde toda fodendo. Entramos pela noite. Ela não parava de esguinchar, e eu já estava ficando cansado e preocupado com as horas. Eram quase onze da noite. Nunca tinha ficado tanto tempo na companhia de Madalena. Mas ela me assegurou que naquele dia o maridão chegaria bem tarde. E continuamos metendo. Até que finalmente ela parou de esguinchar. Havia gozado, acho que pela enésima vez. Eu contava pelas descargas elétricas do seu corpo quando orgasmava. Enquanto eu tinha três orgasmos por foda, ela tinha o triplo. Eu saía de lá com o pau esfolado e dolorido. Naquele dia, após gozarmos, tentei tirar imediatamente o meu pau lá de dentro, mas não consegui. Era como se a buceta dela tivesse criado garras não deixando o meu pau sair de dentro dela de jeito nenhum. Caralho! Tentei me desenganchar dela e nada. Estávamos definitivamente grudados como dois batráquios:
“Não sai!” Eu disse.
“Como não sai? Tira logo essa porra daí!”
“Não dá, Madalena! Tive um priapismo!”
“Que porra é essa, caralho?”
“Estamos presos pelos órgãos!”
“Tá de sacanagem! Manel tá chegando aí, cara!”
“Mas não consigo sair!”
Ela forçou o seu corpo pra trás. Ossos estalaram. Quase gritei.
“Fodeu!”
“Fodeu mesmo! Só que não adianta forçar. Pode quebrar o meu pau.”
“Quanto tempo essa porra demora?”
“Uma média de quatro horas ou mais. Às vezes dias...”
“Não fode, caralho! Vamo pro médico!”
“Pirou? Como vamos sair os dois daqui, grudados?”
“Porra, Mário, tu é chave de cadeia mesmo, hein!”
Nunca a ouvi falar daquele jeito comigo. Eu vi o desespero e a frieza nos olhos dela. Ficamos ali tentando nos desgrudar. As horas passando. Já eram quase onze da noite. Ficamos ali pensando numa solução. Suávamos à beça. Senti sede e ela também. Tentei levantar-me sustentando Madalena, mas ela era muito pesada. Fizemos o contrário: por ser leve, entrelacei minhas pernas envolta do seu quadril e fomos ate à cozinha, comigo engatado na transversal. Parecia um filhote de canguru. Um troço humilhante mesmo! Bebemos bastante água. Andamos um pouco pela casa como uma aberração humana. Sentamos no sofá e assistimos os noticiários na TV. Um cara havia tocado fogo no próprio corpo e iniciado uma revolução no Egito. “Quem é o maluco desses que toca fogo no próprio corpo?” Perguntou ela. “Alguém que chegou no seu limite.” Foi o que respondi. Nada daquilo me interessava. Todas as revoluções fracassaram. Jogamos um pouco de velha que era pra relaxar. Algumas vezes funcionava. Daquela vez, não. Conversamos sobre outras coisas. Perguntei se tinha filhos, pois que ainda havia uma cota de humanidade em mim. Disse que sim. Mas não morava com eles. Manel não gostava de crianças. Por isso ela mandou pra casa da mãe, em Tabatinga. Era de Tabatinga. Toda aquela conversa na verdade era pra relaxar os músculos do meu pau. Estávamos bastante nervosos. A qualquer hora tínhamos a impressão de ouvir Manel batendo na porta. Tentei forçar novamente a retirada do pau, mas necas! Parecíamos destinados a ficar ali grudados para sempre. Sentia o seu cheiro forte de negra. O azedume de seus cabelos. O hálito quente que saia de sua boca grande. Comecei a enjoar Madalena. Aí houve umas batidas de verdade na porta. Uma, duas, três vezes:
“ Puta que pariu, é o Manel!”
“ E agora?”
“ Agora fodeu!”
“ Abre a porta, Madalena!” O cara começou a gritar e esmurrar a porta.
“Pro quintal, rápido!” Ela disse. Tentou correr comigo grudado em seu ventre, mas perdemos o equilíbrio e desabamos no chão. O cara arrombou a porta e entrou. Nos flagrou ali no chão. Sua sombra era imensa e o seu rosto distorcido era uma configuração do ódio e da raiva:
“Manel, pelamordedeus!” Ela gritou.
“Seus filhos das putas!” E ele caiu matando pra cima da gente com socos e pontapés. Senti umas costelas quebrando. Não satisfeito, foi até a cozinha pegar um terçado. Um filme inteiro de minha vida fodida e sem graça passou pela minha cabeça à prêmio. Foi nessa hora que sentimos medo. Um medo tão imenso que nos colocou imediatamente em pé, obrigando-me a soltar os braços que enlaçavam o pescoço de Madalena, para em seguida, projetar violentamente todo o meu corpo para trás, desencaixando-me, finalmente. O som foi seco como um desentupidor de pia, ou uma rolha de champanha. Ela caiu para um lado e eu para o outro. Ainda senti o resvalar do terçado passar zunindo no pé do ouvido antes de eu ganhar desesperado as portas do fundo da cozinha. Não sei a que distância eu fui parar. Quando dei por mim, avançava nu e catatônico, com o pau feito uma estaca, pelas ruas desertas do Bairro da Glória, como num daqueles sonhos escrotos em que a gente sonha caminhando sem roupa e sem rumo, por aí.
V
Como tudo acabou? Bem, depois de caminhar um bocado por uma rua deserta, a uma e pouco da manhã, vi ganir as sirenes de uma viatura bem atrás de mim. O carro foi parando devagar ao meu lado:
“Encosta aí!” Disse uma voz de mulher. Tinha os olhos lindos.
“Que porra é essa?”
“Fui assaltado!”
“Que direção eles foram?” Perguntou o do volante.
“Nessa direção mesmo.” Apontei bem pra lá. Passaram uma mensagem no rádio. Fazia um frio desgraçado aliciando-me as bolas de baixo.
“Mora onde!” Pensei um pouco. Lembrei que algumas quadras dali ficava a casa da mãe de Ecumênicus. Ele poderia estar lá.
“Santo Antônio, rua tal.” Disse.
“Entra ai!” Entrei. Fui na frente ao lado da sargenta. Ela olhava desconfiada para o meu membro duro. Me passou um filmizinho sujo na cabeça. O do volante segurava a risada.
“Não baixa esse troço aí não, cidadão?”
“É que tive priapismo, senhora!”
“E que porra é essa?”
“Obstrução nas veias que drenam o pênis.”
O carro freou bem na porta da casa de Ecumênicus. Me preparei para saltar.
“Não quer ir a um hospital e depois fazer o B.O, camarada?” Perguntou a soldadinha com uma voz calma.
“Não, muito obrigado, é que estou muito cansado.” Saltei e caminhei até o portão da casa. O carro partiu ganindo sua sirene. Bati na porta da casa. Era quase uma da manhã. A porta se abriu e para minha sorte, era Ecumênicus. Ele me viu ali parado de membro duro e perguntou:
“Caralho, velho, o que aconteceu?”
Expliquei tudo a ele. Mandou que entrasse. Pedi pra que ele preparasse uma compressa de gelo e eu envolvi o pau com ela. Foi baixando devagar. O sangue circulando melhor. Um velho truque que se aprende com o tempo. Macaco velho de muitas ondas. Fumamos unzinho pra relaxar e depois fomos dormir.

 VI
Fiquei ali um tempo intocado na casa de Ecumênicus. Todos os dias pela manhã ele me comprava aqueles tabloidizinhos nojentos e eu ia direto nas páginas policiais, temeroso em encontrar algo do tipo: À TERÇADADAS.
Mas para o meu alívio, não havia nada do tipo. Semanas se passaram. Um belo dia, quando a poeira enfim, sentou, bebia na companhia desse meu amigo na feira de Santo Antônio, quando avistei o casal, Manel e Madá, juntinhos, mãos dadas, próximo à banca dos peixes. Senti um frio na barriga e meu coração quase parou. Fui baixando imediatamente os óculos escuros e o quepe que me escondia o rosto e os vi passarem bem perto de mim com a cumplicidade e a normalidade própria dos casais que saem às compras numa manhã ensolarada de domingo. Foram aos poucos se afastando. O cheiro de Madá ficando. Estava linda e provocativa num vestido vermelho, preso desesperadamente ao imenso corpo. Requebrava como uma divindade Exu. Tomei uma talagada da minha cerveja e respirei com saudades daquele seu corpo.
            “Logo, logo, por conta do teu priapismo, broxarás de vez e se tornarás finalmente um homem de verdade, Mário Augusto.” Me disse Ecumênicus com seu  humor filosófico. Ignorei aquilo. Ficar impotente? Deus me livre e guarde! No fundo fiquei feliz em saber que Madá continuava viva. Eu estava vivo. Outro dia eu voltaria a procurá-la. Ah, ia. Brindamos.

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