terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

CARTAS A GOETHE



Meu velho amigo Goethe, revisitando mais uma vez as páginas de tua mais solene e festejada obra, “Os Sofrimentos do jovem Werther” – obra esta publicada quando ainda contava 25 anos – lanço-me pessoalmente a reflexões acerca de teu estilo e genialidade. Quem diria meu velho, que em pouco tempo, tu se tornarias o maior escritor alemão e alcançaria fama internacional? Quão impressionante foi, que tua obra espalhou-se rapidamente por toda a Europa, gerando imitações de teu estilo epistolar. Claro, não faltaram leitores e jovens escritores que, de tão fascinados pelo ímpeto romântico e devastador de teus escritos, foram muito além, não imitando apenas o teu estilo, mas as ações do protagonista de teu romance, o jovem Werther. E lembras como foi alto o número de suicídio que esta tua obra causou por toda a Europa chegando até aqui no Brasil em forma de Spleen: o mal do século. É, foi. Os Sofrimentos de Werther foi sem dúvida também uma grande manifestação do movimento literário alcunhado de Tempestade e Ímpeto. Marcado que foi pela intensa subjetividade contra as amarras da razão e da ética moral e espiritual. Movimento este que se revelou na poesia pela emoção e pelo caráter confessional exacerbado, expondo visceralmente a dor do mundo. Estou certo?
Ah, meu velho, o quão impressionado fiquei quando também li pela primeira vez o teu livro de memória chamado de Poesia e Verdade – livro este publicado após cinqüenta anos do teu nascimento.  Quando ainda o leio, na serenidade embriagada do meu lar (como tenho feito por esses dias no afã de te entender ainda mais) entro em um mundo que vai das anotações tranqüilas de um moço que está vivendo no campo, contemplando a natureza que o cerca em seus doces devaneios solitários de suas reflexões sobre os camponeses, sobre as plantas, etc. até o completo encantamento por uma mulher, que lá atrás, viria se tornar um personagem de seu mais famoso livro.  
O ímpeto de viver as coisas em toda sua intensidade fez de Werther uma vítima de seu ideal, ao mesmo tempo, um herói, levando-o consequentemente à morte. A isso, dou razão ao que inferiu sabiamente Walter Benjamin quando disse que a tua poesia encontra o semideus que se sacrifica por ela. Teu herói, revelas o abismo entre o desejo de uma vida intensa e livre e o mundo exterior, marcado pelas regras sociais que sufocam sonhos. Fizestes maravilhosamente o uso da forma epistolar para nos contar uma belíssima história e nela poder explorar diversos temas, como a relação entre arte e natureza, o afastamento da classe burguesa em relação às pessoas comuns, as reflexões sobre o suicídio,  a paixão pela poesia, os preconceitos de classes, e sobretudo, a força do amor intenso e aniquilador. Ah, Goethe, são estes elementos que sem dúvida, fizeram de Werther, o herói de toda uma geração. O elemento revolucionário de sua juventude.

Sóscrevo,

Márcio Santana

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