sexta-feira, 31 de maio de 2013

ÚLTIMA CENA



UMA VELA PARA MINHA NOVELA

- três dessa manhã longa-interminável com você escondidinho debaixo do edredon socando uma punhetinha bem legal ao lado de sua esposa que dorme enquanto você constrói imagens loucas na sua cabeça que não deve revelar a ninguém de tão sagradas que são enquanto suas mãos fecham-se pra valer em volta de seu membro super duro que sente crescer dentro cada vez mais das suas mãos bem fechadas - uma punheta avançada para seu cérebro acompanhar e seja como for o sangue circula sem parar bombeando os músculos do primitivismo funcional onde você implementa uma política saudável para o corpo e mente e o ritmo frenético que imprimes agora COMO TODA A PUNHETA SAGRADA DO MUNDO – AH, A MASTURBAÇÃO, e você todo esse tempo com preguiça demais para tocar uma punhetinha pensando em coisas adequadas demais e que portanto acaba privando-se yourself do delicioso auge de deixar a porra jorrar tranquilamente de dentro de seu tubogã de couro, VIRGULA? E NÃO SE ENVERGONHE AGORA DIANTE DE MIM, POR ISSO PUXE NESSE INSTANTE O SEU PAU PRA FORA E MASTURBE-SE COM SUAVEMÊNCIA, aham, isso, mas-tur-be-semas-tur-be-se – mas-tur-be-semas-tur-be-semasturbe-se masturbe-se MASTURBE-SEMASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTURBE-SE – MASTUBE-SE, <UMA PÁGINA INTEIRA DE MASTURBAÇÕES GLORIOSAS COMO UM TREM DESCARRILADO SEM PASSAGEIROS> - e a medida que você sente se aproximando uma grande onda elétrica DE SÊMEN DOURADO COM OS ANJOS DO SENHOR SURFANDO NELA e é só relaxar e mirar agora na direção da parede mais próxima do seu quarto e, AHHHH CARALHO!!! SINTA TODO ESTE JORRO SAGRADO SAINDO DE DENTRO DE MIM E DE VOCÊ QUE SOMOS AGORA UMA UNIDADE, e shhhhhhhhhhhh... vá fechando seus olhos bem lentamente devagar assim e pronto, volte a dormir bem lentamente devagar assim e shhhhhhhhhh...
 >e este capítulo ficou maneiro comigo dentro de você que me permitiu penetrá-lo com suavemência, pois nâo?<
UMA VELA PARA MINHA NOVELA – e agora sim, meu Deus, me sinto bem disposto nessa manhã de quarta-feira com minha mente desperta e com esta frase de neon piscante ainda acessa piscando FRIAS VELAS DE NEON ACESSAS DA MENTE e meus dedos fibrosos incontrolável mente sobre estas teclas nesta viagem louca e incansável mente em que os semáforos mudam a toda hora de tom na minha cabeça LETREIROS DE NEON SUJOS como os de um bar portuário sempre aberto no final de uma rua esmaecida da Tamandaré como num sonho em que caminho até lá macio quando todos desistem da noite e fazem o caminho de volta para suas casas, e eu então subo as escadas desse bar portuário e me sento com meu copo de conhaque Nero negro nas mãos e olho as gônadas e sei que não estou sozinho com você dando voltas comigo no quarteirão da mente seguindo-me às cegas-cambaleante mente o cheiro menstrual que deixo das minhas palavras feromonais que vou deixando no caminho com estes meus seis milhões e meios de fins inundando minha cabeça  - um emaranhado de fios neuronais na casa de máquinas de meu pequeno cérebro doente com um hamster Nero negro pedalando fazendo ele funcionar e no fundo tenho medo de levar você comigo minha pequena de bucetinha depilada e suculenta metida a escritora porque sou esquizofrênico e este é o século da esquizofrenia  E É O QUE HÁ DE BOM NESTE SÉCULO MOLE E SEM PROEZAS (mas não era bem essa palavra MOLE, era uma outra palavra que acabei esquecendo enquanto cortava cebolas que tomo com café todas as manhãs quando ouço a Sinfonia no.09, Scherzo,m de Bethoven ela é engraçadinha sim que chega a me provocar cocegazinhas na medula óssea, mais ainda prefiro Tocata e Fuga  de Bach que qualquer outra coisa que venha apimentar a minha tragédia ínfima e pessoal & na noite fria passada com neons vermelhos do centro, caminhei em meio aos escombros dos prédios da minha cidade fantasma que nunca verei edificada e ali sentado com meu copo de conhaque Nero negro ( e  todas ás vezes quando digito “n” de negro, reparem, me aparece a palavra “n” de Nero e que raios, quem envenenou estes teclados, porra?!) olhando as gônadas - FRIAS GÔNADAS PENDURADAS SUSPENSAS NO CÉU DO DELIRIUM DRINKS que pouco dou importância para as meninas que dançam no palco e para o telão que passa um pornô caseiro, e em um outro, o final do campeonato de UFC enquanto um anão bêbado do Shop do Pé se masturba ao meu lado) e o que me importa agora enquanto a imagem de meu pai me vem á cabeça me dizendo naquele salão de Bacará da Tamandaré naquele verão de 78 –  “Está certo, meu filho, mais tarde eu o levarei para olhar os navios num domingo desses depois da missa da Matriz, eu prometo – e num domingo desses de mãos dadas fomos ao Rodway para ver um enorme NAVIO GIGANTE  INGLÊS  aportando no pier e eu nunca mais vou esquecer daquele navio enorme gigante encostando no pier e meus olhos e meu coração se acenderam de uma esperança estranha e arrebatadora que desde cedo já sabia que minha vida seria ordinariazinha nesta cidade ordinária onde tento me tornar um escritor e trabalhar decentemente mas para isso eu teria que evadir-me em algum navio qualquer e quando será? - Então apertei as mãos enrugadas de meu pai agradecendo pela extraordinária visão naquele domingo e ele vendo minha alegria saltitante me prometeu que iríamos ver como funcionava a caldeira daquele glorioso navio e que iríamos visitar todos os camarotes um a um e que o Queen Elizabeth (este era o nome daquele portentoso navio) não o Petroleiro Amazônia - banheira velha em que ele trabalhava e que viria se aposentar - onde ele conheceu minha mãe durante uma viagem á Belém e se encantou com ela e esperto como era a convidou para jantar com ele e ele então lhe dera uma cantada certeira daquelas enquanto jantavam descendo o Rio Amazonas – COMANDANTE BRAZ, SENHOR DOS RIOS – Todo empavonado Á CABECEIRA DA MESA PARA IMPRESSIONAR MINHA MÃE  COM SEU LENÇO COLORIDO E TODA RADIANTE COM SEU CIGARRO GAIVOTA QUE LHE TREMIA NAS MÃOS que quando eu cheguei de seu sepultamento naquele ano de 2009, tomei coragem e abri seu pequeno diário e ali escrito a lápis eu li com meus olhos chorando e com uma pedra enorme esmagando meu coração - 30.04.1963 - meu pequeno diário, tu sabes que as horas me fogem e o vento que sopra meu rosto fere meus olhos enchendo de lágrimas e de medo - estou neste vapor com o coração repleto de saudades e estranhamentos quando me vejo desprevenida neste convés com o comandante me olhando o tempo todo sempre com seus olhos pretos da cor desse rio - finjo não saber o que ele quer - as 12 e meia foi servido o nosso almoço que constava de arroz, feijão, carne de gado e toicinho, por sinal muito gostoso - Minerva lambe os beiços - só mais tarde, um café simples que provo enquanto aprecio a chuva cair - prossigo triste durante a viagem inteira assim como o resto da tripulação - mas viajo em paz com este homem de terno branco e elegante me olhando - as sete da noite, sou acordada em meu camarote pelo taifeiro que me traz uma xícara de café com torradas e um recadinho do comandante que deseja urgente me ver na sala de comando - hoje fico sabendo o nome desse comandante – depois deste encontro passo o resto da viagem distraída olhando o rio que até Minerva desconfia - tu sabes, meu diário, eu não tenho costume de viajar, as ondas são enormes e eu começo a me apavorar, mas lembro de uma frase que minha mãe disse antes de partirmos  – confia em Deus que tudo dá certo - e continuamos a viagem...”
- um milhão de dedos teclando todos de uma só vez sem parar dentro da grande máquina explosiva escondida dentro da minha cabeça sputinik- beatinik, a coisa a fazer é seguir em frente neste tráfego intenso de acontecimentos da mente com este fluxo intenso de imagens oníricas indecifráveis na cabeça da gente que decido é ficar aqui com meus dedos fibrosos e dispenso a humanidade das pessoas lá fora e fico sozinho com os meus hieróglifos porque a grande revolução deste século virá dos coveiros que acordarão os seus mortos – e por que será que é tão complicado amar o presente e o próximo, foi assim para Rimbaud, para Dostô, para todos os gênios desgraçados e apocalípticos e visionários, esperto mesmo foi Melville que zarpou em um navio pesqueiro ainda bem jovem e ajudou a capturar aquela baleia - E outro dia conversando com Félix em particular quando ele passava apressado para ir trabalhar e eu então o parei e ele sempre para para me ouvir, pede imediatamente um copo, enche seu copo até a borda, empena seu olhar frio de gangster falido, acende seu cigarro, salta sua fumaça e espera qualquer coisa minha de utilidade pública e quem sabe eu não serei o grande duplicador de sonhos como profetizou o Mosca só para passar aquela noite em meu banheiro porque nunca tem um canto para passar suas noites longas e frias e este foi o destino que o Mosca escolheu para ele, ele ata sua rede no vão do banheiro e soh, (e o quê mesmo ia dizendo? cadê a porra do meu bloquinho de notas?) – eu agora me preparando para dizer a Félix, “tudo é fantástico, cara, se não houver imagem na poesia, nada é, cara, como Ecumênicus estuprando a idosa, ânsia de amar, é como um fogo que acende as palavras e queima o papel da alma – desenhos psíquicos da alma, tudo é como se fosse uma fragmentação máxima de sentidos contrários – tipo fios pifados interligados, já tenho tomado umas tantas eu sei, mas preste muita atenção no que digo, são as direções tomadas do fluxo numa profundidade atemporal quase indefinida da mente, mas como saberíamos, não é?” E ele agora me sorrindo me dizendo:
 ‘”e os seus remedinhos;
 cê tem tomado direitinho
 seus remedinhos?”      
- e foi para Félix que revelei minha doença – “reagente positivo, meu chapa, cê tá com aids, mas relaxa, não é o fim do mundo, os remédios avançaram, só maneirar mais com as dosagens de álcool na veia, nada é mais ou menos como era antes, mas o sol ainda brilha até para os que já desistiram de suas luvas de boxe e não bombeiam mais as tintas para suas canetas mágicas – saibas que continuarei indo á sua casa para ouvir suas estórias, acordá-lo – e se quiseres, estarei contigo  no almoço quando revelares a doença a tua mãe, talvez ela se engasgue com a espinha do jaraqui porque sei que não é nada fácil, mas também não é  o fim de todos nós, vamos ali tomar umas cervejas, vamos?
<e sou grato a Félix, por suas palavras frias e encorajantes...>
- mas estranho mesmo é caminhar com aids pelas ruas do centro da tua cidade cantarolando aquele refrão engraçadinho do The Doors LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ/ LÁ LÁ, LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ  e nem adianta que você talvez nem se lembre e deixe pra lá!
,e quando deixamos finalmente aquela delegacia eu parecia ainda ouvir o xerife assobiando a merda do Wando só para nos deixar mais arruinados por dentro e não nos devolveram os nossos materiais e estávamos fracos demais para reivindicá-los  (nos veríamos mais tarde em uma audiência no Ministério Público) é que só queríamos morder alguma coisa e nos encaminhamos para o final da rua onde havia uma adorável vitrine de padaria frutas cristalizadas com nozes de maçã – não não não não não capturei isto de uma página de Virginia Wolf descuidada enquanto planejava seu suicídio, mas tudo bem, como disse, só queríamos algo para mastigar mesmo - e chovia bem fino e meu Deus, que derrota os cinco ali com fome mastigando nossos sanduíches invisíveis porque os caras ainda confiscaram todas as nossas moedas e não tínhamos nada mesmo, o jeito era voltar para casa vitoriosos de nossas derrotas e o Boca nos dizendo agora – “ah, que se foda, vou para casa e para os meus boomerangues!” – “Boa sorte, Boca, com os seus Boomerangues!” – E ele vai cambaleando com seus cabelos sujos assobiando o Choro da Bia pelas ruas que já foram bastante molhadas pela chuva eu suponho que nem ouvimos ela cair porque passamos o dia todo naquela delegacia trancafiados, mas ainda há o cheiro do asfalto molhado e da noite triste vestida de fome e com lábios pintados de derrota como meretriz valiosa e decadente e é assim as noites pela orla da minha cidade - Mais tarde é a vez do Garoto e do Betânia nos dizer adeus e pegarem o beco de suas vidas, e eu então olho para Ecumênicus e decidimos seguir para o centro e quando lá chegamos – tem mais – nos sentamos na mesa do Macintosh que fervilhava e (e minha doce safadinha do Platinados estava na boca de todos) e sentamos ali para olhar o movimento e foi quando ouvi Ecumênicus dizer – “Ah, estou cheio dessa noite cavernosa, triste e acabada, por isso, Mário Augusto, me deixe agora aqui  sozinho no meu canto escuro pra escrever” – E eu o deixo ali sozinho escrevendo inclinado sobre um guardanapo com sua calvície triste e me aproximo do imenso quadro do Dom Quixote que ainda está exposto, e meus olhos de fome investigam a essência daquela pintura gigante aprisionado naquela moldura do tempo – E meus braços virados para trás e as cores que me saltam aos olhos investigativos – e todos cantam a canção safadinha do Platinados – sabem de cor aquela canção - E o Robert se aproximando de mim me dando uns tapinhas nas costas, dizendo com sua voz calma:
 < E onde foi que vocês se meteram, cara?>
<Estávamos presos, cara. Eu e o resto da corja. Tudo que quero agora é um prato de sopa.>        
<Só que não tenho grana, véio. Ainda não vendi meus quadros.>
<Mas vai vender. Fique certo disso.>
- Queria mesmo era ficar mais um pouco na companhia de Ecumênicus, mas ele já se foi - Me alimento da arte que faço, saca? - Sigo por onde ninguém segue - Pulo de poça em poça me livrando dos abismos que se abrem sob meus pés – É como estar sob efeito da papoula – Volto ao ponto de onde parti olhando o sonho de Cervantes – Estou quase certo de minha missão na terra – Este é o ofício que me coube – Foi o de Cervantes também quando lutou com seus moinhos de ventos - Desço sozinho a Avenida dos meus sonhos rumo ao puteiro mais próximo – Não tenho grana, eu sei, e ainda estou com muita fome, mas nada me impede de entrar e sentar e ver tudo em minha volta girando – Enquanto desço vejo minha cidade com seus edifícios médios, seus casarões antigos e abandonados, seus automóveis, suas pessoas, seus fantasmas - A vida é portanto um laboratório vasto e único onde nós fazemos os nossos próprios experimentos para nós mesmos experimentarmos, e depois, quem sabe, você e o mundo - Toco meu instrumento no escuro do vazio dos meus delírios - Um blues amazônico esquecido - Mas toco - Sinto um formigamento que me impele a seguir tocando minha música - Palavras são como bolas de sinuca que nunca erram o buraco – Mesmo que você ainda jogue com seus olhos vendados – Sensação de estar vivo – Escrever é como um milagre de estarmos vivos – É como morder um pedaço de frango bom – Uma vagina aberta e iluminada lhe sorrindo - Há bilhões de sonhos explodindo dentro de nós – A fábrica dos sonhos estarão sempre abertas com suas máquinas em funcionamento à todo vapor – Sou um operário da palavra – Um duende das larvas do seu quintal encantado - Neste puteiro vazio de pernas abertas e axilas suadas eu vejo um bilhão de sóis brilhando – O sol nasce certo, nós é que somos tortos – Já nem sei mais o que digo, mas digo – Sei que esperavam algo mais deste fim triunfal que eu tinha planejado pra nós dois, mas calma, nada acaba por aqui, acaba?
 – e agora licença que este cavalheiro vai ao toalete...
               

para Flávia Abtibol que através de sua lente, me inspirou a escrever este primeiro capítulo de nossas vidas enquanto comíamos papel no Bar Caldeira...
                                                          
Manaus, quinta-feira, 01 de junho de 2013

segunda-feira, 27 de maio de 2013

CENA TREZE




COMO FUNCIONA A LEI

AVANCEMOS PARA A CENA em que somos arrancados de nossa cela outra vez e novamente colocados na presença do delegado moderninho que nos mostra como funciona a lei e ficamos ali sentados encostados á parede um ao lado do outro para assistirmos as sessões de espancamento dos galerosos que tocavam terror na Praça Quatorze – A malandragem junto à parede enquanto um tal de ROBOCOP desfere-lhes grandes murros no peito de cada um daqueles garotos franzinos fazendo a sala daquela delegacia tremer – E ah, Cristo, aqueles meninos raquíticos de cabeças baixas e a polícia não pode ser tão mau assim que me faz embrulhar o estômago revoltoso, e o delegado nos dizendo enquanto o cabo bate, “em todo bairro tem um rato e eles proliferam - começam como catitinhas, depois viram ratões grandes e perigosos, e aí ficam tocando o terror, dando dor de cabeça pra polícia...” - Os murros do ROBOCOP são fortes e secos e reverberam na sala, enquanto o delega nos diz, - “apanham, mas não aprendem, e aquele lá até gosta de umas boas bordoadas, vejam como ele está de pau duro!” – E meus olhos desviam-se para o quadro virado de cabeça para baixo a cada golpe do Robocop e o meu cu engelhado de medo e terror como o cu de Jesus Cristo e de Buda em situações de perigo <e porque eu pensei em um troço desses?
> e aquilo ficando perigoso e sério demais o jogo daquele delegado doente que se diverte á nossa custa e depois da sessão de espancamento do Robocop, Ecumênicus pede a palavra para lhe dizer que já estávamos naquela delegacia tempo demais e que precisamos saber quando iríamos ser liberados e o delega enfim nos permite dar o nosso telefonema e o carcereiro nos conduz a um corredor e de um orelhão Ecumênicus disca o número e dali eu vejo uma sala toda ampla onde flagro o escrivão e mais três funcionários lendo a revista e dando gargalhadas – Os canas se divertem à beça e há um deles muito à vontade descansando suas grandes botas sobre a mesa enquanto lê a revista e porque eu iria inventar uma coisa dessas? – E foi quando Ecumênicus bateu o telefone e eu então lhe pergunto, “O que foi?”, “O filha da puta do Sabazinho está de férias pro Caribe.”
- e eu desconfiava que não era nada disso, e vou lhes contar o que de fato aconteceu – para isso precisamos nos deslocar no tempo de novo a um ano  atrás quando Ecumênicus resolveu filiar-se ao Partido Comunista do Brasil por causa de uma xota vermelha que havia tirado ele do sério, e isto se deu na Praça do Congresso durante a manifestação contra a invasão dos Ianques no Iraque naquele ano de 2002 e neste dia eu estava com ele, sim, e ela deve ter se encantado com o seu discurso fervoroso fundamentado no artigo dois da declaração dos Direitos do Homem e era legal vê-lo discursar e a suas veias pularem - E a dona era de fato jeitosinha e secretariava o partido que ficava na esquina da Epaminondas  - E mais tarde tomando um cafezinho com ele na Padaria Modelo, esquina da Sete, ele me diria muito sério, “Cara, eu estou apaixonado por uma xota vermelha, e por conta disso irei me filiar ao partido Comunista para participar das reuniões e ficar mais próximo dela e você ri Mário Augusto porque não sabe o que é sofrer por uma xota – Ele me dizendo isso bastante comovido enquanto bebíamos Café e ele no dia seguinte então filiou-se ao Partido, e eu estava com ele quando ele assinou a carta de filiação e depois fomos tomar umas cervejas na companhia do Sabazinho que era um dos advogados do Partido e é claro, a mina da xota vermelhíssima também, e ela na ocasião pediu docemente que publicássemos um de seus poemas na revista e aquilo foi de derreter o coração e depois que ela se foi, eu perguntaria a Ecumênicus, “Cara, tem mesmo certeza que publicaremos os poemas dela, são tão infantis.” - Eu havia dito isso a ele mas até isso ele me convenceu – Ecumênicus precisava trepar com a xota vermelha e aquela era a oportunidade, e o Félix nos chamaria na época de lobos maus e sem caráter, mas necessários que éramos – e aquilo ali não podia dar certo nunca  e não tardou para que ele me procurasse arrasado para falar de sua desastrosa investida quando ouviu da xota vermelha que ela estava noiva de um cara e que esperava um filho seu e neste dia eu levei meu amigo Ecumênicus para minha casa e lhe reservei o melhor sofá da sala para ele descansar a sua cabeça e no dia seguinte ele já disposto e com um chapéu estranho de panamenho na cabeça, nos dirigimos até o prédio do Partido para assinar a carta de sua desfiliação (e é impressionante como alguém se desfilia de um partido tão rapidamente da mesma forma como se filia) e este é o Ecumênicus de quem tanto falo – E o Sabazinho muito desapontado com ele dizendo, “Cara, tu pirou? Precisamos de você no Partido – E eu no fundo eu acho que foi uma boa decisão de Ecumênicus, tanto que neste dia eu coloquei minhas mãos em volta de sua cintura e o levei para conhecer um dos melhores puteiros da Mauá e ele acabou se encantando com Salomé que o seduziu com seus olhos de mistério com sua dança e sua marca de cesariana e toda sua beleza carnívora refletida na fumaça de luz neon do puteiro mais vagabundo das minhas economias e de Ecumênicus - E olha, o Sabazinho podia nos tirar daquela fria se ele não tivesse inventado aquela história  da sua viagem ao Caribe chateado que ainda podia estar com o episódio da desfiliação - E eu na verdade nunca acreditei em partido algum, e que a mulher se conhece pelo movimento harmonioso dos flancos – o velho andar feminino e desafiador de zebra no cio, e apesar de jeitosinha, a xota vermelha não possuía tais atributos necessários a uma mulher, eu deveria ter dito  isso a Ecumênicus naquela ocasião, mas enfeitiçado que ele estava pela xota vermelha que não daria a mínima - E agora, senhores, chega de dedilhar este assunto e retornemos ao fundo de nossa cela com a brincadeira do xerife se tornando perigosa demais e a gente chapado de fome e nos detestando como se tivéssemos mesmo culpa de tudo aquilo – O encarceramento provoca isso na tua alma, ela vai ficando desgraçadamente dilacerada como bosta pisoteada na rua ainda mais quando sentimos fome e perdemos a esperança na sombra do próximo e havia o medo de nunca mais sairmos dali, e isso ainda não é bastante pra você?  
BOCA: <Mas a gente não ia ser liberado, doutor?>
DELEGADO MORDENDO UMA MAÇÃ: <Com que justificativa, minha gente. Vocês invadiram uma escola e causaram tumulto. Isso é perturbação de ordem pública. E logo em uma escola.>
BETÃNIA: <Mas já estava uma bagunça aquilo ali, doutor!
DELEGADO:< Não interessa! Jaime! Levem eles de volta pra cela!>

sábado, 25 de maio de 2013

CENA CATORZE



O BOI
- não existe algo mais deprimente e desesperador que os cinco olhando ao mesmo tempo para aquele boi - E havia também as marcas de sangue no canto da cela e um sentimento de dor e abandono de arrebentar o coração que eu só viria experimentar outra vez naquele setembro de 2009 no dia em que antecedeu o velório de minha mãe abduzida quando me aproximei trêmulo e casto para olhar o seu corpo sobre a pedra fria do necrotério e ela era um saco de pele e ossos e aqueles homens horríveis não tiveram o mínimo cuidado de arriar o seu corpo sobre aquela pedra fria e naquele momento então eu senti muita raiva e uma solidão franca e particular e um frio enregelando meus ossos e por isso fui para fora e uivei para a chuva que caía assombrada e formidável e eu ainda não havia estabelecido plano algum de futuro e chorei desesperado frente a uma sapataria ouvindo Morris Albert – E puta que pariu a gente ali muito triste e com fome porque ao lá chegar, a delegada de plantão não deu a mínima importância ao que alegamos em nossa defesa e por isso preferiu acreditar na versão do diretor e do pedagogo que juntos tramaram direitinho para piorar ainda mais a nossa situação - Eles usaram a marca de chupão no pescoço da professorinha como álibi (e vocês lembram bem lá atrás que o Boca apenas beijou o rosto da professorinha - e nem lembrávamos desse episódio mais) na verdade, não houve chupão algum, o Boca apenas havia beijado de leve o rosto da professorinha em agradecimento pelos cinco reais que ela havia depositado no saco, e foi isso apenas, eu juro, “E qual desses senhores foi o responsável, professora?” Pergunta a delegada de plantão e agora professora apontando vacilona na direção do Boca e nos dizendo, “Foi o cabeludo ali, doutora!” (Ah, mas é claro, o cabeludo) - E quando ela afirma isto desvia seus olhos claro-trêmulos de vergonha porque estava na cara que aquela professorinha foi obrigada a mentir; a marca foi forjada porque vimos quando o Boca beijou de leve o rosto dela e com carinho, só que havia aquela marca inventada que era para complicar a nossa vida e Ecumênicus e todos nós nos desdobramos para fazer valer a nossa inocência e que só queríamos divulgar uma revista, mas de nada adiantou o uso de nosso logos argumentativo, pois que nos fora lavrado o flagrante de PERTURBAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA - e assim fomos confinados em uma cela nos fundos daquela delegacia após assinarmos os documentos de praxe e o carcereiro nos conduzindo agora a esta cela e ordenando que tirássemos a roupa e que o violão, o microfone e a caixa com a nossa causa dentro, ficariam para a averiguação – E eu conhecia bem aquele carcereiro porque eu já o tinha visto brincar com sua dentadura enquanto drenava sua cerveja no Bar do Cinco Trevo e nunca fui com  a cara daquele animal mesmo – Ele ficava só ali manipulando sua prótese nojenta e bebendo sozinho no balcão do Cinco sem dizer nada a ninguém - Um sujeito frio com cara de poucos amigos, era) uma cara mesmo de carcereiro e eu tenho intuição pra coisa e no dia em que eu me aproximei dele e pedi-lhe um cigarro seu ele me atirou o maço na cara sem me olhar nos olhos e isso não se faz, chapa - Sujeito grosseirão – pensei em Agency FB – Só que não podia imaginar que pudesse reencontrar aquele sujeito na delegacia fechando a cela em nossas caras e nos provocando com sua prótese fantástica que deslocava-se dentro de seu buraco negro-chupado que era sua horrível boca - E ACHO QUE RETOMEI A PARADA, APOSTEM NISSO – e a porta da cela sendo fechada duramente e agora ali os cinco, só de cuecas, menos Ecumênicus porque não usava cuecas, “Tu não usa cuecas, porra?” E haviam manchas de sangue grosso e vivo salpicados ao redor da cela porque na verdade haviam arrancado as unhas de um moleque e depois o espancaram até a morte para ele nunca mais roubar bicicletas no Vieira Alves – e quem nos contou isso com frieza foi o Betânia que leu em um jornal semana passada e eu estou vendo mesmo marcas de sangue nesta cela E as marcas ainda estão grossas e vivas e há algumas manchas salpicadas ao redor do boi - este infeliz deve ter passado uns maus bocados aqui dentro antes de morrer, eu reflitoe “porra, quem peidou, caralho? Tudo isso é medo? Eu vou é cagar nesse boi!” Nos diz o Boca à revelia e “por favor vamos ao menos respeitar  o cara que morreu aqui dentro espancado e suas unhas foram arrancadas” - Tento lhes dizer de alguma maneira enquanto olho o boi que me causa um tédio espetacular e ficamos ali, mais ou menos – deixem-me ver  RETICÊNCIAS umas duas horas olhando um para o outro  e o boi como se fosse uma piada de muito mal gosto tanto que o carcereiro reapareceu outra vez acompanhado de uma outra delegada de estatura baixa, cabelos curtos  e fisionomia carrancuda e ela caminha até nós  taludinha trazendo um dos exemplares da revista na mão e pelamor o que nos espera agora quando ela nos diz, “Então são vocês os responsáveis por essa revista?”
              1. Enfiar vibradores no cu de lésbicas?
              2. Queimar igrejas?                  
             3. Enrabar juízes?
             Mas que porra é essa? Quem escreveu esse troço? Quem é o Maizena de vocês?
O que na terra vocês estão tentando fazer?

GAROTO: <Mas é apenas um texto, senhora!>
DELEGADA: <Calado, seu negro! Mas três horas pra esses vândalos aí na cela! E Coloca aí, mas três acusações: Incitação ao álcool, literatura obscena e desacato a autoridade!>
E pois bem, lá se vai ela com o carcereiro logo atrás manipulando a porra de sua dentadura e voltamos todos a sentar e você aí do outro lado desse monitor respire fundo e não desista nunca, é que a delegadazinha tinha encontrado todos aqueles dizeres no Cachaça Estragada que um dos nossos amigos, o próprio Maizena havia escrito pra revista e eu dei um jeito de publicar fazendo com que no inferno das palavras elas criassem por si só uma sonoridade balística sem machucar ou serem machucadas, tipo, que atropelassem sem ferir o próximo, saca? (eu e o meu pântano de delicadezas e o respeito ao próximo) só que ela foi abrir logo naquela página logo naquela página logo naquela página ABSURDA que ninguém compreende a poética do Maisena e seu  dilúvio de palavras jorrando como em rebelião como só agora experimento – E por onde anda o Maizena mesmo eu me pergunto agora, e sabe, sentado aqui agora ouvindovou acidentalmente Morris Albert, e estou curtindo pacas minha temporada doce neste inferno que criei para mim ao lado de minha esposa e do meu cachorro – uma espécie de trégua que faço com os meus pequenos demônios estrategistas e a alma de um escritor é pura e cheia de revelações interiores num plano mui específico e sonoro – portanto vou comprar saltitante mais cervejas e fazer amizade com o taberneiro da esquina para ver se ele me fia mais algumas dessas garrafas gigantes, mas bêbado é bêbado, portanto, vou logo adiantando o que o taberneiro me disse:
TABERNEIRO: “O senhor me deve ainda dois cascos, seu Mário?”
MÁRIO: “DOIS CASCOS? COMO ASSIM DEVO DOIS CASCOS?
- somos mesmo possuídos de algum modo pelas palavras e pronto! - CEBOLAS IÔNICAS – Daqui eu controlo o cão e ele me controla, algo do tipo telepático mesmo a relação do homem com o seu cão – aprendo observando a alma do Horácio e os cães, assim como os gatos, são correspondentes de Deus aqui na terra – e é tão bom quando escrevo imerso em oceanos de lágrimas que outro dia ah, deixa pra lá, você vai achar que estou ficando louco ou que estou enrolando você, mas naquela noite quando abri as janelas do quarto e me deparei com aquele enorme e belo pavão no quintal de casa eu me ajoelhei e chorei, e tudo se inicia com a visita esperada do Mosca que me trouxe algumas mudas de maconha para plantar em meu quintal e depois de fumarmos unzinho na varanda de casa ele me alertou: “vai devagar que isso provoca visões, e nunca, nunca, velho, nunca idolatres o que tu vês,” - cara louco o Mosca, e foi nessa madrugada que ainda chapado, acordei com os latidos estranhos do Horácio e fui abrir a janela do quarto e então eu vi um lindo e enorme  pavão de asas bem abertas e coloridas e eu me ajoelhei e me debulhei em lágrimas e depois fui acordar Selminha para lhe falar sobre o pavão, mas ela só rolou para um lado da cama e me falou com indiferença que lá no interior onde morava, ela criava uns pavõezinhos que não vingaram e voltou a dormir e o pavão esse tempo todo escutando do quintal, parado, imponente e todas essas incontáveis manifestações de nossa mente-pulsante e os meus camaradas de cela percebem que estive muito longe perdido em pensamentos, por isso um deles reclama:  
GAROTO:  <Porra, ela me chamou de negro!>
BOCA: <E daí?>
GAROTO: <Eu sou branco, caralho!>
BETÂNIA OLHANDO MUITO PREOCUPADO PARA ECUMÊNICUS: <Como a gente vai sair daqui?> Ora, como se o próprio Ecumênicus tivesse uma resposta.
ECUMÊNICUS: <Essa delegada é doida!>
 MÁRIO:  <Tu não conhece nenhum advogado do partido?>
ECUMÊNICUS: <Só se for o Sabazinho.>
BOCA: <O  caralho que for, não quero passar o dia inteiro aqui não, sem o meu violão por perto.>
(ECUMÊNICUS CHACOALHANDO A CELA E CHAMANDO PELO CARCEREIRO)
CARCEREIRO: Qual que é agora?
ECUMÊNICUS:  <A gente quer telefonar pro nosso advogado!>
CARCEREIRO: <Dá não mermão! Esperem o delegado chegar pra ouvir vocês. Não posso liberar não!> 
ECUMÊNICUS: <Mas temos o direito de um telefonema!>
CARCEREIRO: <Aqui é pianinho, senão ferra de vez pra vocês!>
- E lá se vai ele mascando outra vez aquela sua prótese imunda e voltamos pro fundo da nossa cela e do nosso tédio com o desespero começando a aumentar – E nos desligamos desta cena agora e nos transportemos a uma outra cena em que estamos todos em pé, parados  e com fome na presença do novo plantonista e e então começam para valer as sessões de tortura, tipo, uma espécie de tortura psicológica e eu vou lhes dizer que o nosso algoz é mais ou menos jovem, cabelos compridos e presos para trás, um tipo de plantonista bem moderninho que pareceu ter saído das páginas noir de Raymond Chandler <vão transformar isto em assassinato se esse aí morrer, entendeu?> Um cara mais ou menos jovial, cabelos compridos e presos que brilhavam e ele parecia dialogável e a nossa revista estava aberta (não sei em que página sobre a mesa dele> e portanto, assim que entramos em sua sala  ele parou de lê-la e olhou sério para nós:
DELEGADO: Olha, eu sei bem como são as coisas - Eu passei por essa febre quando eu tinha a idade de vocês - Eu também fui poeta - Achava que podia mudar o mundo, as pessoas - Me metia em passeatas, em greves - Fui do sindicato – Só que aí um dia a fome aperta, saca, e ai a gente entende que não dá pra viver a vida toda de poesia e de papo pro ar, tentando mudar o mundo! Tomei vergonha na cara e fui arranjar um trabalho - Fiz um concurso, passei pra direito, casei e hoje sou o que sou – Então eu lhes digo que esse papo de ideologia não cola - Foi bom nos anos sessenta, mas toda aquela revolução foi utopia - Muita gente se ferrou - Mudou alguma coisa? O que vocês pretendem alcançar afinal?>
ECUMÊNICUS: <A gente só queria dar um telefonema para o nosso advogado, doutor.>
DELEGADO: <Ah, um advogado! (UM CLOSE NO DELEGADO COÇANDO A BARBA QUE BRILHAVA) Vocês são todos universitários?>
ECUMÊNICUS: <Sim, somos!>
DELEGADO: <Mas poderiam estar fazendo outra coisa, gente. Querem um café?>
BOCA: <Com um pãozinho na manteiga, se não for pedir muito, doutor, é que a gente tá brocado!> 
O Delegado levantou-se um instante e a sala ficou vazia e a gente mesmo não acreditava que pudesse estar vivendo uma cena típica de realismo fantástico que provocaria RISINHOS em Kafka - E como se não bastasse havia aquele enorme óleo sobre tela de muito mau gosto dependurado na parede bem logo atrás das costas do delegado moralista (E QUEM PODERIA TER SIDO ESSE FILHA DA PUTA QUE PINTOU UM QUADRO DESSES DE MUITO MAU GOSTO> Um quadro enorme e horrível retratando a paisagem amazônica e Ecumênicus se aproxima dele agora e o arranca dali, virando-o de cabeça para baixo, “E o que esse cara está fazendo, porra? Ele quer complicar ainda mais a nossa situação?” Nos pergunta o Betânia.
ECUMÊNICUS: <Ele nem vai notar, esse filha da puta!>
BETÂNIA: <Faz isso não, porra, pode comprometer a gente! Fala pra ele não fazer isso, Mário, pelo amor de Deus!>
MARIO: <Deixa o cara! Ficou até melhor assim.>
E de fato ficara - Uma Amazônia de cabeça pra baixo....