CARALHO, EU NUNCA VI ISSO!
Era
uma tarde de muito calor. Asfixiante mesmo. Subimos as escadas de um stripper que ficava nos altos de um
casarão antigo no centro de Manaus. Chamava-se Delirium Drinks. Lugar pequeno e
abafado, mergulhado numa penumbra vermelha. Ventiladores trabalhavam
emburrados. Um cheiro de cêcê, sebo de pica, urina e suor. Mas foi o que
conseguimos de melhor uma hora daquelas. E o anão parecia não ligar muito para
todo aquele fedor escroto. Sentados nos fundos, próximos a um extintor
desempregado, meu amiguinho tinha os olhos atentos e cheios de libidinagem.
Reparava em tudo a sua volta. Uma puta nos serviu a cerveja. Era baixinha e
tinha os peitões pulados pra fora do vestido sem alça. O anão não tirava os
olhos deles. As pessoas olhavam para nós. Logo nos tornaríamos a atração do
lugar. Depois de um tempo ali não sentíamos mais o fedor. Éramos parte da mesma
merda. A puta que nos servira a cerveja subiu no pequeno tablado e iniciou o
seu número. Relaxei. Ah, como eu adorava àquelas tardes quentes e solitárias
daqueles prostíbulos fedidos nos arredores do cais. Se pudesse, ficaria ali
sentado para sempre, só bebendo. Sem esperar absolutamente nada da vida. Ela
podia seguir sem mim. Tanto fazia. Eu tinha agora o anão. E ele já havia nesse
instante puxado o seu pau pra fora e iniciado uma punheta alucinante: flap flap
flap – eu ouvia fortemente aquele barulho. Eram como pisadas secas de sandálias
num chão duro. Inútil tentar impedi-lo. Um cara se aproximou pra olhar. Depois
um outro. Vários. O anão continuou se masturbando com fúria. Indiferente.
Ninguém ligava mais para a dançarina. Ela mesma parou de dançar para olhar. O
anão estava cercado de curiosos. “Ele vai gozar! Ele vai gozar!” Alguém gritou.
A platéia afastou-se e o jato dourado jorrou longe e potente atingido o tablado
onde se encontrava a puta. A gala espessa acertou-lhe em cheio o ventre. O
impacto arremessou-lhe ao chão. “Caralho, eu nunca vi isso!” Alguém falou. Veio
uma cerveja pra mesa. Depois outra. Horrores. Veio cigarros também. E é claro,
a dançarina atingida, acompanhada de um sujeito alto e gordo; muitos cordões no
pescoço, cara de traficante.
“Foi
ele, seu Tapajós! Apontou para o anão. Da Cruz pediu desculpas, envergonhado.
Disse que era algo que ele não podia controlar. A puta mascava chicletes
enfurecida:
“Relaxa,
Bombom! Dá um trato no anão e deixa o resto comigo.” Disse o sujeito gordo dos cordões para a
garota. Era o dono da espelunca. Imaginei rolando as escadas com o anão. Mas o
sujeito sentou na nossa mesa. Bombom pegou na mão do anão e o conduziu para um
dos quartos que ficava nos fundos.
“O
papo agora é reto, camarada!” Disse ele arredando sua cadeira para mais junto
de mim. Senti dessa vez um cheiro de queijo rançoso. Acendi um cigarro. Uma
puta no canto assoava o nariz. Era negrinha e tinha o olhar triste e doce de
quem acabara de sair de uma senzala.
“Pois
diga!”
“O anão é parente seu?”
“Apenas amigos!”
“Ele ejaculou em uma das minhas meninas.”
“O senhor me desculpa!”
“Como ele faz isso?”
“Não sei. Simplesmente sai!”
“Mas a esta distancia? Já pensou em ganhar dinheiro com ele?”
O cara havia pensado minha ideia. Não soube responder.
“Acha que ele pode esporrar mais longe?”
“Melhor não forçar.”
“Quero ver ele esporrar!” Pareceu uma ordem. Não demorou nem dez minutos, Bombom trazia de volta o anão pelas mãos.
“O que houve?” Quis saber o sujeito dos cordões.
“O anão broxou, patrão!”
“Porra, Da Cruz!” Eu disse. Em resposta, a criaturinha encolheu os ombros.
“Vá, vá, vá, que é isso, o cara também não é nenhum super homem. Senta aí, Da Cruz, e pede alguma coisa pra beber.” Disse Tapajós tentando atenuar a situação. Voltamos a negociar.
“Acha que o anão consegue esporrar outra vez?” Virei para o anão:
“Consegues, Da Cruz?” Da Cruz fez que sim, balançando animadinho a cabeça.
“Quede a Cristal?” Perguntou Tapajós para Bombom.
“No quarto, com Jesus!”
“Este não desiste. Vai tu mesmo!”
“Porra, seu Tapajós, virei tiro ao alvo de anão agora, foi?”
“Não reclama, caralho. Põe um sorriso nesse rosto duro e vai trabalhar.”
Bombom caminhou contrariada para o tablado. Bombom era baixa e atarracada. Bundinha empinada. Estilo patinha. Um belo produto de Codajás. Subiu no tablado. Tapajós pediu pro DJ anunciar que o anão ia esporrar. Os bebuns se ajeitaram para ver. Um bando de punheteiros derrotados. Bombom iniciou sua dança erótica ao som de um bate estaca. O anão puxou o pau pra fora outra vez:
“Diz pra ele não ter pressa.” Recomendou seu Tapajós.
“Sem pressa, Da Cruz.” Mas ele já estava batendo. O mesmo ritmo. A mesma intensidade. As maõszinhas do anão trabalhavam ao ritmo da música. Tapajós aproveitou e pegou um cigarro meu. Bombom mexia-se no tablado. O anão punhetava-se. Mais e mais. “Bizonho, Bizonhudo, Bizonhão. Filhodumaégua!” O anão murmurava. Consegui ouvir o que ele dizia dessa vez. Eram só bobagens. Delirava. Parecia possuído por uma força sobrenatural. Seu rosto havia se transformado. Uma feição horrenda. Demoníaca. Como se fosse ejacular toda sua fúria sobre o mundo. Tapajós não tirava os olhos do pau do anão. Estava preocupado.
“Diz pra ele ir mais devagar, porra!” Já havia um cerco de curiosos em sua volta. Bombom mandava ver no palco. Ninguém ligava pra ela. Entramos em transe todos nós.
“Diz
pra ele ir devagar! Pra ir devagar!” Falava Tapajós, apertando-me os pulsos.
Mas o anão não dava ouvidos. Acelerava mais e mais. Dizia aquelas bobagens
novamente: Bizonho! Bizonhudo! Bizonhão!
Filhadumaégua” Bombom girava em volta do ferro. Sozinha. Largada. Vendo ela
ali, desamparada – abraçada ao ferro – meu pau logo endureceu. Um globo pobre
girava. A negrinha veio ver. Riu do anão, levando a mãozinha à boca. Assoou o
nariz. Imaginei ganhando muito dinheiro com o anão. Gozando do bom e do melhor
que o dinheiro pode proporcionar à um mortal. Não me preocuparia mais em ir
atrás de empregos. Me humilhar para um bando de filhas das putas que só
exploram. O anão era minha galinha dos ovos de ouro. Milha “Ilha do Tesouro”,
do Stevenson. Pensava nessas coisas. Enquanto ele punhetava-se, eu sonhava. Um
dos bebuns aproveitou para bater uma punheta também. Encostada ao ferro, Bombom
arregaçou a xota. Achei que estivesse simulando uma siririca. Mas ela levava à
sério a brincadeira. Seus dedinhos estavam realmente enfiados em sua buceta.
Aproveitei para bater uma punheta vendo Bombom bater siririca. Olhei e vi um
cara de joelhos chupando o pau do DJ. Alguém avançou na negrinha. Putaria
geral. O anão inspirava à todos. Até seu Tapajós resolveu bater uma. Pediu pro
anão enfiar o dedo no seu cu. Começou bater uma com o dedo do anão enfiado no
seu cu. Tremenda putaria. Eu mandava ver na punheta. Bombom na siririca. Os
caras revezando na negrinha. Gemidos. Suruba coletiva. É, foi. E você não
acredita, né, leitor? Nem peço-lhe que acredite. Paciência. Mas eu estava lá e
vi tudo. Juro que vi! O anão tinha os olhos revirados. Pedia passagem com as
mãos. Iria ejacular. Mirou bem o pau: UM-DOIS-TRÊS E POW!!, lançou bem longe o
jato dourado que passou zunindo em nossos ouvidos. Não fosse Bombom abaixar-se
há tempo, o jato dessa vez lhe acertaria em cheio a cara. Olhei. Um a um todos
foram esporrando. Nunca vi tanta gala saindo de uma vez só. Tanta meladeira
junta. A punheta de suas vidas. Fui o último a esporrar olhando Bombom batendo
siririca. Ela também gozou esfregando-se no ferro. Não vi a negrinha. Depois
daquele transe, todos se olhavam desconfiados. Mas, felizes. Conversavam agora
uns com os outros em perfeita comunhão. Tapajós fumava um cigarro pra disfarçar.
Tudo foi voltando ao normal. O DJ desencavou o Conga La Conga da Gretchen e
todos puseram-se a dançar animados. Tapajós e eu voltamos a negociar. Três
ejaculações do anão por dia, R$50,00 por cada esporro, pra começar. Cento e
cinqüenta vezes seis daria por semana... 900,00. O que me renderia no mês, R$
3.600. Eis aí todo o sentido da contabilidade. Um salário que nunca sonhei em
ganhar em toda minha vida de cachorro fodido e explorado nessa terra. Fechamos
negócio. O anão não se importou. Parecia natural para ele. O problema viria
mais tarde, como os senhores verão. Mas, calma! Vieram mais cervejas pra mesa.
Horrores. Da Cruz e eu deixamos o Delirium, cambaleantes.
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