quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O ANÃO DO AÇOUGUE - PARTE II



 DAGMAR

Descemos as escadas daquele motel e paramos na porta. Olhamos a rua. Antes de se despedir, ela mordeu os lábios e me olhou com certa candura:
“Pode me arranjar mais dez, que é, pra, sabe, comprar o meu remédio? Estou sem remédio em casa, é por isso que tenho tido esses ataques.” Dei-lhe mais dez reais. Apertou meu queixo e tomou seu rumo. Vi aquele enorme bundão se afastando e aquela sensação escrota que tinha sido engabelado. Atravessei a ruazinha e entrei no Holandas. Pedi uma cerveja, é claro. Fiquei ali no balcão tomando minha cerveja. Alguém tocava em um órgão um bolero podre e rastejante.
“Porra! Sessenta paus! Me custou caro essa puta!” Pensei alto. Tomei uma golada. Naquele momento eu ainda não havia percebido uns carinhas que riam de mim no balcão. Balcão de bar é lugar de respeito. Me aproximei deles:

“Sei lá, mas tenho a impressão que estão rindo de mim.”

Os caras se olharam. Um deles disse:

“É que vimos o senhor saindo do Nacondas com a Dagmar.”

“Sim, e daí?”

”Daí que o senhor provavelmente foi mais um que caiu no golpe dela.”

"Que golpe?”

“O mesmo que a maioria sempre cai.” Disse o outro. Pensei no ataque epilético.

 “A dona é doente, porra!”

“Conversa! A gente conhece aquela puta. Doente coisa nenhuma. Vigária, isso sim.” Falou este outro. É, os caras tinham razão. Todo aquele papo de epilepsia. A dona havia me engabelado mesmo. Tão boa atriz aquela filha da puta era. E aqueles dois ali. Só mais tarde é que vim descobrir que os caras ficavam ali o dia inteiro, sentados no balcão do Holandas contando o número de otários que caiam na lábia da puta. Eu era mais um. A vida tem dessas coisas. Não, não! A vida não tem dessas coisas. Eu é que fui um otário mesmo. Fingi um, ah, foda-se! Sequei a garrafa e pedi outra.
Mas e o anão, afinal de contas? Calma, senhores, chegaremos nele já, já! Antes, devo lhes falar de minha separação.

       

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