DAGMAR
Descemos
as escadas daquele motel e paramos na porta. Olhamos a rua. Antes de se
despedir, ela mordeu os lábios e me olhou com certa candura:
“Pode me arranjar mais dez, que é, pra, sabe, comprar o meu remédio? Estou sem remédio
em casa, é por isso que tenho tido esses ataques.” Dei-lhe mais dez reais.
Apertou meu queixo e tomou seu rumo. Vi aquele enorme bundão se afastando e
aquela sensação escrota que tinha sido engabelado. Atravessei a ruazinha e
entrei no Holandas. Pedi uma cerveja, é claro. Fiquei ali no balcão tomando
minha cerveja. Alguém tocava em um órgão um bolero podre e rastejante.
“Porra!
Sessenta paus! Me custou caro essa puta!” Pensei alto. Tomei uma golada. Naquele
momento eu ainda não havia percebido uns carinhas que riam de mim no balcão.
Balcão de bar é lugar de respeito. Me aproximei deles:
“Sei lá, mas tenho a impressão que estão rindo
de mim.”
Os
caras se olharam. Um deles disse:
“É
que vimos o senhor saindo do Nacondas com a Dagmar.”
“Sim,
e daí?”
”Daí
que o senhor provavelmente foi mais um que caiu no golpe dela.”
"Que
golpe?”
“O
mesmo que a maioria sempre cai.” Disse o outro. Pensei no ataque epilético.
“A dona é doente, porra!”
“Conversa!
A gente conhece aquela puta. Doente coisa nenhuma. Vigária, isso sim.” Falou
este outro. É, os caras tinham razão. Todo aquele papo de epilepsia. A dona
havia me engabelado mesmo. Tão boa atriz aquela filha da puta era. E aqueles
dois ali. Só mais tarde é que vim descobrir que os caras ficavam ali o dia inteiro,
sentados no balcão do Holandas contando o número de otários que caiam na lábia
da puta. Eu era mais um. A vida tem dessas coisas. Não, não! A vida não tem
dessas coisas. Eu é que fui um otário mesmo. Fingi um, ah, foda-se! Sequei a garrafa e pedi outra.
Mas
e o anão, afinal de contas? Calma, senhores, chegaremos nele já, já! Antes,
devo lhes falar de minha separação.
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