A SOLIDÁO É UMA PEDRA TUMULAR.
Era
uma manhã mais ou menos como esta: cinza e soluçante. Eu me recuperava mais ou
menos da perda. Entrei naquele açougue para comprar carne. Um anão saiu dos fundos
e veio me atender. Tomei um susto. Nunca tinha visto aquela criaturinha antes.
Conversando com ele, me disse que já estava ali há anos, eu é que nunca havia
reparado nele.
“Como
pode isso ter acontecido, não é mesmo meu camaradinha?” Brinquei. O anão que se
chamava Da Cruz, fez um gesto amigável do tipo, Ah, deixa pra lá. Fui para casa pensando no anão. Seu aventalzinho
sujo de sangue. Os olhos tristes e baixos de um cãozinho desamparado atestavam
cuidados paternos. O anão preencheria o meu vazio. No dia seguinte, voltei lá
para conversar um pouco mais com o anão:
“Escuta,
meu camaradinha, cê gosta do que faz aqui?” O anão me olhou assim e disse:
“Pra
ser sincero, meu patrão, não gosto, não. Ganho mal e já não posso mais pagar o
aluguel.”
“Quê
cê sabe fazer?”
“Sei cozinhar e muito bem.”
“Quer
vir morar comigo?” Os olhinhos do anão brilharam. Aquilo quis dizer um sim.
Levei o anão para morar comigo. Não sei viver sozinho. A solidão é uma pedra
tumular...
V – O ANÃO
Era
estranho ter um anão em casa. Mas Da Cruz estava me saindo melhor que a
encomenda: lavava, passava, cozinhava. Passou a cuidar das minhas unhas também.
Pés e mãos. Coisa que Selminha já não fazia mais. Quando a mulher se descuida
das unhas do marido, é porque sua devoção por ele acabou. A devoção de Selminha
por mim tinha acabado há muito tempo. Eu é que ainda não havia sacado isso ou
não queria ver. Mas voltamos ao anão. Ele e eu ficamos amigos. Como se fossemos
marido e mulher de verdade bem no início de uma relação. Nos fins de semana
– para compensar todo o seu empenho doméstico – eu o levava para passear no
cais. Mostrava-lhes os navios como fazia meu finado pai. Numa ocasião,
expliquei a ele:
“Meu
pai trazia-me sempre aqui para olhar os navios. Mas eu não sou seu pai, entendeu?”
Ele apenas ria, divertindo-se com os mergulhões. Depois íamos bebericar pelos
botecos adjacentes da orla. As pessoas olhavam para nós dois. Era divertido. Os
amigos de copo diziam:
“Mário
Augusto enlouqueceu! Deixou Selminha para viver com um anão.” Mas eu não ligava
muito pra isso, não. Havia retomado
minha ordem cerebral. Um sopro novo de vida, o anão me trouxe. Lia para ele os
meus contos. Velhos e novos. Tinha agora com quem compartilhar as minhas
estórias malucas. Selminha não tinha mais paciência de ouvir minhas estórias.
Achava-as absurdas demais. Dizia que eu não tinha visão romântica. Acho que
nunca tive mesmo. Mas o anão gostava do que eu escrevia. Ouvia minhas estórias
com atenção enquanto batia as roupas no tanque. Aqui ou ali, um palpite.
Experimentava uma felicidade momentânea ao lado daquela criaturinha que vi de
repente, surgir. Sim, surgir. Da Cruz era uma prova empírica daquilo que sempre
acreditei: anões não nascem. Surgem.
Depois
que a grana do Inseguro-Desemprego acabou, a coisa ficou preta de verdade.
Avisos de cortes na água, luz, telefone... Precisava arranjar um trampo
qualquer. Já estava ficando desesperado quando – certa noite, ao regressar para
casa – dei com uma cena estranha e engraçada: o anão masturbava-se freneticamente
no sofá da sala, assistindo a um dos meus filmes pornôs. Ele não tinha dado por
mim ainda e seguia curvo com a punheta. O rosto transformado. Falava um dialeto
estranho enquanto punhetava-se. Segurei a risada. Não queria atrapalhar. Então
o vi soltar um urro e em seguida ejacular a um raio de uns três metros mais ou
menos – que era a distância exata que separava o sofá da televisão. O sêmen
atingiu em cheio o aparelho, cobrindo-lhe toda a tela. Fiquei olhando para
aquilo aterrorizado, sem acreditar. O sêmen era dourado e escorria grosso e
pegajoso pela tela da TV. O piso da sala
recebia os pingos grossos que caiam em camaralenta, provocando um som oco e assustador. O homúnculo era sem dúvida o cara que mais ejaculava no mundo. Cogitei. Não me ocorrera de imediato o plano que eu viria desenvolver mais tarde. O que senti naquele momento foi pena do anão. Muita gala retida. Um tonel. Pensei em levá-lo a um stripper para ele aliviar a tensão.
recebia os pingos grossos que caiam em camaralenta, provocando um som oco e assustador. O homúnculo era sem dúvida o cara que mais ejaculava no mundo. Cogitei. Não me ocorrera de imediato o plano que eu viria desenvolver mais tarde. O que senti naquele momento foi pena do anão. Muita gala retida. Um tonel. Pensei em levá-lo a um stripper para ele aliviar a tensão.
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