quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O LAMBEDOR DE BUCETAS

PARTE VI

JEAN E SIMONE

Creio que Simone àquela altura de seu relacionamento com Jean já estivesse bastante enfastiada com as incansáveis linguadas dele em sua buceta sempre quando soava o seu sedutor apelo  para que ela vestisse a conserlete vermelha a combinar  com os espartilhos da mesma cor e assim prostrar-se de saltos altos na pia da cozinha no árduo e doce exercício de cortar as cebolas naquele pequeno, porém, elegante apartamento de apenas um cômodo  na Quartier Latin, onde Jean vivia sozinho. Penso assim, porque Simone naquela tarde especial de maio agora observava Jean enrolado em seu robe cor de vinho, fumando tranquilamente o seu cachimbo da sacada daquele apartamento acolchegante, tão compenetrado que ele estava ao apreciar a multidão de jovens lá embaixo ganhando as ruas e avenidas da Champs ElIsées lutando pela liberdade dos valores e pelo fim da opressão politica na Argélia.  Eram tempos conturbados e de mudanças aqueles...
É evidente que Simone tinha projetos novos na cabeça e reorganizava seus pensamentos feministas acerca de toda aquela sua relação com Jean, enquanto ouviam Sargent Peppers(é bom que se diga) junto ao balbúrdio das ruas, de maneira que nesta mesma tarde ela decidiu mudar de conduta sexual, propondo a ele que os papéis fossem invertidos:

Como assim, querida?
Que talvez eu devesse experimentar um pouco dessa sensação prazerosa que tu sentes ao penetrar rasteiramente a tua lingua em minha buceta.

Foi o que ela exatamente disse nesta tarde acinzentada de maio reforçando as chamas de sua piteira.  E prosseguiu:

Que devessemos compartilhar os mesmos sentimentos, acaso não é isso que pregamos sempre? A liberdade dos prazeres e os direitos iguais?

Jean deixou a sacada um instante e aproximou-se dela com seu cachimbo de aroma indiscutível para inspecionar melhor aquela sua proposta estranhamente indecorosa:

Está dizendo que estás enfastiada com as minhas linguadas?

Estou dizendo que me sinto no direito também de compartilhar do mesmo prazer.

O homenzinho enrolado em seu robe, fumando ainda elegantemente o seu cachimbo, pensou um pouco antes de dizer:

É justo...mas não sei se conseguiria levar uma linguada no cu, querida, se é isto exatamente o que está propondo.

BINGO!

Simone, é claro, para melhor tranquilizar o seu parceiro sorriu docemente, acariciando o pescoço dele que era gordo e pequeno. Uma leve fumaça aromante que vinha do cachimbo de Jean e da piteira de Simone, logo acoplaram-se copulando como dois espectros amantes a fundir-se em uma só fumaça espessa, cujo gozo resultou em uma espiral de luminosidade de tons coloridos e ofuscantes...E Jean sorriu desconsertado como a um menino que leva caçuletas dos mais grandes ao ouví-la dizer:

Uma linguada no cu, querido, não vai demover de sua órbita machista o seu prestígio de filósofo junto aquelas jovenzinhas existencialistas de cabecinhas vazias...

O que você na verdade quer me dizer, Simone? Não foi este Bourbon praguense que lhe deixou com estes pensamentos desvairados, foi?

Você me conhece a vinte anos, Jean. Chega de interpretações aos olhos dos outros.

Tens razão, contudo, se eu permitir, você não vai registrar tudo isto em seu novo livro, pois não?

Prometo. Será este o nosso segredinho...

E assim sucedeu que Jean permitisse à Simone que ela colocasse em voga o seu projeto.
                                                                  MALDITOS POMBOS!

Devo aclararvos, portanto, que o nosso homenzinho era pouco desfavorecido pelos paramentos da beleza que valem a um indivíduo de nosso gênero, vulgarmente o título de "belo homem", pois que Jean era um sujeito baixo, meio gordo, olhos míopes e redondamente claros os quais refugiavam-se cinicamente por trás de suas lentes grossas que usava, entretanto, o que o desfavorecia desse lado de feiura, a natureza compensava-lhe do outro, sendo Jean dotado de um intelecto espantoso e de ideias brilhantemente revolucionárias capaz de mudar o curso das vidas que o cercavam, mergulhando-as na fumaça de seu laborioso cachimbo de ideias. Simone, por sua vez, era de uma beleza fina e delicada como o próprio nome preconizava. Uma mulher de extrema elegância ao cruzar das pernas torneadas (devo dizer-lhes) olhos bonitos e penetrantes como bisturis cirúrgicos - menos adornos do que pretensão - eu diria -  mas de um caráter exigente e imperioso. Somado a isso, ainda havia também o brilhantismo intelectual e ousado, aliado ao fervor das ideias feministas  que viriam mais tarde protagonizar a liberdade sexual das mulheres. Era muito comum ver o casal desfilando suas ideias pelos Cafés badalados e elegantes da St.Honoré, ou da própria Champs Elisées, sempre cercados de existencialistas ou de jovenzinhas feministas de plantão que ouviam envaidecidamente o casal discorrer sobre a dissemetria sexual, Leibniz e política - e sobretudo, a crença sobre a condição absoluta do amor fincado nos alicerces da liberdade sexual... E as fumaças cobriam todo o Café ao som do trompete alegre  de Joe Williams que se vocês apurarem bem os seus ouvidos, o ouvirão tocar bem lá no fundo de suas almas embriagadas de paixão...

                                               
                                                    desenho: Jean Lumet


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